Da Revolução dos Cravos à Guerra do Vietname, são vários os marcos na História que provam a importância da rádio e a da televisão.
A Associação de Debates Académicos da Universidade do Minho (ADAUM) reuniu na tarde deste sábado em modo digital, através da plataforma Zoom. No âmbito do Dia Mundial da Rádio, discutiram-se as vantagens e as desvantagens da coexistência da rádio e da televisão, além do papel que cada uma tem na sociedade.
O debate competitivo contou com a participação de oito pessoas. Estas foram igualmente distribuídas por quatro equipas opostas, duas delas denominadas de ‘governo’ e as duas restantes de ‘oposição’. A moção de debate acordada entre as partes foi a ascensão do consumo televisivo em substituição da rádio.
“Não nos podemos esquecer que a rádio é dos meios mais fiáveis e baratos de difundir informação. É muito fácil ter um rádio em casa”. Quem o disse foi o primeiro governo, na figura de Sérgio Salazar, que assim começou a defesa da sua posição. Simultaneamente, relembrou que é necessário ter um emissor TDT em casa para assistir a conteúdo televisivo. O debatedor salientou também que “é possível uma pessoa que viva num estado totalitário ter um dispositivo emissor de rádio e obter informações internacionais”. Sérgio Salazar finalizou dizendo que a informação na rádio é “menos sensacionalista e mais fiel aos interesses das pessoas” e que, por isso, “não deve ser esquecida e a TV não lhe deve tirar o lugar”.
Já a primeira oposição, pelas palavras de Tiago Silva, referiu que a televisão é mais “apta” a transmitir informação, pois “apela a dois sentidos, ao contrário da rádio, que é puramente auditiva”. Neste seguimento, mencionou que a televisão não veio apagar a existência da rádio, que continua a existir como “meio alternativo”. “Não há necessidade de demonizar a televisão, ela surgiu como progresso tecnológico”, sublinhou Tiago. A diversificação dos meios de comunicação foi outro dos argumentos usados, sustentado no fim do monopólio da rádio, o que está diretamente ligado ao aumento da concorrência. Tal traduziu-se numa “maior liberdade de escolha para as pessoas” e na possibilidade de “descentralização da informação”.
Na ótica do primeiro governo, Inês Batista ressalvou que “os donos da televisão são os donos da rádio”, indo contra a ideia de descentralização defendida anteriormente. Para a estudante, “o mundo perfeito daria o valor que a rádio merece ter e neste momento não tem”, salvaguardando que, em tempos de crise, a rádio “é o único meio de comunicação que sobrevive”. “As ondas são mundiais”, disse. Por último, Inês Batista argumentou com o paradigma de que “as crianças não têm paciência para ler um livro, preferem ver um filme”, aludindo ao imediatismo que caracteriza a atualidade.
Para Mariana Coimbra, membro da primeira oposição, receber estímulos visuais e auditivos é sinónimo de apanhar mais informação, ao “dar-se a conhecer novas culturas sem ser só pela descrição”. Na sua intervenção, frisou igualmente o papel das rádios locais, como reforço ao raciocínio da descentralização da informação.
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Nas palavras do segundo governo, Afonso Cardo acrescentou tópicos à discussão, nomeadamente que a televisão foi “o principal fator de personalização e de superficialismo da política”, recorrendo ao caso do debate das presidenciais norte-americanas entre Kennedy e Nixon. A forma como as suas posturas foram um “fator de apelo eleitoral a custo da carga ideológica do partido”, considerou. Além disso, Afonso garantiu que a ascensão da televisão agravou a incidência de problemas de visão e aumentou o apelo da publicidade, o que “comercializou a informação e promoveu o consumismo”.
Por sua vez, Sérgio Dias, na equipa da segunda oposição, centrou-se na imagem enquanto “potencializadora de melhorar toda a sua estrutura” e enquanto “ferramenta de informação”. Enfatizou também que a televisão já auxilia em tempos de crise, dando como exemplo a telescola. O estudante encerrou a sua intervenção caracterizando a televisão como a “lareira da Pré-História”.
Afirmando que “mudança não é progresso”, Rui Rodrigues, em nome do segundo governo, reforçou e questionou alguns assuntos ditos anteriormente. Entre eles, a “meritocracia” de quem trabalha na indústria do entretenimento e a publicidade como “propaganda capitalista”.
A fechar o debate, Bernardo Almeida, enquanto membro da segunda oposição, declarou que a “imagem tem um papel essencial e intrínseco que não pode ser substituído”, em particular no que toca à comunicação de eventos de guerra e à divulgação da cultura. Aludindo às eleições presidenciais, reiterou ainda que a forma como os políticos se colocam à frente das câmaras é “importante para um eleitorado bem informado”. “Nós não queremos simplesmente ouvir, queremos saber se esses candidatos, quando for preciso, sabem manter uma posição forte e digna daquilo que é um Presidente”, realçou. Bernardo Almeida sublinhou, por fim, que “a divulgação de imagens foi um dos maiores poderes que as pessoas tinham para derrubar regimes, para denunciar atrocidades”.