Luís Lobo Fernandes caracteriza a UE como a “mais admirável construção política de cooperação internacional no mundo”.

Decorreu esta quarta-feira, dia 26 de janeiro, o segundo dia do evento Festival Civitas promovido pelo HeForShe UMinho e pela Associação de Estudantes de Direito da UM (AEDUM). Através da plataforma Zoom, o webinar “Identidade Ameaçada: Os Casos na União Europeia” contou com a presença de Luís Lobo Fernandes, Isabel Carvalhais e João Gabriel Ribeiro.

Luís Lobo Fernandes, professor catedrático da Universidade do Minho, toma como base da sua intervenção a afirmação “todos os processos políticos são reversíveis”. Em seguimento desta afirmação, o mesmo declara que aquilo que se considera como garantido, todas as conquistas e aquisições em termos de cidadania, “podem estar em causa”.

Inicia a sua reflexão por caracterizar a UE como a “mais admirável construção política de cooperação internacional no mundo”, deixando bem explícito o seu papel. Este sublinha que a mesma não é uma mera organização internacional, mas é sobretudo “um processo aberto”.

O professor traz também para o centro da reflexão o atual contexto externo político e como o mesmo se traduz num “tempo de incerteza”. Deixa de forma bem clara a sua preocupação em relação ao expansionismo da china, que apresenta um “contrato social bastante diferente do ocidental”. A UE é necessária para “combater fanatismos, populismos e nacionalismos exacerbados”.

Por fim, Luís Lobo Fernandes admite a União Europeia como uma experiência de governação colaborativa internacional. Esta tem como função responder àquilo que os países não conseguem resolver isoladamente, como por exemplo, as ameaças climáticas e a pandemia.

Isabel Carvalhais, eurodeputada e professora, retoma a ideia base de que todos os processos são reversíveis. Refere também que as conquistas da cidadania moderna e todo o projeto europeu são reversíveis, visto que “na base estão opções”. “Tomamos opções devido às circunstâncias que nos rodeiam e de acordo com aquilo que achamos que é a nossa identidade”, alude.

Visto que a sessão se realizou no dia internacional da Lembrança do Holocausto, Isabel Carvalhais usa como exemplo o holocausto para explicar que é a História que cria a identidade de cada um. “Nós enquanto cultura e civilização fizemos o holocausto”.

Esta oradora refere ainda que há “uma tendência para a banalização do mal”. “Muitas vezes olhamos para o que está a ocorrer no nosso quotidiano e achamos que as circunstâncias até o explicam. Assim como olhamos para o mal que fazemos como uma excecionalidade”, exemplifica Isabel Carvalhais. E adiciona: “O holocausto não é uma excecionalidade. O holocausto é sim o que nós fomos e o que nós somos”.

Para terminar, Isabel Carvalhais expõe a ideia da existência de uma dualidade de identidade. Muitas vezes o desemprego, o desespero social e o desamparo levam as pessoas a dar lugar à raiva. Encontram-se muitas vezes nas ideologias xenófobas e ultranacionalistas a esperança que tanto anseiam. A oradora defende que se se “encontrar as causas, muitas vezes conseguimos eliminar a raiva”. A raiva daquelas pessoas que vão atrás de um discurso que lhes promete a possibilidade de expressar a mesma. Apesar de tudo, “nunca se consegue eliminar o ódio”.

João Gabriel Ribeiro, Co-Fundador e diretor do Shifter, afirma que a identidade tem “características dinâmicas e que é construída a partir do quotidiano e da interação com os outros”.

O orador utiliza países como a Hungria e a Polónia para exemplificar ameaças à identidade, dando como conjuntura ameaças à lei do aborto e à comunidade LGBT. João Gabriel Ribeiro evidencia que as identidades ameaçadas só são “relembradas quando o desespero destas pessoas invade as redes sociais e os telejornais, ou quando ocorrem manifestações”. Revela então “uma falta de atenção” da parte de cada indivíduo perante estas identidades europeias ameaçadas.

Ainda no seu discurso, o diretor do Shifter revela a sua visão relativamente à tecnologia. Redes sociais como o Twitter ou Instagram estão mais preocupadas em ter a atenção do utilizador o máximo de tempo possível e aumentar as receitas do que propriamente educar o consumidor. Por isso, de forma convicta, este declara que não se pode participar na discussão sobre identidade através “do que chega ao viral”.

Em forma de conclusão, o orador afirma que as identidades não se vão desenvolver de uma forma “saudável” enquanto a maior parte do conteúdo que uma pessoa consome no seu dia a dia “for determinado por critérios capitalistas que visa o lucro das empresas”. Reitera também que “as identidades só se criam em liberdade. Não se criam em função do outro ou em função do medo”.