O HeforShe UMinho tem como objetivo a implementação de pontos de venda de produtos de higiene íntima no espaço universitário.

Para perceber o ponto de situação da comunidade académica face ao projeto em questão, o HeforShe UMinho elaborou um inquérito disponível nas redes sociais do movimento. O ComUM quis saber mais sobre o que move esta iniciativa e, por isso, conversou com Sara Manuela, co-coordenadora do HeforShe UMinho, e com Taynã Noschese, responsável pela elaboração do inquérito.

Segundo Sara Manuela, a ideia de implementação de pontos de disponibilização de produtos de higiene íntima surgiu quando a sua direção tomou posse, após uma troca de ideias com o HeforShe nacional. O pensamento focou-se, então, neste projeto: “não conheço nenhuma universidade no país que faça o mesmo”, afirma a coordenadora. “Começamos a pensar e decidimos que era uma coisa para andar para a frente”.

No que toca à iniciativa em concreto, Sara Manuela esclareceu que o que vai ser sugerido à reitoria “são umas daquelas vending machines com produtos de higiene íntima (pensos higiénicos, tampões, preservativos, …)”. Para si, a implementação destas máquinas “faz todo o sentido”, visto que as pessoas não dão muito enfoque a estas questões, pois o tema da menstruação é um tabu.

Para Sara Manuela, a existência das vending machines seria uma forma de quebrar essa ideia pré-concebida, quer dizer, “ao implementar estas máquinas, é normalizar algo que é natural”. Além disso, existe o problema de muitas mulheres menstruarem em público, “que ficam incomodadas e não pedem um penso a ninguém, não têm como resolver o assunto”. Assim, as máquinas de produtos de higiene íntima podem ser uma resposta a esses imprevistos.

Taynã Noschese levantou também a problemática de várias mulheres que perdem aulas devido à falta de recursos para solucionar a menstruação. De forma a comprovar tal situação, o responsável pelo inquérito explicitou um estudo de 2017 no Reino Unido onde “aproximadamente 138 mil mulheres que foram entrevistadas já perderam um dia de aulas porque não tinham condições de acesso [a produtos de higiene íntima]”. Desta forma, este é mais um ponto a combater, e a implementação das vending machines pode ser a arma ideal.

Quanto a queixas que o HeforShe UMinho possa ter recebido face à falta de acesso a produtos de higiene íntima dentro dos campi, Sara Manuela revela que nunca receberam “nenhum email, nada do género, nada que denunciasse esse problema”. Porém, esta explica que tem amigas “que já menstruaram em público, que não tinham um penso higiénico, não tinham um tampão, então iam para casa e perdiam o dia de aulas”.

Apesar da inexistência de denúncias, “faz todo o sentido que se implementem as máquinas de forma a acabar com vários problemas”, nomeadamente determinados problemas estruturais, onde na ausência de acesso a produtos de higiene íntima, as pessoas têm que ir para casa ou deslocarem-se a um supermercado. “Acho que todas as mulheres já tiveram esse problema, em que menstruaram em público e não puderam continuar com o que estavam a fazer, porque não tinham acesso a produtos”, remata a co- coordenadora.

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Publicado por Heforshe – Universidade do Minho em Quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

No sentido de existir um estudo de campo, foi criado um inquérito a ser aplicado à comunidade académica. Taynã Noschese revela que na impossibilidade de um trabalho de campo presencial, o questionário torna-se uma alternativa onde se pode perceber quais são as necessidades das pessoas, qual poderá ser a aderência das mesmas e quais são as medidas mais eficazes a pôr em prática. Na sua ótica, este inquérito é fundamental, pois “apesar de os números não falarem, é uma forma de dialogar com as pessoas inquiridas, de forma a dar-lhes expressão”.

Sara Manuela acrescenta ainda a importância de este ser um questionário anónimo, o que pode levar a que exista maior adesão, “já que as pessoas podem-se fazer ouvir sem que exista qualquer receio face à exposição da sua identidade”.

“Primeiro ouvir a comunidade académica, e depois proceder ao tratamento de dados”. É assim que Sara Manuela explicita o processo de exploração dos resultados do inquérito, quando questionada sobre conclusões retiradas das respostas ao questionário. Porém, apesar de ainda não haver uma perceção concreta das necessidades dos inquiridos, segundo Taynã Noschese, existe “uma aderência consideravelmente forte” ao inquérito.

No que toca à aplicação do projeto- a compra das máquinas, por exemplo- Taynã Noschese explica que é importante “trabalhar em articulação com as instituições fora da universidade e dentro da universidade”, visto que o HeforShe não dispõe de autonomia para implementar a iniciativa. Sara Manuela relembra que a ideia parte do HeforShe, mas é a reitoria e os serviços da Universidade do Minho que implementam o projeto.