Em "Lugar ComUM", damos destaque aos espaços culturais com história que dinamizam a região do Minho.
“De todos para todos” é o princípio que rege a Casa das Artes, em Vila Nova de Famalicão, de que nos fala Álvaro Santos, diretor da equipa multidisciplinar de gestão. Há já 20 anos que esta casa presenteia todos os que lá passam com uma pluralidade de ofertas em variadas áreas. Sendo o primeiro teatro municipal construído de raiz a norte, a Casa das Artes tem como missão o fomento, a criação e a fruição de todos os géneros culturais e artísticos. Nesta casa, prevalece o cosmopolitismo, o contacto e a abertura da comunidade a novas culturas, que marcam cada encontro. Encontro esse que a arte nos traz com o passado, o presente e o futuro.
O nome deste espaço não foi escolhido ao acaso. Aquele que viria a ser um simples auditório municipal transformou-se numa casa de todas as artes por uma simples razão. A escolha de Pedro Ramalho como arquiteto responsável pela conceção do edifício trouxe a Vila Nova de Famalicão um sem-fim de possibilidades, todas elas indissociáveis à sua missão. A Casa das Artes passou, assim, a fazer parte de uma família de projetos de renome, adquirindo uma infraestrutura semelhante à do seu projeto-irmão: o remodelado Teatro Rivoli, no Porto.
O espaço surge então como resposta à vontade dos famalicenses em preservar a história e os frutuosos anos culturais que o Cine-Teatro Augusto Correia havia trazido à cidade. A forte dicotomia entre a importância da conservação do espaço original e a necessidade de construção de novos equipamentos trouxeram à comunidade uma grande controvérsia. “Há sempre os defensores, as pessoas que gostam de preservar, mas quando é preciso dar um salto, temos de perceber que, na tomada de decisões, há algumas opções que não são tão simples”, afirma Álvaro Santos.
Hoje, Vila Nova de Famalicão está certa de que a decisão tomada foi aquela que permitiu uma maior dinamização da atividade cultural e artística do concelho. Nos verdes jardins de Sinçães, bebe-se agora a cultura através de duas fontes: a Casa das Artes e a Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco.
Criando uma relação umbilical com o local onde se situa, a Casa das Artes evoca a necessidade de uma aproximação com a comunidade. Esta cresce e consigo cresce também a procura por novas linguagens e um maior número de atividades, que requerem profundidade e sentido crítico. Para esta casa, a coletividade é o fundamento da concessão de novas consciências. O público enche os espaços e desperta múltiplos interesses, fundando os pilares de uma sociedade ativa.
A casa de todas as artes e consciências
A arquitetura da Casa das Artes é direcionada à multidisciplinaridade do espaço. Sendo a comunidade um dos seus maiores pilares, há uma enorme preocupação pela acessibilidade, para que ninguém fique de fora das experiências que proporciona. Em quatro salas de espetáculos, há características únicas e histórias peculiares.
No momento em que entramos na Casa, chocamos com uma esfera de tranquilidade. Nos primeiros passos, é-nos apresentada a bilheteira, repleta de exposições de fotografias e pinturas que despertam a curiosidade (já aí acionamos o nosso sentido crítico). O espaço seguinte, o foyer, não perdendo a essência do anterior, interpreta o papel de uma mini-sala de concertos e peças de teatro, criando uma maior proximidade e intimidade com o espectador e ativando a sua experiência sensorial.
Avançamos para o grande auditório, palco da maior parte dos eventos e espetáculos. “Foi pensado para ser um espaço de enorme interação entre o público e aquilo que está a decorrer em cena. Dá a sensação de que estamos todos em grupo, de uma dinâmica muito informal, mas com qualidade e exigência”, destaca Álvaro Santos, que exprime a sua preferência por esta sala.
Não poderia faltar uma referência aos camarins, espaços que pretendem promover o conforto de quem ali se instala. Ainda de realçar é esse mesmo conforto, que permite ao artista explorar um mar de sentimentos e emoções que se manifestam antes de cada espetáculo, despindo a sua arte de tudo o resto.
Assumindo-se como espaço da comunidade para a comunidade, a atenção e o carinho não poderiam deixar de ser um marco para todos aqueles que por lá passam. “Casa” significa isso, a liberdade e o conforto de cada artista e espectador. A calorosa saudação de cada membro da equipa, que por todos aguarda, oferece uma sensação de pertença.
O futuro que se prepara
Nunca esquecendo o esforço de integração de produções nacionais e internacionais que nos é apresentado através de co-produções, prepara-se o futuro com uma série de propostas em desenvolvimento, mas cuja exibição é incerta. Ainda assim, Álvaro Santos acredita que o mundo ainda vai dar muitas voltas. “Com a abertura ao cosmopolitismo, percebemos que há um conjunto de mutações que vão acontecer todos os dias e que temos que acompanhar, observar e perceber. As artes, de certa maneira, embalam-nos nisto”, afirma o responsável.
Como nem todas as formas de arte são transmissíveis através do mundo virtual, vai-se decalcando a presença consentida do público. “Sem ele, a experiência sensorial nunca chega à sua totalidade”, reconhece Álvaro Santos. Mesmo assim, a escolha de imergir os espetáculos no mundo digital não afastam a Casa do seu propósito. A comunicação com a comunidade mantém-se através das redes sociais, encontrando agora outras formas de dar continuidade ao contacto.
Artigo por: Clara Martins e Francisca Alves