Os quatro conceitos-chave da Lista C são clareza, dedicação, transparência e participação.
A Lista C é candidata ao Conselho Geral da UMinho como representante dos estudantes. Segundo esta, os seus pilares incluem defender o futuro e fazer valer “a voz que realmente importa- a dos alunos”. Assumindo um compromisso para com os estudantes, a lista demarca-se pela procura de uma representatividade transversal.
O foco da lista reside na defesa de seis áreas: o ensino universal e gratuito, sustentabilidade e um bom quadro legal, condições e infraestruturas, valorização e envolvimento, pedagogia e saúde mental, o respeito e a inclusão. Em entrevista ao ComUM, André Teixeira, o presidente da respetiva lista, defende que “os estudantes não podem ser vistos como a fação mais fraca da academia, quando para todos os efeitos são a fação para a qual ela foi construída”.
ComUM – Quais foram os motivos para organizarem a lista C?
André Teixeira – A Lista C partiu de conversas entre amigos e contactos entre vários níveis. A vontade de chamar a atenção para aquilo que é um órgão particularmente importante, o Conselho Geral e, no entanto, que é distante dos estudantes e da discussão pública. A Lista C surgiu de uma vontade de criar uma discussão pública sobre o Conselho Geral, particularmente, no momento em que achamos que é essencial que ela exista. Vale a pena mostrar que este órgão é importante e que qualquer pessoa pode discutir e intervir neste órgão representativo. Foi dessa vontade de chamar à atenção que nasceu o projeto da lista.
ComUM – Sendo que a abstenção nas últimas eleições do Conselho Geral foi de cerca de 98%, o que está a fazer a lista C para evitar esta tendência e quais são as expectativas já que as eleições e a campanha deste ano são online?
André Teixeira – O facto de a abstenção ser assim tão alta é terrível. Estamos a falar do órgão representativo mais importante da universidade e é a eleição em que há menos envolvimento e conhecimento. A primeira coisa que a nossa lista está a fazer para contrariar isso é, em primeiro lugar, candidatar-se. Não costuma haver grande debate à volta deste assunto porque costumam ser eleições que passam despercebidas. A nossa intenção é, portanto, que isso não aconteça.
Em segundo lugar, estamos a tentar envolver a comunidade académica de várias formas. Para ser honesto, é bastante difícil fazer qualquer tipo de campanha com este distanciamento. No entanto, pelo facto de a universidade não estar a funcionar como desejaríamos, é importante envolver mais as pessoas. Os estudantes estão muito mais no meio digital, muito mais atentos às notícias, procurando soluções para os seus problemas. Assim, o que estamos a fazer é tentar ter uma forte presença digital, envolvendo e elucidando as pessoas sobre o que é o Conselho Geral. Chamar a atenção para a própria campanha é importante para que possamos posteriormente comunicar aquilo que são as nossas causas e princípios.
Queremos também abrir a discussão sobre os aspetos que preocupam e afetam os estudantes e o que podem os representantes do Conselho Geral fazer relativamente a isso. Neste contexto, existem de facto várias questões que envolvem o Conselho Geral como por exemplo: as propinas, as permissões de parque ou a aprovação de infraestruturas. O nosso objetivo é ligar este conceito abstrato àquilo que preocupa os estudantes.
Estamos, portanto, a fazer isto tudo para diminuir a abstenção. Penso que o mero facto de haver várias listas, de haver efetivamente uma campanha é uma maravilha. Não acredito que vamos ter o mesmo nível de abstenção pelo simples facto de haver mais gente envolvida. Quando se fala de um órgão altamente complexo e com um desempenho sobretudo burocrático, é difícil as pessoas perceberem a sua importância. Eu acredito, honestamente, que se os estudantes souberem a forma como as suas vidas são impactadas pelas decisões deste órgão, irão certamente querer saber muito mais e não teremos os níveis de abstenção que temos tido.
ComUM – Quais são as razões para os valores de abstenção serem tão elevados?
André Teixeira – Acima de tudo desconexão, ou seja, as pessoas ou não acreditam no sistema ou não acreditam que a sua voz influencia o sistema ou não acreditam que mesmo que consigam influenciar nada muda. Não exercer o direito ao voto é a única forma completamente acertada de ser irrelevante. Portanto, qualquer tipo de ação eleitoral pode não ter muito efeito, mas algum terá. Agora, não o fazer não provocará qualquer efeito de forma acertada ou comprovada.
Percebo que haja muita gente que pense que não vale a pena, que não compensa, que as pessoas são todas iguais e que os órgãos não funcionam, mas se tivermos esta narrativa não veremos resultados. A abstenção é como um círculo. Se as pessoas estiverem desligadas, o sistema vai funcionar mal e se o sistema funcionar mal, as pessoas estarão desligadas. Para melhorarmos esta tendência, é necessário haver intervenção, alguém ou algum grupo que procure ter voz e tente influenciar mais pessoas a participar e provar que, por mais problemático que seja o sistema, há possibilidade de melhorar. Isto só acontece se houver intervenção e se as pessoas tiverem noção que o seu voto pode fazer a diferença.
