O maestro José Atalaya, de 93 anos, morreu esta sexta-feira, dia 19 de fevereiro, segundo declarações de fonte próxima da família à agência Lusa. Atalaya mantinha uma ligação próxima a Fafe, de onde era natural a sua esposa. Em 1998, com o apoio da Câmara Municipal de Fafe, fundou uma Academia de Música na cidade, à qual foi dada o seu nome.

Nascido em Lisboa, em 1927, foi aos 19 anos que decidiu trocar a engenharia pela música,  impulsionado pelo êxito do maestro e compositor Joly Braga Santos. Começou então a ter aulas de análise musical, composição e história da música com Luís de Freitas Branco, uma das principais figuras da cultura portuguesa no século XX.

Em 1951, Atalaya ingressou como assistente musical na antiga Emissora Nacional, tendo colaborado com os compositores Pedro do Prado e João da Câmara. Durante esse período, iniciou um percurso de divulgação da música clássica que se estendeu à RTP e a variados palcos nacionais, através de programas como Quinzenário Musical e Falando de Música”. Entre outros cargos, foi ainda maestro titular da Orquestra Sinfónica do Porto e diretor da Antena 2.

Enquanto divulgador da música clássica em Portugal, José Atalaya defendia que a música erudita era para ser ouvida e compreendida por todos e que não devia haver uma barreira entre público e artista. O maestro era conhecido por informalizar os concertos de música clássica e por explicar o género musical de forma simples, através da rádio e da televisão.

Em 1955, foi tocada a primeira obra que Atalaya compôs, inspirada em As Mãos e os Frutos” de Eugénio de Andrade, pela Orquestra Sinfónica Nacional. No final do mesmo ano, com a morte de Luís Freitas Branco, afastou-se da composição e passou a dedicar-se a musicologia e à direção de orquestra. Só passados dez anos é que voltaria a interessar-se pela composição, fascinado pelo trabalho do francês Pierre Boulez.

Ao longo da sua carreira, José Atalaya trabalhou e conviveu com várias personalidades do mundo da música, entre elas o compositor italiano Pietro Grossi, pioneiro da utilização do computador na música. No seu concerto anual de 1968, Grossi executou a peça Variantes Rítmicas de Atalaya, conhecida como a primeira obra eletrónica de um autor português.

Alguns dos principais cargos que Atalaya ocupou durante a sua vida foram o de diretor do Grupo Experimental de Ópera de Câmara e o de coordenador artístico de orquestras da RDP. O maestro foi ainda fundador da Orquestra Clássica do Porto e da Orquestra Clássica IMAVE (Instituto de Meios Audiovisuais da Educação).

Entre 1994 e 1998, Atalaya foi responsável pela antologia discográfica Cinco Séculos de Música Portuguesa, patrocinada pela Secretaria de Estado da Cultura, para a qual publicou cerca de 30 títulos. Graça Fonseca, em comunicado publicado esta tarde, afirma que ainda hoje a obra do maestro é “fundamental para o conhecimento e preservação do património musical nacional”.

Também Júlio Isidro deixou, nas suas redes sociais, algumas palavras de pesar sobre Atalaya. “O fim de uma partitura. Nem uma linha, nem uma voz, nem um excerto musical, para informar ou recordar quem foi este maestro que, aos 93 anos, partiu num triste adagio“, referiu o apresentador da RTP.

O velório do maestro José Atalaya realiza-se esta quinta-feira, dia 25, entre as dez e as 14 horas, na igreja de Nossa Senhora da Boa-Hora (Lisboa). O funeral vai ser no cemitério de Barcarena, em Oeiras, segundo fonte próxima da família.