Ma Rainey: A Mãe do Blues é uma longa-metragem de George C. Wolfe. Um filme de época bem conseguido, com diálogos e monólogos inteligentes e duas performances de cortar a respiração. A obra cinematográfica estreou em dezembro de 2020.

Em 1920, numa tarde muito quente, em Chicago, uma banda espera pela sua protagonista, Ma Rainey, também conhecida como “A Mãe do Blues”, protagonizada por Viola Davis. O calor adensa ainda mais um ambiente que já parecia tenso. Levee (Chadwick Boseman), o trompetista, que se mostra ser bastante ambicioso desde o primeiro segundo, começa a incitar os colegas para ações que mudarão o rumo da sua vida. Do outro lado da porta, Ma trava uma batalha com o seu produtor, um homem branco, pelo direito de controlo da sua própria música.

Os diálogos e monólogos constituem uma grande parte do filme. Alguns são bastante poderosos e, no geral, inteligentes e bem escritos. Nomeadamente uma das falas proferidas por Levee, onde nos é praticamente impossível não a associar ao estado real de Boseman (que aquando das gravações já se encontrava numa fase bastante avançada do cancro que viria a pôr termo à sua vida em Agosto de 2020) e que, portanto, ganha uma outra dimensão.

Apesar do filme representar algumas pessoas reais, como o caso de Ma Rainey, ele não é biográfico. Aliás, parece mais um pretexto para abordar o tema do racismo e do domínio branco no mundo das artes, mesmo num estilo musical de origem africo-americana. O argumento, no geral, é bom. O tema é pertinente e está bem escrito, contudo está longe de ser genial.

O que dá verdadeiramente poder a todo o filme são as performances de Boseman e de Viola Davis. A atriz, como já é do conhecimento de todos nós, independentemente do estilo, em todas as produções que aparece, rouba o holofote. A sua expressividade é bastante forte e peculiar e serve perfeitamente para este filme tão tenso. Já Boseman é que foi uma surpresa inesperada. Conseguir sobressair num filme com Viola Davis é de louvar. A sua performance foi bastante sincera e impactante. Contudo, estes dois atores são donos das suas próprias cenas, visto que raramente partilham momentos, algo que gostaria de ter visto a acontecer mais.

Ao som de uma banda sonora exímia, completamente da autoria de Brandford Marsalis, o filme de época ganha bastante expressão. Aliás, o retrato de época está bastante bem feito visualmente. Para além disso, o ambiente tenso, claustrofóbico e quente que devemos sentir no filme, se não é conseguido pelas palavras, certamente é conseguido por toda a paleta de castanho e amarelos que faz a produção.

No geral, Ma Rainey: A Mãe do Blues é um bom filme. O guião não é extraordinário, contudo as performances valem bastante a pena. Aliás, Boseman e Viola Davis já foram nomeados para diversos prémios, inclusive para o Globo de Ouro de Melhor Ator/Atriz. Uma mensagem pertinente acompanhada de boa música e de uma performance de despedida incrível.