O Dia Internacional da Lembrança do Holocausto é celebrado esta quarta-feira, dia 27 de janeiro. A data é assinalada no dia de aniversário da libertação do Campo de Concentração e Extermínio Nazi de Auschwitz-Birkenau. Este dia é marcado para relembrar as vítimas do Holocausto e também para manter ativa a ideia de que devemos combater o antissemitismo, racismo e todas as formas de intolerância. Deste modo, o ComUM propõe um conjunto de produções literárias e cinematográficas a fim de conseguirmos ponderar e sentir tal acontecimento marcante na história da humanidade.
Cinema
The Windermere Children (2020) – O filme retrata a vida de um grupo de crianças sobreviventes de Auschwitz e Belsen, acolhidas pelo governo britânico e levadas para Windermere. A trama, baseada em eventos e pessoas reais, foca-se não na tragédia em si, mas na longa e dolorosa reabilitação das crianças que tentam redescobrir a inocência e a juventude que tão cruelmente lhes foram retiradas. A cinematografia, a música, o enredo, a performance dos atores e os testemunhos dos sobreviventes reais culminam na construção de uma história que representa, acima de tudo, a força inigualável daqueles que viram o pior da humanidade e, ainda assim, não desistiram dela (Título Original: The Windermere Children).
Árvores Vermelhas (2017) – Lançado a 15 de setembro de 2017, o filme de Marina Willer compromete-se a contar a história da sua família. Tal como nos é dado a conhecer no trailer, tanto o seu pai, como o pai do seu pai, foram forçados a deixar a Europa devido às suas origens judaicas. De qualquer das formas, a documentarista deixa claro que esta é a história de tantas outras famílias. No caso, a sua família conseguiu sobreviver à ocupação nazi em Praga e procurou refúgio no Brasil, o seu pai acabou por se tornar num arquiteto influente. Sendo assim, Marina Willer propõe a discussão sobre “como é que o mundo seria se isto não tivesse acontecido” (Título Original: Red Trees).
As Crianças de Paris (2010) – Em 1942, entre a bondade e o desprezo da comunidade de Vichy, as famílias judias continuam a viver em relativa harmonia e felicidade. Porém, numa madrugada, centenas de polícias fazem a maior rusga de sempre em França, levando 13 mil judeus para o recinto desportivo do Velódromo de Inverno, em Paris, onde são, posteriormente, transportados para campos de concentração. O filme é contado do ponto de vista das crianças e por Annette, uma enfermeira protestante da Cruz Vermelha, que está chocada com a prática racista do seu governo. Os seus registos não conseguem deixar o espetador indiferente, com especial destaque para a separação das crianças das suas mães e a cena final, extremamente, emocionante (Título Original: La Rafle).
O Leitor (2009) – Se a maior parte dos filmes sobre o Holocausto se centram em quem morreu às mãos do fascismo, a obra cinematográfica desloca o foco para os que ficaram encarregues de entregar inocentes à morte. Entre amores, leituras e tribunais, o fator-chave do filme assenta na decisão de Michael (David Kross), que deixa que Hanna (Kate Winslet) seja condenada com base numa acusação defeituosa. Do horroroso legado alemão à falta de escrúpulos da raça humana no geral, O Leitor ergue discórdia e tensão desde o primeiro minuto (Título Original: The Reader).
O Rapaz do Pijama às Riscas (2008) – Retrata a história de amizade entre Bruno, filho de um soldado nazi, e Shumel, um menino judeu preso num campo de concentração. A relação inocente e ingénua entre os dois meninos desenrola-se no período em que Shmuel se encontra preso no campo, sem condições algumas. Bruno encontrava-se com ele todos os dias e oferecia-lhe comida, brincavam juntos, falavam durante horas e imaginavam possíveis cenários em que eles pudessem estar juntos. Apesar de cada um ficar do seu lado da vedação, não houve qualquer impedimento para o crescimento de uma amizade genuína. Durante a longa-metragem são vistos cenários terríveis e desumanos, onde são retratados os momentos de desespero e pobreza de um povo que foi torturado, humilhado e sacrificado em prol da crueldade da raça humana. Nesse sentido, a amizade entre os meninos exerce um lindo contraste entre todo o período de horror vivido por um grupo de pessoas consideradas “diferentes” e uma relação bonita e pura entre duas crianças que nada mais tinham a oferecer senão amor uma à outra (Título Original: The Boy in The Striped Pyjamas).
