Nasceu a 8 de janeiro de 1976 em Coimbra. Na terra dos estudantes, ponderou tirar o curso de Engenharia Mecânica. No entanto, mobilizou a sua aptidão prática para os instrumentos musicais e para dar corda a muitas letras. Apesar do trabalho de backstage, estreou-se como cantor. Tudo começou em 1995 num programa de televisão. O ano seguinte reservou-lhe o seu primeiro álbum. André Sardet celebra, esta sexta-feira, 45 anos.
Em pequeno, era já muito criativo. Em entrevista, relembra que o irmão costumava dizer que ele “brincava com tudo o que era lixo”. Havia um grande amor pelos carros, chegando a fazer carros de rolamentos. No entanto, o bichinho da música sempre existiu. Recorda-se perfeitamente das suas tentativas de imitação de Carlos Paião. A pergunta que prevalece é quando é que o bichinho se torna uma aspiração a seguir.
Desta forma, André Sardet afirma que um dos momentos mais marcantes da sua vida, talvez até o ponto de viragem, foi quando “estava no bar da minha escola secundária e comecei a cantar. Senti que houve ali um momento mágico. Senti que podia tocar as pessoas assim. Senti que tinha conseguido criar ali um momento muito intenso”. Na altura, mal sabia que a sua carreira se viria a fazer de tantas instâncias ardentes.
Por brincadeira, chegou por fazer parte de uma banda durante a sua adolescência. Como a prática leva à perfeição, depois de muito experimentar, estreou-se num programa de televisão em 1995. Com 20 anos, deu-se conta que já tinha material suficiente para editar um disco. Sendo assim, em 1996, lançou o seu primeiro álbum, Imagens.
De Imagens, a memória mais latente fica com o single “O Azul do Céu”. Com a sua estreia, conseguiu colocar uma das suas composições nos primeiros lugares de várias rádios nacionais e locais. Para todos aqueles que não se relembrar deste clássico, deixo aqui apenas um cheirinho: “Ai! como acredito! / Que o teu mundo é infinito, um azul impossível de / Alcançar”. No entanto, não só de “farrapos de nuvens” se fez o álbum.
A obra musical fez-se também de “conversas banais” e de “whisky de malte”. Independentemente das nossas de escolhas de consolamento, a verdade é que todos nós já nos sentimos frágeis e em busca de algo que nos ajudasse a superar um mal momento. Apesar de menos conhecidas, Imagens conta com uma panóplia de composições musicais particulares. A história de “Zeca Chóninhas”, o “Zé trinca-espinhas, o rei do azar”, e das memórias e inocência às quais queremos voltar, “Abro o álbum fotográfico / Tento velar os momentos que passei / Recordar não me alimenta / Nem ao ego de quem eu amei”.
Antes de avançar, é importante ressaltar os músicos pelos quais André Sardet se fez acompanhar para alcançar um trabalho tão coeso como este. Sendo assim, contamos com a presença de Filipe Larsen no baixo, que também assumiu a produção do trabalho, Francisco Martins nas guitarras, Miguel Braga nos pianos e sintetizadores, Zézé N´Gambi e Cenoura na bateria, Tomás Pimentel na trompete, Edgar Caramelo e Naná Sousa Dias no saxofone, entre muitos outros.
Quando questionados sobre as suas fontes de inspiração, os próprios artistas repensam antes de responder. Digamos que não existe uma explicação na ponta da língua, uma vez que é inconstante e variável. De qualquer das formas, André Sardet assume-se um observador nato, admitindo que “é muito mais fácil falar sobre aquilo que nos contam, sobre aquilo que olhamos. Eu posso estar a olhar para um casal e a perceber que há ali qualquer coisa para eu falar depois”.
Dois anos mais tarde, o cantor lançou o álbum Agitar Antes de Usar (1998). Antes de avançar, paremos para refletir sobre o título atribuído. Poderíamos assim dizer que, tal como um sumo concentrado, é aconselhado abanar o seu conteúdo, de forma a não sermos abalroados com tanta intensidade. A música homónima conta com um instrumental hipnotizante e trata-se de um autêntico mote de vida – “E vais pedindo a Deus que domine o teu lugar / Esqueces que a vida é tua e que tens / Que agitar antes de usar / Agitar antes de usar”.
Deste álbum saíram ainda outros grandes êxitos, como “Perto mais Perto” e “Quando te falei em Amor”. “Perto mais Perto” remete novamente para a busca do nosso verdadeiro ser. Felizmente, André Sardet cumpriu o seu propósito. Já “Quando te falei em Amor” corresponde a uma das baladas clássicas portuguesas.
Até 1998, como podemos ver, André Sardet foi protagonista das mais belas músicas de amor. Sendo assim, é perfeitamente compreensível que seja visto como um cantor romântico. No entanto, a certa altura, o cantor admitiu não gostar da categorização, uma vez que não escreve apenas sobre amor. Prova disso é o seu terceiro álbum, André Sardet (2002).
Desta forma, em 2002, André Sardet presenteia-nos com composições como “Cubo de Gelo” – aquilo que considero ser uma crítica à vida moderna. Basicamente, admite que nos encontramos congelados num ciclo imperfeito, aceitando tudo o que nos é dito. Talvez um dia, possamos acordar e perceber a necessidade de mudança. -, “Aos Papéis” – a uma continuação da temática anterior, contudo, com uma mensagem esperançosa: “A vida há-de ser qualquer coisa / maior que esta coisa assim” -, “Um amigo, um lamento” e “Serás como um Herói”.
De qualquer das formas, o cantor não se consegue afastar de algumas composições sobre o amor. Uma dessas canções corresponde a uma das suas músicas mais conhecidas, Foi Feitiço. Apesar do seu sucesso, André Sardet admite ter sido alvo de algum preconceito. Sendo assim, relembra apenas que “é normal haver feitiços, é normal as pessoas se identificarem com este tipo de histórias”.
Em 2008, chega-nos Mundo de Cartão, traduzido num mundo imaginário, onde André Sardet se reencontra com as “memórias de infância de todos nós”. De “A lição da cigarra e da formiga”, conhecemos a “Boneca Joana”, temos “Uma ideia brutal” e despedimo-nos com o “Anjinho da Guarda”. No mundo infantil há também mais do que espaço para amar, sendo assim somos presenteados com “Adivinha o quanto gosto de ti”. A temática do amor não nos abandona com Pára, Escuta e Olha, álbum de 2011.
Também em 2008, André Sardet inovou. Percorreu Portugal numa digressão ecológica, ECO TOUR 2008. Para além de a tournée passar a utilizar viaturas com menor emissão de CO2, em cada concerto, o consumo de energia baixou para um terço em relação aos espetáculos de 2007. No entanto, a sua filantropia não ficou por aqui. Em 2011, associou-se à causa da Associação Fonográfica Portuguesa no combate à pirataria na Internet, entre outros movimentos.
Podendo rever-se todo reportório antigo de André Sardet, podemos ainda revistar o seu mais recente projeto, o single “Ponto de Partida”. Tal como tantos outros artistas, a pandemia não limitou a criatividade do cantor. Sendo assim, a partir da sua casa, criaram e divulgaram o videoclipe de “Ponto de Partida”, “uma perspetiva sobre os gestos mais simples, aqueles que aprendemos a valorizar nos momentos mais sensíveis, tal como os que vivemos atualmente”. Com o regresso gradual à normalidade, desejamos um feliz aniversário a André Sardet.