Ana Lomba Correia afirma que o “queixar não chega”. É preciso complementar com alguma ação, em que o primeiro passo é reconhecer o privilégio para que depois possa ser partilhado com os restantes.
O Festival Civitas recebeu, esta quarta-feira, dia 28 de janeiro, o evento “Quem quer ser ativista?”. Foram discutidos temas alusivos não só à desigualdade de género, mas também sobre as alterações climáticas.
O evento, promovido pelo HeForShe UMinho e pela Associação de Estudantes de Direito da UM (AEDUM), realizou-se na plataforma Zoom. Apesar da audiência alcançar quase 50 pessoas, a conversa ocorreu num registo informal.
A moderadora e estudante de Direito, Catarina Lêdo, orientou a sessão através de perguntas específicas sobre o tema em discussão. A primeira questão, correspondente ao título da conversa, foi respondida pela oradora Mourana Monteiro, ativista ambiental e interseccional. A também mestranda em neuropsicologia assume o ativismo como um fenómeno mais social que individual, uma vez que é preciso “trabalhar questões inter e intrapessoais, que são exaustivas”.
Assim, afirma que são precisas três categorias: empatia, conhecimento e compreensão. Com estes pontos, relembra que é preciso que o ativista se coloque no lugar do outro e que “as pessoas só se irão mobilizar, se souberem que existe um problema”.
O seu trabalho resume-se à quebra de desigualdades, independentemente do tipo de causa. Em específico, na luta contra as alterações climáticas, admite que “se não for bom para o ambiente é porque não é bom para as pessoas”. A oradora sublinha que “os direitos da lei foram conquistados na rua” e, confrontada com a pandemia, tem noção que a mobilização física, apesar de mais eficaz, é impossível de realizar. Assim, agradece ao mundo digital por permitir celebrar as datas importantes.
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Ana Lomba Correia, a segunda interveniente, reitera que a política tem influência nos objetivos e, por isso, defende uma “liderança por compaixão, por servir o outro e nunca marcada pelo ego e marca pessoal”. A fundadora do Women2Women Portugal revela frustração no modo “confortável” como o corpo político discute assuntos delicados.
A um nível diário, a ativista contra a desigualdade de género, lembra que qualquer ação conta, seja ela grande ou pequena, como por exemplo, comentar problemáticas poderá sensibilizar a população local. Do mesmo modo, a idade não deve ser vista como uma “qualidade que retire a autoridade ao manifestante”. Contudo, o “queixar não chega” e, por isso, diferencia o comentador de causas do ativista de causas, onde ambos se complementam, porém, o último junta a teoria à prática.
Por último, interveio Ana Paula Cruz, mais conhecida por Lokas. É médica e já participou em diversas missões pelo mundo e, apercebendo-se que ser médica humanitária não chegava, “virou” ativista para reforçar a luta da sociedade na erradicação de todas as formas de opressão. “Temos tendência a validar movimentos que nos atuam diretamente, mas isso não é real nem justo – não precisam de um certificado civil que o oficialize”, afirma a ativista.
A voluntária diz, também, que a separação de ativismos violento e pacífico não existe, pois não cabe aos privilegiados julgar os oprimidos quanto à força de violência que eles usam. Segundo a oradora, a violência “ofende os favorecidos e retira-lhes a paz”. Todavia, lembra que os reprimidos “nunca a tiveram”. Para terminar, Lokas parabeniza a mulher que se revolta e, por extensão, choca a sociedade, uma vez que “destrói a ideia patriarcal de mulher como objeto e como submissa”.