O Pianista (2002) – Baseado numa história verídica, o filme acompanha o percurso de um pianista polaco que viveu no período nazi, Wladyslaw Szpilman. Sendo pertencente a uma família judia, Szpilman, após o ataque nazi a Varsóvia, é obrigado, meses depois, a ir para um gueto com a sua família. Vivem em condições horrendas com milhares de outras pessoas e vêem-se obrigados a dividir até caramelos para poderem sentir o sabor de algo, nem que fosse só para “enganar o estômago”. Como tinha talento foi salvo pela polícia e por isso separou-se da sua família, que apesar dos seus esforços para a salvar, foi enviada para um campo de concentração. A partir daí a longa-metragem retrata as várias tentativas do pianista em encontrar a sua família e o seu dia-a-dia a tentar sobreviver numa época em que a miséria prosperava e havia ataques por todos os lados (Título Original: The Pianist).
Anne Frank: A História da Sua Vida (2001) – O drama biográfico é baseado no Diário de Anne Frank, o diário onde a jovem relata a sua vida, e em relatos de Otto Frank, pai de Anne. Desde a vida antes do Holocausto até à libertação e ao desfecho da vida desta jovem e da sua família, trata-se de um filme muito completo. Foi inclusive transmitido inicialmente como uma minissérie dividida em duas partes, visto que o filme tem uma duração de três horas e dez minutos. Uma emocionante história verídica, com imenso detalhe daquilo que foi a vida de Anne e todos os envolvidos, na luta contra este terrível acontecimento. Um filme capaz de nos transmitir emoções, o medo, a tristeza e a dor (Título Original: Anne Frank: The Whole Story).
A Vida é Bela! (1997) – Um casal de judeus vive uma vida normal, juntamente com o filho Giosué, numa Itália marcada pelo fascismo. Quando a cidade é invadida pelo partido de Hitler, a família é capturada para um campo de concentração, e a história é desenvolvida aí mesmo. O pai do pequeno Giosué faz de tudo para evitar que o filho perceba onde está e a realidade da situação. Ao mesmo tempos tenta mandar sinais à esposa que tanto ele como o filho estão vivos. A comédia dramática distingue-se pela veracidade das imagens e as cores que vão mudando conforme a ação desenvolvida, a banda sonora que ajuda a ter uma melhor perceção dos acontecimentos e obviamente pela incrível prestação dos atores, principalmente de Roberto Benigni (Guido). É um filme histórico para toda a família (Título Original: La Vita è bella).
A Lista de Schindler (1993) – A Lista de Schindler é um drama de guerra que conta a história do alemão Oskar Schindler. Este empresário usava a mão-de-obra barata de judeus para lucrar com os seus negócios, durante a 2ª Guerra Mundial. Neste filme somos confrontados com a realidade dos ghettos onde os judeus estavam forçosamente concentrados. A constante perseguição a este grupo técnico está bastante explícita e deixa-nos com as emoções à flor da pele em certos momentos. A obra cinematográfica não tem filtros pelo que pode ser difícil a visualização por parte de espetadores mais sensíveis (Título Original: Schindler’s List).
A Escolha de Sofia (1982) – O filme de Alan J. Pakula mostra como uma sobrevivente do Holocausto se pode tornar no amor da vida de um escritor, num conto totalmente trágico. Tudo começa nos anos 40, quando Sofia Zawistowski (Meryl Streep), uma emigrante polaca, depois de ter perdido dois filhos nos campos de concentração nazis, vai para Nova Iorque para tentar refazer a sua vida. É aí que conhece Nathan Landau (Kevin Kline), um biólogo judeu cheio de problemas, com quem vai iniciar uma acidentada paixão. Uma trama exorbitante que valeu a Meryl Streep um Óscar e um Globo de Outro de Melhor Atriz, pelo papel interpretado (Título Original: Sophie’s Choice).
Literatura
A Coragem de Cilka (2019) – A obra literária retrata a história de Cilka e os acontecimentos que sucedem após esta sair do campo de concentração. A rapariga não é privilegiada com a liberdade, mas é condenada a trabalhar forçadamente durante 15 anos numa Prisão de Montelupich, em Cracóvia. O livro, de Heather Morris, não aborda a coragem de Cilka de ânimo leve. É uma obra crua, fria e, sobretudo, bem real. O leitor não lê meramente a história de Cilka, acompanha-a lado a lado, sente-a e não consegue ficar indiferente ao sofrimento e à perseverança.
As Gémeas de Auschwitz (2019) – “Miriam e eu tínhamos sido escolhidas. De repente, estávamos sozinhas. Tínhamos apenas dez anos. E nunca mais voltámos a ver nem o nosso pai nem a nossa mãe”. É assim que se inicia a longa viagem de duas gémeas pelos campos de concentração alemães, narrada por uma delas anos mais tarde. No meio de muito medo, perigos e morte, as duas vão precisar de muita fé, sobrevivência, coragem e, sobretudo, do amor que as une, para sobreviver aos horrores do Holocausto (Título Original: Surviving the Angel of Death: The Story of a Mengele Twin in Auschwitz).
O Arquiteto de Paris (2013) – Longe do típico, Charles Belfoure presenteia-nos com uma obra ficcional sobre o holocausto. Como plano de fundo, temos a ocupação nazi de Paris. A premissa centra-se em Lucien, um arquiteto oportunista que aceita construir esconderijos para judeus, apenas pelo lucro que daí advinha. Sendo assim, somos confrontados com uma personagem que é tanto um herói, como um anti-herói. Apesar de corresponder a um drama ou, até mesmo, a um thriller, a verdade é que O Arquiteto de Paris nos permite conhecer o holocausto nos olhos da SS, organização paramilitar nazi, dos judeus e de quem deambulava por entre os dois mundos, completamente paralelos (Título Original: The Paris Architect).
And The World Closed Its Doors: The Story Of One Family Abandoned To The Holocaust (2003) – Na obra literária And The World Closed Its Doors, David Clay Larges conta-nos a história de Max Schohl, um alemão judeu que, durante a Segunda Guerra Mundial, não conseguia encontrar nenhum país que aceitasse a imigração da sua família. Tal como o autor descreve, o J carimbado nos seus passaportes, uma invenção dos suíços para “para facilitar o processo de exclusão”, foi o suficiente para impedir a sua fuga. Podendo ter optado por múltiplas histórias, David Clay Larges escolheu a família Schohl, uma vez que Max era conhecido como um herói da Primeira Guerra Mundial e por ter ajudado famílias durante o colapso de Weimar. Contudo, quando ele precisava de ajuda, todos os amparos lhe foram negados.
Se Isto é um Homem (1947) – A obra de memórias biográficas retrata a experiência do autor, um jovem químico membro da resistências. Em 1943, após ser apanhado pelas forças alemãs por confessar a sua ascendência judaica, vai para Auschwitz. A obra de Primo Levi, considerada um clássico da literatura, no meio de tantos livros sobre os horrores da Segunda Guerra Mundial, consegue destacar-se pela sua objetividade e exímia descrição dos limites da humanidade.
Artigo por: Ana Margarida Alves, Bruna Sousa, Carina Fernandes, Diana Carvalho, Emanuel Brandão, Francisca Graça, Joana Dantas, Lara Duarte, Leonor Alhinho, Maria Francisco Pereira e Marlene Gonçalves