Judas e o Messias Negro é a vívida transposição de um cenário, em tempos a preto e branco para cores, do que se era vivenciado durante revoluções violentas, geradoras de guerras. Estreado em fevereiro, o drama biográfico relata acontecimentos verídicos, com o intuito de consciencializar e prevenir que a história se repita.

A obra cinematográfica narra a vida de Fred Hampton, jovem ativista que se torna presidente dos Panteras Negras, organização socialista revolucionária. Esta organização lutava pela liberdade, igualdade e pelo fim da brutalidade policial e do massacre à comunidade negra. Fred incitava os povos reprimidos a não cederem à opressão e a combaterem o abuso do poder por parte do governo, do FBI e da polícia. Por esse motivo tornou-se o alvo a abater. William O’Neil, que enfrentava uma acusação por roubo, foi subornado pelo FBI a infiltrar-se na organização e a fornecer informações sobre Hampton em troca da liberdade. Após aceitar o acordo, William conduziu à morte do presidente.

Violência, revolta, agitação e incerteza são as palavras que descrevem o clima de 1968. Retratado por um tema muito sensível, este filme deteta um ciclo vicioso na história da humanidade. Judas e o Messias Negro retrata um período repleto de corrupção por parte daqueles que detêm o poder e expõe o fomento do ódio. É visível como não se olha a meios para atingir os fins, passando por cima todos em prol da supremacia branca.

Apesar desta forte mensagem, a longa-metragem é ainda dotada de uma narrativa brilhante. A colocação da voz toma aqui principal destaque, nomeadamente nos discursos de Hampton que mobilizam e clarificam mentes. Algumas dessas frases aludem a vários defensores dos direitos dos negros como Martin Luther King e Malcolm X, pessoas que tiveram papel de relevo na história, sendo uma inteligente escolha e estratégia fílmica.

Note-se que a estrutura narrativa cinematográfica começa num presente e através de uma grande analepse remete para 1968. Portanto, conseguimos ter a perceção do passado que ainda ecoa na cabeça de Will passados alguns anos. Conseguimos ainda perceber que um dos seus maiores erros foi não ter reconhecido o poder da multiculturalidade no que toca à defesa de uma causa comum.

Quanto à paleta cromática que envolve toda a tela, assinala-se os tons escuros que dominam e fazem transparecer o medo, o mistério e o perigo, assim como o recurso a instrumentos de sopro com tom grave. Em contrapartida, destaco o uso do tambor falante que repercute o manifesto, a energia e a coragem daqueles que tentam lutar pelos direitos básicos de um cidadão, dando azo a uma bela melodia com falas bastante sinceras.

Para concluir, podemos ver que temos tudo o que necessitamos para evitar que tudo isto se repita, porque o fim de todas as guerras é sempre trágico. São necessários filmes chocantes e revoltantes como este para mostrar que para cada ato, há a sua respetiva consequência.