O ensino à distância tem se mostrado pouco eficiente e acentuou as desigualdades entre estudantes.

O segundo semestre iniciou esta semana num modelo de ensino online. É a segunda vez que os alunos universitários estão confinados em casa, onde o único contacto com a vida académica se faz através de um ecrã. De forma a entender os impactos deste formato na vida dos estudantes e docentes da Universidade do Minho, o ComUM entrou em contacto com Licínio Lima, professor catedrático no Instituto de Educação, Ana Lopes, aluna de Relações Internacionais, e Alexandre Carvalho, aluno de Filosofia.

Longe de uma boa experiência com o ensino online

Licínio Lima considera que os impactos do regime online são “muito negativos e que podem vir a traduzir-se em opções e em políticas já muito para além do período pandémico”. Além disso, acredita ser uma “tentativa frustrada de substituir a aprendizagem presencial por um ensino e, eventualmente, uma aprendizagem à distância”, que não se resolve com uma evolução tecnológica das plataformas.

“Aquilo que é mais preocupante, naturalmente, é o cansaço de todos, porque por mais sofisticadas que sejam as diversas plataformas, esta experiência é difícil não só por causa dos problemas de acesso à internet, mas sobretudo porque nós estamos habituados a um diálogo, a um contacto social prolongado”, afirma o professor.

Há rostos como o de Ana Lopes que corroboram esta afirmação. Apesar de “reunir todas as condições de equipamentos tecnológicos e ambiente adequado para estudar”, a aluna de RI admite que a sua aprendizagem ficou muito aquém daquilo que seria expectável. “Existe uma maior dificuldade de concentração, devido à falta de dinâmica das aulas e do afastamento que existe entre os alunos e o ambiente universitário”, esclarece.

Alexandre Carvalho também não tem uma boa experiência com o ensino à distância. Na sua opinião, os estudantes e os docentes não têm condições psicológicas para garantir uma aprendizagem efetiva. “A saúde mental é um ponto que tem sido muito pouco discutido e acredito que tenha de haver maior investimento nesse aspeto”, sublinha.

Na perspetiva do professor, a participação ativa dos alunos nas aulas online poderia compensar o fator distância. No entanto, “de acordo com a experiência, isso não se tem verificado muito”. Acrescenta ainda que “as reações [dos alunos] são para um professor experiente uma coisa absolutamente indispensável” e, como as câmaras estão sempre desligadas, é muito mais difícil comunicar com a turma.

Das desigualdades económicas aos (por vezes) difíceis acessos a dispositivos tecnológicos. E a saúde mental para onde foi?

Ana Lopes não tem dúvidas de que os fatores económicos não podem ser ignorados, uma vez que estes condicionam diretamente o aproveitamento dos alunos. “Não pode haver um alheamento das instituições universitárias a estas condições, sendo imperativo assegurar uma educação presencial, dentro das condições possíveis e garantir o máximo de ajuda aos estudantes que não as possuem”, explica a estudante de Relações Internacionais.

Embora reconheça os esforços, por parte da Universidade do Minho, no fornecimento de equipamentos tecnológicos aos estudantes, Alexandre Carvalho considera que as desigualdades se acentuam de forma mais ampla. “Eu acho que a universidade tem aqui principalmente um papel de apoio, não só financeiro, não só material, nomeadamente com o reforço da Ação Social, mas também com o reforço de investimento, por exemplo na área da psicologia”, refere.

Ambos os alunos acreditam que não existem alternativas razoáveis ao ensino presencial. “Precisamos urgentemente de garantir um ensino e uma formação de qualidade a todos os jovens e tentar recuperar os estragos feitos pela pandemia, neste setor”, conclui Ana Lopes.