ComUM – Existem três listas a candidatarem-se ao cargo de representante dos estudantes. O que distingue a lista C das outras listas?
André Teixeira – Antes de mais, quero dizer que tenho plena confiança de que todas as listas têm intenções positivas. Agora, o que efetivamente nos distingue? Antes de mais, trazemos uma proposta efetiva de transparência daquilo que é a ação do Conselho Geral. Como eu disse anteriormente, é um órgão muito distante das pessoas. Por isso, a Lista C compromete-se, caso seja eleita, a comunicar e a tentar passar a mensagem daquilo que funciona no Conselho Geral sem que os alunos tenham de assistir simplesmente às transmissões ou de estar atentos ao mail institucional.
Este é um ano particularmente importante no contexto do Conselho Geral, é um ano em que irá eleger o reitor. Por isso, os estudantes têm de fazer valer a sua voz e reivindicar aquilo que defendem. Vai haver também a reavaliação daquilo que é o sistema fundacional da universidade e que tem sido um assunto bastante falado. Antes de mais, é importante que saibamos o que é o sistema fundacional, o que fez por nós até agora e se devemos revogá-lo ou não. O que a nossa lista propõe aqui não é propagar o sistema fundacional única e exclusivamente por inércia ou porque dá jeito à universidade. É acima de tudo analisá-lo e discuti-lo, perceber efetivamente se há razões para o manter.
Depois, tentar ao máximo a completa cooperação do trabalho universitário, mas sem servir de braço de apoio. O papel de um estudante nunca será servir de desculpa para as autoridades, mas sim intervir e fazer distúrbio de forma organizada. Sem fazer esse distúrbio, sem ter uma voz diferente, então estamos apenas a abanar com a cabeça. Temos de assumir que não, não haveria de haver custos para estudar, não deveriam existir propinas. As diferenças de propinas para tipos diferentes de pessoas não deveriam ser tão altas. Deveria haver mais apoios por parte da universidade, deveria haver mais apoio da ação social.
Há muita coisa aqui que deveria efetivamente melhorar e temos de ser verbais a dizê-lo, sem medo, sem vazios ideológicos. Os estudantes não podem ser vistos como a fação mais fraca da academia, quando para todos os efeitos são a fação para a qual ela foi construída. Se somos a base da universidade, não devemos ser aqueles que são menos verbais quanto a ela. E depois temos a questão dos estudantes investigadores, que não podem ser precários como muitas vezes o são. Ou os estudantes internacionais que são usados muitas vezes como minas para compensar outras coisas. Isto não é minimamente aceitável se a universidade não investir de volta neles, como parece acontecer.
Temos de ter, portanto, uma voz ativa, chamar mais atenção para os órgãos, pedir mais intervenção estudantil. O que define sobretudo a nossa lista é esta necessidade de assertividade – o facto de não estarmos ligados nem subservientes a qualquer tipo de fação. Somos pessoas de sítios diferentes, que nos unimos única e exclusivamente por laços de cooperação. O que nos distingue sobretudo é a clareza, a dedicação, a transparência. Diferenciamo-nos pela procura da participação e pelo encorajamento. As pessoas devem intervir sempre que puderem e nós queremos dar o exemplo nisso.
ComUM – Tendo em conta todas as restrições causadas pela pandemia, como é que foi organizada a campanha e a respetiva difusão de ideias?
André Teixeira – Não é fácil tentar organizar uma equipa e tentar fazer coisas à distância, preferia fazer presencialmente. Como o fizemos? Com muitas chamadas telefónicas e muitas videochamadas. Mas acima de tudo, foi a vontade e a necessidade de não ficarmos parados, ou seja, aquilo que também é uma grande força motivadora da nossa candidatura é que principalmente num momento como este, ceder ao desespero, à inatividade e à mera continuidade de um dia após o outro, cumprir os mínimos não era aceitável. Portanto, foi a questão de meras pessoas com ideias semelhantes se encontrarem com vontade de construir alguma coisa e, a partir daí, foi tudo carregado por entusiasmo e vontade de trabalhar de várias pessoas de diferentes cursos.
Agora, em termos de campanha envolve redes sociais. Temos de as usar porque são necessárias para não ser uma mera questão de cliques, popularidades ou de contactos, mas sim, uma forma de disponibilizar às pessoas todas as ferramentas para que elas possam perceber a ligação que têm ao órgão.
ComUM – De que forma a lista tenciona implementar na prática os objetivos e as medidas que propõe, por exemplo, no caso das propinas e do alojamento?
André Teixeira – Preciso que as pessoas tenham algo presente: isto não é poder executivo. Nenhuma lista vai poder tomar decisões se algo vai acabar ou não. Não é assim que funciona o ciclo representativo, muito menos num conselho pequeno. