Na passada sexta-feira, a Câmara Municipal de Ponte da Barca e a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens do município dinamizaram um debate em torno da violência no namoro.
Em direto da página de Facebook do município, a Câmara Municipal de Ponte da Barca e a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens da região dinamizaram um debate em torno da violência no namoro. A conversa, mediada por Cristina Fonseca, técnica do concelho, iniciou-se com a apresentação do vídeo “Amor Puro, Amor Seguro”, produzido pelo Contrato Local de Desenvolvimento Social, um projeto promovido pelo município e pela Santa Casa da Misericórdia de Ponte da Barca.
Tal como explicado, a curta-metragem conta com a participação das crianças do Jardim de Infância e Creche José Carneiro Bouças e visa sensibilizar a população para os maus tratos e violência no namoro, explorando a influência que a educação tem sobre o comportamento e desenvolvimento das crianças.
Perante o lançamento da campanha nacional #NamorarSemViolência e o lançamento do estudo da UMAR, o presidente da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Ponte da Barca, José Alfredo Oliveira, sublinhou a relevância da iniciativa “Namorar não é ser Don@, Violência não é Amar”.
José Alfredo Oliveira enfatizou ainda que as entidades públicas têm uma responsabilidade acrescida em desconstruir o silêncio em torno de temáticas como esta. Fazendo alusão ao estudo da UMAR, o presidente reforçou que “não é normal que mais de metade de cinco mil jovens, que foram tidos neste estudo, com idades compreendidas na escolaridade obrigatória, considerarem que é normal atitudes de violência”.
Sendo assim, afirmou que “estes tipos de prática, de atitudes, de crimes, não podem ser tidos como normais, não pode haver tolerância”, concluindo que “tem-se mesmo de praticar a intolerância”.
Enquanto presidente da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Ponte da Barca, José Alfredo Oliveira espera que eventos como este incentivem “a que mais agentes públicos participem nestes debates” e “a que este assunto seja abordado permanentemente pelas entidades públicas, mas também pela sociedade em geral”.
Da mesma forma, espera que se “reforce o conhecimento causa sobre este problema” e que se estimule a divulgação de todas as linhas de apoio para jovens que sofrem com a violência no namoro. “Vamos desmistificar, vamos esclarecer, vamos apoiar, pois, apenas assim, cumprimos com a nossa missão”, rematou.
O presidente da Câmara Municipal de Ponte da Barca, Augusto Marinho, acredita que ainda há um longo caminho a percorrer. De qualquer das formas, vê esta iniciativa como “mais um contributo para colocarmos este tema em cima da mesa e alertarmos para a preocupante realidade”.
O autarca voltou a recordar os dados obtidos pela UMAR, referindo que é assustador que “quase sete em cada dez jovens, que participam neste estudo, achem legítimo o controlo ou a perseguição na relação, e que quase 60% admita já ter sido vítima de comportamentos violentos”.
Augusto Marinho esclareceu que, muitas das vezes, “pensa-se que a violência doméstica está associada a um comportamento de pessoas com um pensamento mais antigo e que as mentalidades têm vindo a ser alteradas”. No entanto, o que o assusta é o facto dos dados revelarem precisamente o contrário.
Sendo assim, conclui que esta iniciativa tem de se replicar, “os municípios, as entidades públicas e todos nós devemos falar sobre esta realidade” e que se tem de optar por uma “atuação musculada, uma abertura e um comprometimento em divulgar a realidade e os mecanismos de apoio existentes”.
Desta forma, recordou que o município de Ponte da Barca apresenta um conjunto de instrumentos e de medidas para responder às necessidades específicas da temática. Augusto Marinho apontou assim o protocolo Territorialização da Rede Nacional de Apoio às Vítimas de Violência Doméstica, a candidatura para a elaboração de Planos para a Igualdade e a candidatura ao 1.º Direito – Programa de Apoio ao Acesso à Habitação.
Por fim, o presidente da Câmara Municipal de Ponte da Barca sublinhou que “temos obrigação de intervir”. Acrescentou ainda que “aquele ditado antigo, “entre marido e mulher não se mete a colher”, está ultrapassado”. Deste modo, recordou o Serviço de Informação às Vítimas de Violência Doméstica: a linha telefónica, 800 202 148, e a linha de SMS, 3060.
A psicóloga e coordenadora geral do Gabinete de Atendimento à Família (GAF) de Viana do Castelo, Leandra Rodrigues, adiantou que os resultados do estudo da UMAR são, efetivamente, “os dados do momento e que nos põem a pensar seriamente”.
Antes de avançar, aproveitou para recordar a “alguma experiência” que o GAF de Viana do Castelo tem nesta temática. Instituída há 26 anos, a IPSS conta com a primeira Casa Abrigo específica para mulheres vítimas de violência doméstica do país, com um Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência Doméstica e um Centro Temporário de Acolhimento de Emergência para vítimas de violência doméstica em período de pandemia, entre outros projetos.
Seguidamente, referiu a importância de uma implementação contínua de iniciativas de prevenção. “Quando falamos de violência doméstica, falamos, sem dúvida, de respostas remediativas, de respostas de acolhimento, de respostas de proteção às vítimas, mas falamos também de uma, sem dúvida alguma, perspetiva de preventiva, de sensibilização, mais abrangente, mais universal”, explicou.
Leandra Rodrigues apontou que a violência “nos reporta para a sociedade patriarcal, para o domínio da figura masculina e para a submissão da figura feminina”. Proferiu ainda que, apesar dos jovens não reconhecerem esta realidade, “os jovens de hoje são fruto de toda uma educação e de todo um contexto que o passado traz”. Sendo assim, a coordenadora realça a necessidade de “construção de novas masculinidades.”
Por fim, a presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, Sandra Ribeiro, aproveitou para enaltecer a oportunidade e importância deste evento sobre prevenção e combate à violência em vésperas do Dia dos Namorados.
Tal como Leandra Rodrigues, a presidente fez referência à pertinência da discussão do papel das novas tecnologias na violência no namoro. Sandra Ribeiro afirmou assim que “o mundo está sempre em permanente mudança, mas que, neste momento, está a mudar a uma velocidade alucinante”.
Nesta crescente mudança, apontou o aumento do poder das redes sociais e o reforço da manutenção do fosso geracional entre adultos e jovens. “É o clássico conflito geracional, “o velho sabe que o novo sempre vem”, não sei se lembram da música que Elis Regina cantou. Mas o que vemos é que a desigualdade no tipo de capacidade tecnológica e no uso de plataformas digitais entre adolescentes e os seus progenitores é, neste momento, abissal”, referiu.
Tal como apontou, este novo mundo, “que escapa à maioria dos adultos”, é um dos potenciadores “da diversificação de formas de violência entre os jovens e adolescentes”.
Reiterando tudo o que foi referido pelos restantes oradores, Sandra Ribeiro aproveitou para deixar claro que os “namoros violentos não são apenas aqueles que deixam marcas na pele. Qualquer forma de controlo e exercício de poder de uma pessoa sobre a outra num namoro, presencial ou através das redes sociais, não é sinónimo de amor, não é uma relação saudável entre duas pessoas que se amam”.