Em cada sociedade existem artes que são mais populares do que outras. Estes níveis de popularidade devem-se a diversos fatores, e um deles advém da ligação que se tem com determinada forma de arte. Ao refletir sobre este assunto cheguei à conclusão de que em Portugal existe uma arte que é vista de uma maneira diferente das restantes: a pintura. Posto isto, cabe-me tentar perceber qual é o lugar da pintura na nossa sociedade.
Desde cedo que se incute, ainda que inocentemente, a ideia de que “há quadros que são meia dúzia de riscos numa tela”. A verdade é que por detrás desses “riscos” existe uma mensagem para ser decifrada. É essa ideia que não é transmitida, e consequentemente a sensibilidade e gosto pela pintura, que se perde pelo caminho.
A esta questão junta-se também a atribuição que é dada à pintura como algo que só as elites têm aptidões para compreender. Estes são dois fatores que fazem com que as pessoas cresçam com ideias pré-estabelecidas e acabem por não procurar saber mais sobre o que é de facto a pintura e a relevância que tem.
E as tecnologias, não ajudam? Ou agravam este panorama? A meu ver, as novas tecnologias podem ser o maior aliado na compreensão da pintura, como podem também ser o seu pior inimigo. O lado positivo da internet nesta questão pode refletir-se numa maior facilidade de acesso a determinados conteúdos. No entanto, essas mesmas tecnologias podem servir como distração, onde é dada prioridade a outro tipo de conteúdos mais apelativos aos olhos dos internautas.
Este dilema da sensibilidade à pintura acaba por ser espelhado em várias situações. Este domingo, o jornal Público noticiava a degradação de museus públicos e de Arte Antiga, onde as instalações dos mesmos e as próprias coleções estão a ser postas em risco. A notícia explicita problemas como falhas na segurança, na ventilação dos espaços ou números baixos de recursos humanos. Tudo isto leva por arrasto as próprias obras, como o espólio do Museu Nacional de Arte Antiga, que se encontra bastante vulnerável. Com isto conclui-se que há coisas que de facto têm que mudar.
A verdade é que ninguém tem culpa desta situação. Somos vítimas de ideias pré-concebidas que passam de geração em geração, num ciclo inquebrável. Porém, tem que chegar o momento em que se entenda que a pintura é para todos e não é apenas para ser observada, mas sentida.