Minari, escrito e dirigido por Lee Isaac Chung, é um dos nomeados para o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro de 2021. Apesar da polémica em torno da indicação, a verdade é que este drama estadunidense transparece, de um modo comovente e cuidadoso, as questões de adaptação e integração dos imigrantes em busca do “american dream”.

À exceção de alguns curtos diálogos, os 115 minutos de filme são sempre falados em coreano. Conhecemos, então, uma família coreana que, no decorrer da década de 1980, se muda para uma região rural do Arkansas, nos Estados Unidos. Para além do choque cultural que estes imigrantes enfrentam, o contraste deste novo meio e do ambiente citadino onde outrora viviam, na costa oeste americana, vai abalar profundamente a estabilidade da família.

Jacob (Steven Yeun), o pai do agregado, sonha em construir a sua própria fazenda, onde pode cultivar produtos coreanos e vender à comunidade estrangeira. Para isso, arrisca as suas economias e até mesmo o seu casamento. No entanto, esta história familiar foca-se no filho de Jacob, David, um menino de sete anos com dificuldades em adaptar-se à nova rotina do campo. Apenas no momento da chegada da sua avó materna à pequena fazenda é que David começa a acomodar-se À mudança.

Com Minari, Lee Isaac Chung mostra-nos um fragmento da sua infância. Também o cineasta é fruto de uma imigração, tem descendência coreana e cresceu numa quinta no interior americano. Ao criar esta longa-metragem, julgo que uma das suas finalidades seja a de consciencializar o espectador relativamente à realidade do choque cultural e das advertências financeiras e emocionais que advêm das imigrações.

Jacob e a sua esposa, Monica (Yeri Han), trabalham como selecionadores de pintainhos, numa criação de galinhas. No entanto, Jacob ambiciona por mais, deseja construir a sua própria produção de alimentos coreanos. Mesmo que isso implique certas abdicações.

O papel de Steven Yeun, na longa metragem, é notável. O ator protagoniza distintamente a determinação veemente de Jacob, a sua constante inquietação em proporcionar bem-estar à  família, e a sua genuína paixão pelo campo. Jacob sente a necessidade de cuidar de tudo e de todos, mas sem nunca ponderar renunciar o seu sonho. É, sem dúvida, uma personagem com grande resiliência.

Ao longo desta obra cinematográfica, o espectador consegue observar plenamente os pormenores simbólicos que sustentam todo o enredo. Há detalhes fundamentais que constroem as personagens e delineiam o ambiente sociocultural que as rodeia. A nostalgia transportada pela avó, ao presentear a sua filha com produtos nativos da Coreia, constitui, ao mesmo tempo, a novidade. Para David e a sua irmã mais velha, nascidos nos EUA, surge o inédito e a descoberta de novos costumes. A avó representa, portanto, a mudança no seio familiar. É certo que Jacob e Monica se esforçam para se integrarem na comunidade rural, ao frequentarem, por exemplo, a igreja local. Contudo, é com a chegada da avó Soonja que a adaptação e a tranquilidade irrompem.

O próprio título apresenta uma metáfora germinada pela junção de pequenos detalhes que simbolizam o aparecimento da avó. Minari é uma planta aquática asiática, comumente utilizada na culinária. É Soonja que a leva para a fazenda, na esperança de que a erva possa brotar e multiplicar-se. Em “solo forasteiro”, esta planta irá prosperar. O mesmo espera-se que suceda com a família coreana.

Minari conforta-nos pela sua simplicidade, subtileza e ternura, contagiando-nos com sorrisos sinceros. É uma lufada de ar fresco, mas, acima de tudo, uma manifestação de determinação, integração e união.