Em "Alma de Artista", olhamos para Quim Barreiros, que celebra, este ano, 50 anos de carreira. O músico esteve à conversa com o ComUM, onde relembra alguns momentos do seu percurso.
Joaquim de Magalhães Fernandes Barreiros nasceu em Vila Praia de Âncora a 19 de junho de 1947. É músico desde tenra idade, algo que aprendeu com o seu pai, acordeonista. O pai, Joaquim Barreiros, tinha um conjunto musical, o “Conjunto Alegria”, onde Quim Barreiros – nome acarinhado pelo público – começou a carreira aos nove anos.
Além do grupo do pai, Quim tocava nos mais famosos ranchos folclóricos da região: o Grupo Folclórico de Santa Marta de Portuzelo e o Grupo Folclórico de Afife. Após a adolescência, partiu para Lisboa, onde tocou em salas de fados e folclore. Ingressou na Banda de Música da Força Aérea, enquanto cumpria serviço militar, e aí “começou a ascensão”, conta o músico.
O primeiro álbum, esse lançou-o em 1971 (faz, este ano, 50 anos). Quim Barreiros refere que este é “um marco bonito” e que vai continuar a tocar até que a saúde o permita. Para já, sente-se com força para saltar nos vários palcos em que atua e tem pena que a pandemia tenha posto de lado os concertos. O cantor, conhecido pelas músicas com duplo sentido, assume a vontade de regressar ao Enterro da Gata, para pôr toda a gente a “mamar na cabritinha”.
Ao longo destes 50 anos, foram vários os locais, os palcos e os concertos. Passou bons e maus momentos, tal como outros artistas. Para Quim Barreiros, quando se atinge um determinado grau, é difícil; é preciso “trabalhar muito” e ter perseverança.
De momentos marcantes, não há um que o músico destaque, mas guarda com carinho a primeira vez que foi chamado a tocar em festas académicas, em 1988. “Acho que essa época foi marcante para mim”, refere. Desde essa altura não tem parado, percorrendo várias cidades universitárias com a sua música. Apesar de os anos passarem, os estudantes continuam “a vibrar” com as músicas de Quim Barreiros.
Nos primeiros anos de carreira, os meios de que dispunha eram mais escassos. Tinha apenas um acordeão desafinado e uma concertina, “porque era barato”. Entretanto, admite que a técnica melhorou, “felizmente”, bem como os concertos e a produção. Atualmente, “tudo é mais fácil”, afirma.
Apesar do longo percurso musical, nada mudou naquilo que são as exigências de Quim Barreiros para com as comissões de festas. Os requisitos são “básicos e mínimos”: um palco e um jantar, após os testes de som durante a tarde. Além disso, água para o camarim e o pagamento antes de iniciar o concerto.
“Para nós, é uma felicidade quando o público também faz parte do espetáculo”
Durante os 50 anos de música gravada, Quim Barreiros já atuou para diversos públicos e em palcos com dinâmicas diferentes. Para o cantor minhoto, o povo português não é uniforme. Há terras onde “toda a gente colabora e tudo canta” e outras onde as pessoas não se mostram “tão felizes e irreverentes”. Apesar dessa diferença no público, Quim Barreiros sente que estes “gostam na mesma, porque enchem os recintos e não saem de lá”. “E, para nós [artistas], é uma felicidade quando o público também faz parte do espetáculo”, admite.
O cantor salienta que as festas e a música são parte importante na vida das pessoas e que é percetível a alegria nas suas cantigas. “É um desabafo”, considera. Explica ainda que, nas festas, para além da componente religiosa, o divertimento “é uma das coisas importantíssimas” para tudo funcionar. “O dançar faz muita falta, o cantar faz muita falta”, reforça o músico.
Quanto ao duplo sentido das suas letras, o cantor acredita que isso justifica, em parte, o seu sucesso, mas refere que a dualidade sempre esteve presente na literatura portuguesa, desde as cantigas de amigo às cantigas brejeiras e de maldizer. “Sempre existiu, isso é um ramo nosso. É uma herança da nossa língua. E eu simplesmente segui essa vertente de dar dois sentidos à mesma coisa”, esclarece Quim Barreiros.
“Se não fosse o Quim Barreiros gostava de ser… o Quim Barreiros”
Do seu repertório, o músico admite não ter uma música preferida, já que as considera “todas bonitas”. Apesar de ser considerado, por muitos, “o Rei do Pimba”, Quim Barreiros não se identifica com a alcunha e prefere ser conhecido como “um cantor popular que as pessoas gostam de ouvir”. A música popular é, aliás, o estilo que o artista prefere ouvir. Quim afirma adorar a música popular portuguesa, embora também aprecie canções estrangeiras e de outros estilos, tais como música clássica e fado.
Um dia que termine a carreira, o artista deseja que toda a gente continue a cantar as suas músicas e que essa seria a melhor forma de ser lembrado. O artista sente que não deixou nada para trás por ter optado por “este estilo de vida”. “Se não fosse o Quim Barreiros gostava de ser… o Quim Barreiros. Não trocava por nada”, conclui.
Artigo por: Adriana Brito e Mariana Areal