Apenas cinco meses após o lançamento de Folklore, a cantora norte americana Taylor Swift volta a surpreender os fãs com o anúncio relâmpago de um novo projeto musical. Evermore foi lançado a 11 de dezembro de 2020 e apresenta-se como um “disco irmão” do álbum anterior.

No que toca à divulgação de novos projetos diz respeito, Taylor Swift já provou, por diversas vezes, ser adepta de surpresas. Seja através de pequenas pistas visuais que vão sendo incluídas nos videoclipes ou de posts nas redes sociais, a verdade é que a artista sempre gostou de apanhar os fãs desprevenidos. E Evermore não foi a exceção, tendo sido anunciado através das redes sociais da cantora, a 10 de dezembro, apenas algumas horas antes do lançamento. Na publicação, Taylor explica que “não conseguíamos parar de escrever canções. Parece que estávamos ao lado da floresta folkloriana e tivemos uma escolha: virar costas e voltar atrás ou viajar mais longe nesta floresta musical.” E assim foi.

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Evermore contém um total de 15 faixas, mas a edição Deluxe acrescenta duas composições bónus: “right where you left me” e “it’s time to go”. Para este trabalho, a cantora continuou a compor com a mesma equipa criativa de Folklore, mas com a presença reforçada de Aaron Dessner e colaborações com Bon Iver (com quem já havia trabalhado antes), HAIM e Marcus Mumford (da banda Mumford & Sons). O resultado? Evidencia-se muito mais o som de indie rock em várias melodias, para além de interessantes desvios que transitam entre o estilo folk e o clássico country que marcou o início da carreira da artista.

Cada canção é uma história, um estado de espírito, um desabafo. Liricamente, as composições percorrem diversos modos de melancolia, com temas maioritariamente ligados ao amor. A perspetiva feminina perante casamentos atribulados é uma constante no disco. No tema “tolerate it”, é-nos apresentado o dilema de uma mulher cuja relação se encontra à beira de um precipício, apesar dos esforços para contrariar a situação. Já a faixa “ivy” narra um romance proibido em que uma mulher casada se envolve numa relação extraconjugal. Também “champagne problems”, uma das prediletas dos fãs, se insere nesta temática ao descrever uma proposta de casamento rejeitada.

Outra faixa que se destaca é “gold rush”, quer pela sonoridade angelical, quer pelos versos poéticos que a compõem (“I don’t like that falling feels like flying ‘til the bone crush”). Aliás, todo o álbum respira poesia. A capacidade de Taylor Swift de assumir múltiplas perspetivas para contar as mais variadas histórias resulta num álbum capaz de reproduzir, na mente dos ouvintes, os cenários e circunstâncias que servem de palco a essas mesmas narrativas. Assim, apesar de as composições não variarem muito a nível sonoro, certo é que estamos perante um álbum bastante diverso e interessante no que toca aos temas narrados.

Os romances juvenis que marcam o álbum anterior estão de volta com as canções “dorothea” e “’tis the damn season”. À semelhança do que acontece em Folklore, em que três das faixas representam as perspetivas de cada uma das pessoas envolvidas num triângulo amoroso, também aqui existe uma relação semelhante. “’Tis the damn season” retrata a perspetiva de uma jovem que regressa à cidade de origem, para comemorar o Natal, e lá encontra um amor dos tempos da escola que a faz questionar-se sobre as suas decisões. Já na canção “dorothea”, esse mesmo amor tenta convencê-la a permanecer na dita cidade.

Ainda no registo da melancolia, encontramos “happiness”. O título é, de facto, um tanto enganador, uma vez que a narrativa deste tema se destaca pela angústia e saudade derivadas do fim de uma relação de sete anos. Contudo, existe ainda esperança na felicidade futura, na felicidade pós corações partidos. As notas de piano são delicadas e suaves, proporcionando uma atmosfera pacífica que contraria a carga dramática dos versos.

Vale ainda destacar o single, “willow”, que abre portas para este novo lado da floresta folkloriana. Esta canção saudosa não é de todo a música mais cativante do disco. É, pois, a complexidade da sua letra e toda a fantasia em volta da mesma que a torna numa aposta interessante. Percebemos isso através de versos como “wait for the signal, and I’ll meet you after dark/ show me the places where the others gave you scars” ou “life was a willow and it bent right to your wind”.

Eis que nos afastamos do ambiente romântico para penetrarmos noutro um pouco mais sombrio. Em “no body, no crime”, Taylor conta a história de uma mulher que vinga a morte da amiga, assassinada pelo marido infiel. A narrativa é, de facto, envolvente e misteriosa e a melodia afasta-se um pouco dos restantes temas do disco graças ao toque de sons country (com exceção de “cowboy like me”). A parceria com as irmãs HAIM confere-lhe ainda um certo ritmo viciante.

Não há dúvidas de que Taylor Swift realmente surpreendeu os fãs e os críticos com estes dois últimos projetos musicais, que tanto diferem dos trabalhos anteriores. Se outrora éramos frequentemente bombardeados com composições autobiográficas que retratavam situações da vida pessoal da artista, com Folklore e Evermore deparamo-nos com um autêntico leque de histórias repletas de simbologias, interpretações diversas e narrativas entrelaçadas. Os tempos conturbados que vivemos despertaram, de facto, uma onda de inspiração e criatividade na artista, o que resultou nos álbuns mais maturos e poéticos de toda a sua carreira.