Já lá vão os dias em que os filmes noir eram a regra na famosa Era de Ouro de Hollywood. Se realmente existe uma única época de Ouro para esta indústria, eu não sei, mas que Mank é um filme que retrata o valioso poder do cinema é inegável.
Com lançamento limitado nos cinemas pela Covid-19 no dia 13 de novembro de 2020, Mank começou a ser reproduzido, mundialmente, no dia 4 de dezembro na plataforma Netflix. A obra representa um tributo à indústria cinematográfica que tanto agrada os membros da Academia, o que torna este filme, um dos prediletos aos Óscares.
Escrito por Jack Fincher, o “script” estava pronto desde os anos 90, porém, nunca chegou a ser realizado. Em 2003, Fincher faleceu, mas, em 2019, David Fincher, filho de Jack, anunciou que o projeto iria ser desenvolvido, assumindo ele o cargo de realizador.
A narrativa relata um excerto bibliográfico da vida do guionista Herman J. Mankiewicz, mais conhecido como Mank, e o seu envolvimento na redação do filme, vencedor de um Oscar, Citizen Kane – O Mundo a Seus Pés (1941). Enquanto se recupera de uma perna partida devido a um acidente de viação, Mank (Gary Oldman) é contactado por Orson Welles (Tom Burke), que desfruta de uma imensa liberdade criativa atribuída pelas RKO Pictures, para redigir o guião do seu novo filme.
Ao longo da produção cinematográfica, dançamos entres os acontecimentos do presente e do passado, que nos fazem compreender o porquê de Mank escrever determinado conteúdo no guião. A película engloba referências às mais celebres personalidades daquele tempo como Marion Davies (Amanda Seyfried), com quem Mank desenvolve uma amizade interessante, William Randolph Hearst (Charles Dance), homem sobre quem seria o filme Citizen Kane, Louis B. Mayer (Arliss Howard), John Housemann (Sam Troughton), entre outras.Este olhar biográfico dá-nos a conhecer supostos traços da personalidade de Herman. Dá-nos a conhecer as suas perspetivas políticas, o alcoolismo, as apostas ilegais em que se envolvia e o sofrimento que causava à sua esposa.
Ainda que seja uma película irregular que revive no preto e branco, nada comum no século XXI, Mank é uma obra cinematográfica brilhante que nos relembra os sofisticados e complexos filmes gravados, em Hollywood, na primeira metade do século passado. Com um elenco estupendo que encarna as personagens de forma perfeita, a longa-metragem maravilha-nos também pelos sets bem construídos e pelas paisagens naturais que ganham outro charme com as tonalidades da cinematografia. Não podemos esquecer as cenas gravadas no Castelo Hearst, que apresentam uma relevância enorme para o desenvolvimento da história.
Assim, constitui-se um filme glamoroso que nos faz viajar no tempo até aos curiosos anos que sucederam à Segunda Guerra Mundial e as alterações sociais que se refletiram no cinema. Os menos informados podem perspetivar esta produção como mais uma obra cinematográfica complexa de entender. Contudo, é uma delícia incrível para os amantes da Sétima Arte.