A pandemia foi sinónimo de alterações e de reinvenções a vários níveis e, em especial, a nível desportivo. A vertente da formação foi, sem dúvida, a mais afetada e, até hoje, a única alteração ou reinvenção que sofreu parece ser a de que o número de praticantes não para de descer.
Em declarações à Lusa, em dezembro de 2020, o presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), José Manuel Constantino, afirmou que a perda de participantes se estima em cerca de 52%, num país- que, segundo o próprio, já não apresentava números famosos. O problema é claramente futurista, mas a solução tem de ser presente.
Sejamos concretos e falemos de números. Segundo dados revelados pela mesma agência, no início deste mês, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) foi a organização que mais sofreu e, em relação a 2019/20, registou uma queda de 75% do número de inscritos. Na presente temporada, a FPF soma 39.471 atletas federados, 33.922 no futebol e 5.549 no futsal. De acordo com dados facultados à Agência Lusa, em março do ano passado, a FPF contava com 159.318 jovens federados, sendo que 132.835 jogavam futebol e 26.483 praticavam futsal.
A Federação de Andebol de Portugal ocupa o segundo lugar, com uma queda de 54% no número de jovens praticantes. Em 2020/21, a organização registava 6.240 atletas e, no ano transato, 13.553. A Federação Portuguesa de Hóquei em Patins fecha o pódio, ao registar uma queda de cerca de três mil atletas (em 2019/20, a entidade federativa registava 5.764 jovens e, em 2020/21, 2.875).
Seguem-se-lhes a Federação Portuguesa de Voleibol, com uma quebra de 46% (de 49.980 atletas, a federação passou a contar com 27.156 jovens) e a Federação Portuguesa de Basquetebol, que passou de 24.089 jovens para 14.050, o que perfaz uma queda de 42%. Ou seja, em 2019/20, contávamos com 252.704 jovens atletas em futebol, futsal, andebol, hóquei em patins, voleibol e basquetebol e, em 2020/21, contamos com 89.792.
As dificuldades dos clubes em ultrapassar a falta de receitas que esta queda abrupta na formação está a criar são cada vez maiores. Para além disso, embora o aliviar das medidas tenha trazido alguma esperança, a verdade é que o segundo confinamento rompeu com elas. O ABC/UMinho, por exemplo, tinha, na época transata, cerca de 400 atletas jovens e, em 2021, não conta sequer com um quarto desses jovens. Este sábado, o Governo garantiu que o futuro é ainda muito incerto, mas apontou setembro e outubro como meta para o regresso das competições de formação.
Os riscos que não corremos agora terão consequências futuras. Os riscos que corremos agora têm consequências presentes. A queda do desporto formação demonstra isso mesmo: a longo prazo, teremos falta de atletas e de talento, mas a curto prazo poderíamos ter uma bola de neve de casos de Covid-19 causada precisamente pela falta de cuidados neste mesmo desporto formação. A verdade é que nenhum setor sairá ileso da pandemia. Urge voltarmos a ter desporto formação, mas urge, antes de mais, sermos responsáveis, porque um está dependente do outro.