The Flight Attendant, baseado no livro de mesmo nome, retrata a história de uma hospedeira de bordo que, certa manhã, acorda ao lado de um homem morto sem recordações do que havia acontecido. A série estreou em novembro e surge como um dos mais recentes e mais magnéticos thrillers da HBO.

Numa noite intensa, após um primeiro encontro aparentemente perfeito, Cassie (Kaley Cuoco) acaba por dormir com Alex (Michiel Huisman), um homem que conheceu como passageiro num dos voos em que trabalhava. A comissária de bordo acorda no dia seguinte no quarto de hotel de Alex, com o seu corpo inanimado ao lado e suja com o seu sangue. No desespero do momento, e sem se conseguir lembrar do que se havia passado, limpa o local do crime com medo de vir a ser acusada e tenta passar despercebida até ao momento do voo seguinte.

Atormentada pela possibilidade de ter sido ela a cometer o crime, a protagonista usa o álcool como escape. As distrações são, contudo, temporárias, pois a hospedeira começa a ter alucinações em que Alex fala consigo e a incentiva a tentar descobrir o que realmente se passou. Esses momentos, todavia, acabam por se revelar epifânicos para a protagonista que vai tendo flashbacks da trágica noite.

Enquanto vai encaixando as peças do mistério, com a ajuda da sua amiga Ani (Zosia Mamet) e respetivo namorado Max (Deniz Akdeniz), Cassie vê-se também perseguida pelo trauma de infância que, de certo modo, se assemelha à situação por que está a passar. Vai então entendendo que nem tudo é como se lembrava e que as raízes do seu alcoolismo são já antigas.

Com uma impulsividade quase assustadora e uma propensão para o desastre, a personagem principal da trama leva o espectador numa aventura de autorrevelação e conhecimento, mas, ainda assim, apresentando vários momentos cómicos. Apesar de poder, por vezes, tornar-se cansativo vê-la beber a cada cinco segundos e a tomar constantes más decisões, a genuinidade com que são apresentados o seu vício e desespero tornam a série notavelmente cativante.

As restantes personagens vão-se também revelando ao longo da história, fazendo o espectador mudar de opinião sobre as mesmas numa rapidez estonteante. Passa-se do amor ao ódio e da raiva à compaixão por muitas delas ao longo dos episódios, com todos os plot twists que se esperam deste género de série. Sendo de particular relevância neste quesito referir Alex. A protagonista vai conhecendo Alex cada vez melhor com o decorrer da intriga, descobrindo que a sua vida era muito mais complexa do que alguma vez suspeitara.

Apesar de as músicas encaixarem bem nos momentos em que são utilizadas, a banda sonora tem pouco de especial, não sendo particularmente interessante. É no visual que está o estímulo. As cores são muito chamativas e as cenas gravadas em Bangkok são de uma beleza particular. De destacar também o encantador modo como a desordem presente na cabeça da protagonista era ilustrada nas alucinações que tinha.

Possuindo todos os “oh” de surpresa, os “ah” de susto e os “não faças isso!” que se vão emitindo ao longo de um bom thriller, o enredo e a belíssima performance de Kaley Cuoco envolvem o espectador num misto de emoções constante. Apesar de não ser muito diferente de Penny Hofstadter, a personagem de A Teoria do Big Bang (2007-2019) pela qual Kaley ficou mais conhecida, o drama inerente ao tema permite à atriz mostrar um espetro muito mais completo daquilo que é capaz de fazer, surpreendendo pela positiva.

Mesmo a atenção caindo sobre ela, a performance de vários figurantes é também bastante agradável, tais como a de Zosia Mamet, Colin Woodell e T.R. Knight. O coprotagonista, Michiel Huisman, o Daario de A Guerra dos Tronos (2011-2019), também revela um desempenho admirável, visível nas cenas íntimas com a protagonista.

Recomendada a todos os fascinados pelos suspense, esta é uma série que cativa facilmente e que possui a quantidade certa de surpresas, sem ser excessivamente rebuscada. Agora que foi renovada para uma segunda temporada, resta descobrir o que espera Cassie e o resto das personagens nas intrigas que estão por vir.