A Grande Escavação chegou à Netflix a 29 de janeiro. O filme baseia-se nos acontecimentos reais da escavação de Sutton Hoo, em Suffolk. Juntando factos e ficção, o resultado é uma longa-metragem confortável e sem grandes surpresas.

O filme traz-nos a história, em tempos esquecida, de Basil Brown (Ralph Fiennes), o arqueólogo autodidata que iniciou as escavações de um dos mais famosos tesouros anglo-saxónicos. Em 1939, e com a Segunda Guerra Mundial à porta, Edith Pretty (Carey Mulligan) contrata Brown para escavar os montículos na sua propriedade, com esperança de encontrar algo valioso.

Na primeira metade do filme, o foco é apontado à relação destas duas personagens, bem como ao início das escavações. Notamos que tanto Edith como o seu filho, Robert (Archie Barnes), veem um vazio a ser preenchido com a presença regular de Brown. O jovem acaba por vê-lo não só como um mentor nos campos da arqueologia e da astrologia, mas também como uma figura paternal, de certa forma.

A ação vai-se desenvolvendo sem pressa, sendo quase como uma homenagem a Basil Brown e ao seu trabalho. Os desempenhos de Fiennes e Mulligan nos seus papéis são, sem dúvida, o destaque da primeira hora de filme.

A segunda metade da ação traz consigo ainda mais personagens e narrativas secundárias. As novas personagens tomam a primeira fila da história e empurram as principais um pouco para trás, à semelhança do que aconteceu na vida real. Os enredos secundários acabam por ser pouco explorados por serem introduzidos tão tarde no filme. É o caso do triângulo amoroso entre três destes novos elementos, que se torna o foco principal da história nesta segunda parte.

Assim, ficamos então a sentir que estamos a ver um filme completamente diferente, em que quase toda a história anterior foi descartada. O pouco desenvolvimento das novas personagens dificulta a criação de uma ligação com as mesmas, salvo a exceção de Peggy Piggot (Lily James). Casada com alguém que não a ama de volta, Peggy é a personagem principal desta segunda metade e é quem faz a ação avançar através as suas relações.

Um dos pontos mais fortes da obra cinematográfica durante toda a sua duração é a cinematografia. É carregada de um tom cinzento, tipicamente britânico, e, conjugada com a banda sonora discreta, concretiza a simplicidade da obra. O ponto de maior realce são as performances dos atores. Ainda que se destaquem mais as de Fiennes e Mulligan, todo o elenco é sólido no que entrega ao filme e é o que nos agarra durante os 112 minutos.

Apesar de todo o potencial que demonstrou ter na primeira hora, A Grande Escavação acaba por ser apenas um filme confortável e fácil de ver. As decisões de pós-produção comprometem todo o resultado final, deixando uma obra olvidável e que não faz jus à descoberta de um dos tesouros mais importantes da história da Grã-Bretanha.