O terceiro Café-Debate, organizado pelo Centro de Estudos do Curso de Relações Internacionais (CECRI), abordou temas como o papel da raça na ordem das relações internacionais e o colonialismo. A sessão aconteceu via zoom e foi transmitida em direto para o Facebook do centro. Marcaram presença a professora Isabel Ferin da Cunha e a doutoranda Mariana Félix Quadros, como oradoras, e a professora Ângela Coutinho, enquanto moderadora.

Mariana Félix Quadros iniciou o debate organizado pelo CECRI a declarar que o curso das relações internacionais era muito eurocêntrico, com um conhecimento que “respeita apenas uma narrativa” e que não leva em conta a diversidade cultural existente nas sociedades. Abordou a hierarquia entre grupos raciais diferentes e, do mesmo modo, entre estados. “Tudo aquilo que está fora do norte global ou do ocidente é visto como outro, como não branco”, afirmou.

A doutoranda em ciência política continuou a sua tese abordando o “sistema de desigualdades” que é o sistema internacional. “A raça organiza o sistema, molda visões e práticas na política internacional, contribuindo para uma ordem internacional estratificada e profundamente injusta”, assegurou. Para terminar a intervenção, deixou no ar a pergunta sobre quais eram as estratégias existentes para incluir a raça na discussão das relações internacionais, usando a título de exemplo o seu trabalho na construção de uma agenda antirracista na área, já que “não basta não ser racista, é preciso ser-se antirracista”.

Isabel Ferin da Cunha tomou a palavra e começou por falar da realidade colonial e pós-colonial não só atlântica, mas também do índico e do pacífico, onde essa história e hierarquia colonial existe de igual forma. “Esta hierarquia é mundial e a relação entre os diferentes grupos raciais existe na Europa, em África e nas colónias e no pós-esclavagismo”, referiu. Falou da dificuldade que era aprender a saber designar corretamente as populações, na década de 80, dando como exemplo o facto de um ucraniano, um moldavo ou um romeno ser comumente aclamado de “europeu de leste”. “Esta aprendizagem só se faz pelo convívio direto com várias culturas e grupos e é por isso que não se pode aceitar o racismo sistémico, porque naturaliza e consolida a diferença”, garantiu.

A docente expôs ainda que a digitalização “vem agravar” muitas das lutas pela igualdade de direitos. A argumentação passou pelo facto de que muitas das atividades que não requerem elevados conhecimentos serão substituídas, “num futuro próximo” por máquinas e, como tal, os migrantes que estão à procura de melhores condições ficam sem sustento, “uma vez que os empregos disponíveis só vão precisar de mão de obra extremamente qualificada”.

Após as intervenções das oradoras convidadas pelo CECRI, a moderadora Ângela Coutinho e alguns dos que assistiam ao debate levantaram questões relativas às desigualdades de acesso a necessidades como a saúde, educação e habitação, ao facto de não haver estatísticas que as demonstrem e ao problema das migrações.