É este, muitas vezes, o prólogo de uma conversa entre um estudante de Línguas Aplicadas e um outro indivíduo. Este, geralmente mais ou menos enviesado em relação à realidade paralela universitária e social, demonstra-se pouco ou nada convencido da existência desta licenciatura.
Permitam-me, após uma introdução tanto ousada quanto audaz, compreender a importância do conhecimento das áreas “das Letras e das Línguas” na atualidade, que têm tanto daquilo que podem oferecer, como daquilo que ainda não foram exploradas. Se, para uns, a licenciatura em Línguas Aplicadas na Universidade do Minho se limita à aprendizagem e tradução de línguas, para outros, esta restringe-se a uma vaga noção de literatura, confluindo-se com a capacidade de escrita e oralidade.
Acredita-se, numa perspetiva histórica, que o conceitode linguagem – representado nas suas várias formas, sentidos e sentimentos – foi fortemente influenciado pelo aparecimento de línguas, enquanto poderoso meio de comunicação entre povos, capaz de unir inimigos e afastar irmãos. Naquilo que ao senso comum se refere, hoje as línguas são vistas maioritariamente como uma ferramenta de trabalho e cooperação entre os vários estados que integram esta comunidade (cada vez mais global) em que vivemos.
Ainda que esta definição holística do contributo comunitário das línguas me possa satisfazer, não quero acreditar que estamos limitados à circunferência que nos leva de um papel para outro, de boca em boca e de povo em povo. Acredito que a importância de cada letra no espaço correto, cada palavra no contexto que lhe é destinado e cada frase no texto que a deve inserir, extrapolam as necessidades básicas da comunicação.
Neste sentido, num momento em que as ciências exatas são destaque – tal como devem ser -, numa realidade em que cada cidadão tem preferência da vacina “x” sobre a vacina “y” e muitos são donos da própria saúde, permitam-me, uma vez mais, reforçar a importância, entre linhas e mais atual do que nunca, das línguas e do conceito que as envolve. A praticidade, quase mágica, com que conceitos tão abstratos e específicos como “Covid-19”, “hidroxicloroquina” ou “distanciamento social” se tornaram tão comuns e acessíveis do ponto de vista intelectual a todos os cidadãos, pode ser surpreendente.
Deste ponto de vista, podemos referir o trabalho exaustivo de várias áreas que trabalham em cooperação: sejam as ciências da saúde, as engenharias, a comunicação, entre várias outras e, por fim, com uma pequena voz, entre linhas, as línguas. É precisamente neste ponto que o conhecimento de vários domínios da sociedade – Economia, Saúde, Direito, Engenharia – é fulcral na formação de um aluno de Línguas Aplicadas. A morosidade de uma tradução que envolva termos técnicos de instrução de uma vacina ou a precisão da definição entre “Social distancing” e “Physical distancing” podem e devem ser vitais no combate a um problema que tanto nos assola e atormenta.
Enquanto estudante de Línguas Aplicadas, não me revejo num afastamento da realidade que me circunscreve. Pelo contrário, procuro formas de a melhorar e aperfeiçoar por meio daquilo a que posso aceder. Assim, ainda que de uma forma suave e discreta, a nossa formação pauta-se pelo rigor, pela precisão e pelo significado. Dar significado àquilo que nos rodeia, em todos os momentos, para todas as pessoas, independentemente da sua literacia científica, cultura ou etnia.
Por fim, acreditando que o nosso trabalho será sempre de quebrar barreiras, sejam elas linguísticas, culturais ou sociais, não nos esqueçamos da atualidade e urgência em manter a distância física (Physical distancing). Isto sem nunca comprometer os laços sociais (Social distancing) que nos unem enquanto um só.