O livro Munique, de Robert Harris, foi lançado em Portugal, em novembro de 2020. A obra relata momentos históricos de forma exímia, entrelaçados numa parte mais fictícia de cortar a respiração.
O acordo de Munique (1938) é ainda hoje um dos eventos históricos mais controversos. No entanto, não é muito conhecido comparativamente com outros eventos relacionados com a 2ª Guerra Mundial. As intenções de Hitler face a começar a guerra eram já muito claras, já Chamberlain (primeiro-ministro britânico) procurava manter a paz a todo o custo. A troco dessa vontade de adiar a guerra, o acordo acabou por ceder imensas vontades a Hitler, alguns sacrifícios em prol de algo maior, e a atitude de Chamberlain ficou vista como um pacifismo derrotista.
A obra relata perfeitamente e com uma imparcialidade notável os eventos históricos. Assim, somos capazes de ver os dois lados e as suas motivações. Contudo, não se trata de um livro histórico. O que faz de Munique um page-turner é muito a sua parte ficcional. A par de Hitler e Chamberlain, conhecemos Hugh Legat e Paul von Hartmann. Estes dois jovens foram outrora colegas de faculdade. No entanto, o destino colocou-os nos lados opostos da guerra, ou melhor, deste evento da pré-guerra. O que não se sabe é que, na verdade, ambos estão contra o Reich e tentarão de tudo para que Hitler não ganhe o direito de invadir territórios. A escrita é bastante acessível e o enredo está bastante bem tecido, o que torna este livro de leitura rápida (até porque já vivemos a tensão de chegar ao fim).
As personagens fictícias (Legat e von Hartmann) são quem concede a parte mais mexida deste enredo e é do ponto de vista delas que a estória nos é contada. Contudo, estes também contribuem bastante para a construção histórica. Através de diálogos ricos, somos capazes de construir o cenário da época. Considero esta perspetiva bastante interessante em detrimento da mera descrição direta. Uma das personagens que considerei mais interessantes foi Chamberlain. A história não tende a tratar esta figura política de forma simpática, é comummente visto como um fraco comparativamente com Churchill. Porém, Robert Harris procura mostrar-nos mais um homem que queria e achava que podia a todo o custo parar a guerra. Conhecemos, não uma nova face desta figura, mas percecionamos a mesma face de outra forma.
Munique é um livro muito interessante para quem tem interesse na história mundial. Contudo, sê-lo-á também para quem não tiver e queira passar a ter. O cruzamento história-ficção está tão bem feito que é impossível alguém não querer ler até ao fim. Esta mistura de espionagem e dos limites da honra e da moral, com uma parte histórica quase documental, fazem-nos perceber a quantidade de best-sellers do autor.
Título Original: Munich
Autor: Robert Harris
Editora: Editorial Presença
Género: Suspense/ Thriller de espionagem
Data de lançamento: novembro de 2020