Nomadland Sobreviver na América é o segundo filme da realizadora Chloé Zhao e é um dos mais cobiçados deste ano. A longa-metragem conta a magnífica performance de Frances McDormand e assume-se como uma força da natureza, cheio de sentido e sentimentos. A obra cinematográfica demonstra perfeitamente as vária situações socioeconómicas difíceis do Ocidente.

Em Nomadland Sobreviver na América, após o colapso de uma cidade na zona rural de Nevada, nos Estados Unidos, provocada pelo fecho da fábrica que construiu a cidade, Fern (Frances McNormand), uma mulher de 60 anos, entra na sua carrinha e parte para a estrada. Esta começa a viver assim como uma nómada moderna, em que a estrada não ocupa apenas o desenvolvimento da história, mas também o início e o fim.

A atriz principal sai à procura daqueles que integraram a obra-base. Swankie, Linda May, Bob Wells e muitos outros cruzam o caminho da protagonista e cedem-lhe determinados conhecimentos. Seja dicas de como sobreviver na estrada, seja ensinamentos sobre a vida no geral. Todas estas personagens e as conversas são capazes de cativar o público de uma forma tão íntima, porque não estão apenas a ler as linhas do roteiro, mas a expor as suas próprias experiências. A naturalidade e simplicidade como as palavras são pronunciadas, em frente à câmara, é ainda outro mérito alcançado pela diretora, que assume um tom quase documental em certas cenas.

Por outro lado, a bússola, o motor principal que guia o espectador pela viagem é Fern, interpretada brilhantemente por McDormand, que cada vez se revela uma das melhores atrizes da época atual. Entretanto, o que surge é uma figura única e repleta de camadas. Uma mulher que tenta transparecer firmeza (às vezes, frieza), quando, na realidade, está constantemente a tentar esconder a sua fragilidade emocional. A personagem passou 60 anos a viver numa relativa estabilidade da classe média e, de repente, precisa de enfrentar uma realidade de incertezas. Mesmo no meio de tantas dificuldades, Fern não tem vergonha da vida que leva. “Eu não sou sem teto, sou apenas sem casa”, diz ela após ser confrontada por uma criança. As personagens expõem-se como uma mulher livre, independente e firme sobre as suas decisões e, assim, o filme explora a dependência criada em relação a essa liberdade.

O diretor de fotografia Joshua James Richards já tinha trabalhado com Zhao nos seus dois filmes anteriores, sempre destacando a beleza natural do interior dos Estados Unidos. Em Nomadland Sobreviver na América, os planos demonstram a pequenez da protagonista diante do mundo que ela está a descobrir e percorrer. No entanto, o foco central não é oprimi-la diante da natureza, pelo contrário, é mostrar a beleza das paisagens e a conexão criada pela personagem principal. Isto é visível na cena na qual esta flutua nua num rio. Em vários momentos, as imagens tornam percetível a influência da filmografia, principalmente na forma como a natureza é captada de maneira quase monumental.

Zhao faz o público viajar com Fern, faz sentir as suas dores, alegrias e incertezas, enquanto apresenta diversas vidas normalmente invisíveis. Quando o “sonho americano” falha, a sociedade capitalista tenta manter essas pessoas sem voz. Nomadland Sobreviver na América é um altifalante colocado na boca dos que são postos de parte, sem condições de vida. Fern é uma personagem, que mesmo depois de todas as dificuldades, vive positiva e alegre. Fern nunca desiste da sua luta para sobreviver e triunfar na vida. Cabe a nós estar dispostos a ouvir e perceber como o sistema é falível e está constantemente subjugando àqueles que não têm o poder.