“Sente a tua escolha” é uma marca criada por dois estudantes finalistas de Engenharia Mecânica da Universidade do Minho.
“Sente a tua escolha” é a marca criada por Paulo Pinheiro e Tiago Azevedo, estudantes finalistas de Engenharia Mecânica da Universidade do Minho. Esta prima pela inovação constante e conjuga a praticidade e a sustentabilidade com um “twist” nacional. O seu primeiro produto é um porta-máscaras em cortiça que funciona simultaneamente como uma carteira.
A sua maior fonte de inspiração que, mais tarde, despoletou o seu grande projeto foi quando estavam em “pleno confinamento, em casa, um bocado sem saber o que fazer” e depararam-se “com a falta, em relação ao uso das máscaras, nomeadamente, como as guardar”, explica Tiago. Nas palavras de Paulo: “Quando eu e o Tiago íamos sair no verão, quando tudo estava mais tranquilo em termos de saídas, e íamos ao café e víamos toda a gente com as máscaras no cotovelo ou nas pernas”.
A partir desse momento, diz Tiago, começaram “a pensar numa solução, inclinada sempre para opções sustentáveis e, então, surgiu a cortiça”. “Vimos que era um produto ecológico que tinha propriedades impermeáveis, levando uma camada extra para garantir ainda mais impermeabilidade e que permitia ser desinfetada”, que era o pretendido.
O material escolhido para “dar vida” ao porta-máscaras que tinham idealizado, foi a cortiça, por vários motivos. De acordo com Paulo, “vimos que já havia pessoas a fabricar produtos do género em plástico ou em cartão, mas nós procuramos sempre a alternativa mais sustentável. Começamos a procurar e vimos que existiam uns materiais sintéticos que dizem que são sustentáveis, mas ao analisar ao pormenor vimos que não são assim tanto”.
Para além de que “a cortiça tem um carácter muito português e está ligada, de certa forma, com a nossa História”. Paulo confessa ainda que “no início, o interesse pela cortiça não era tanto como agora, foi desenvolvendo até se perceber que é muito versátil”. “Nunca pensamos poder ter tantas cores como as que temos agora disponíveis”, admite igualmente.
É possível afirmar que é um produto que se distingue da concorrência, não apenas pelo seu design, mas por todo o trabalho e empenho por detrás. Tiago defende que “no fundo, o consumismo flui sempre para a grande produção e para a exportação”. Assim sendo, Tiago acredita na importância de dar mais valor aos pequenos negócios, cada vez mais procurados, em vez das grandes corporações.
“Eu acho que temos de começar a pensar em haver mais pequenos produtores e procurar que os produtos sejam de melhor qualidade, que sejam nacionais e que deem emprego. Uma das coisas que nós nos admiramos é que ainda não tínhamos o curso acabado e já estávamos a empregar uma pessoa”, defende Tiago.
Por sua vez, Paulo acrescenta também que “com a pandemia, o mercado da cortiça, a nível nacional, parou. Quem consumia eram aquelas lojinhas nas baixas das cidades que vendem produtos aos turistas. Então o mercado da cortiça foi muito abalado. Claro que não produzimos aos milhares e milhares e milhares como essas lojas, mas acabamos por ser uma alternativa. Tentamos que o produto não fosse só um porta-máscaras, mas que tivesse a possibilidade de transportar dois cartões. Temos todo o cuidado no que diz respeito à embalagem, ao tempo de entrega”. Ou seja, acaba por ser uma experiência de compra mais pessoal e próxima do consumidor.
Quanto à recetividade das pessoas face ao primeiro lançamento, Paulo diz ter sido boa e que ambos estão satisfeitos. Porém, lembra que “a recetividade tem sido boa, porque o que se está a vender é um produto que ajuda toda a gente”. “Não nos dá um gosto extremo ao trabalhar com um produto associado à pandemia e às máscaras. No entanto, achamos que é muito importante ter um cuidado específico com as máscaras e saber como protegê-las”, ressalva.
Semelhante ao que foi referido anteriormente, Tiago afirma que o público-alvo do porta-máscaras é toda a gente, “porque toda a gente deve usar máscara e deve atentar a como a guarda”. Mas não tem dúvidas de que o público mais recetivo é “o da sustentabilidade, quem procura sempre os negócios locais, os produtos nacionais, ou os que gostam da cortiça e pessoas que gostam de apoiar ideias inovadoras”.
Quando interrogados sobre as etapas de produção, Paulo sorriu, dizendo que “ainda agora estamos a aprender como montar um negócio e a perceber como criar um produto de modo a que seja viável a sua venda”. No início, para perceber ao certo o preço da fabricação, mesmo que fosse feito por outrem, puseram as mãos à obra: “encomendamos a cortiça, para começar a perceber sobre o mercado e fizemos os primeiros protótipos e desenvolvemos o produto”. Mais tarde, as carteiras/porta-máscaras começaram a ser feitas por “um especialista neste género de produtos, para podermos ter outros acabamentos” que conferissem um melhor resultado. “Os modelos originais não podiam ter cartão”, mas desde o primeiro dia que o tentavam incluir, contudo, como Tiago recorda, as suas “skills de costura não eram as melhores”.
Segundo Tiago, um dos criadores da marca, “o problema inicial foi a nível dos fornecedores”, porque não conheciam e andavam “a comprar bastante caro”. Mas a etapa mais complicada de todas, explica Tiago, “foi chegar aos clientes”. “Tudo o que tenha que ver com construir um site, criar as redes sociais, o marketing digital, fazer publicidades, definir preços, tudo isso fomos alterando e melhorando ao longo do tempo”, fazendo desta experiência uma aprendizagem constante e contínua.
A propósito da sustentabilidade e dos resíduos provocados pela pandemia, Paulo defende que “as pessoas começaram a ficar em casa e houve uma redução dos resíduos criados por parte das indústrias”. Contudo, “também há a pandemia das máscaras descartáveis, das luvas, o que causa muitos estragos no planeta. Isso é o mais chocante, ver fotografias de luvas à beira das caixas de multibanco, mascaras também. Assim que houve a alternativa das máscaras reutilizáveis, foi ótimo”, salienta.
“Da nossa parte, o que tentamos fazer desde o início, foi fazer um design minimalista e tentar obter o mínimo de resíduos possível na fabricação do nosso produto”. Porém, adiantaram que estão “a tentar inovar e trazer novos produtos” que não estejam relacionados com a pandemia, pois não querem “essa sombra” sobre a marca.
Tiago sente, também, que a ecologia foi colocada de parte, pois “durante a pandemia eles não se puderam focar no investimento nas energias renováveis”. “Estivemos estagnados nas metas que tínhamos a cumprir. Se anteriormente já tínhamos urgência, agora vai existir ainda mais”, considera.
“Com o objetivo de reerguer a economia e criar postos de trabalho”, investiram nos vários tipos de “energias verdes”. Tiago defende, simultaneamente, que “parte do dinheiro que virá da famosa bazuca europeia” deva ser usado para “adotar políticas sustentáveis, porque é um bom investimento ao assegurar um futuro mais verde”.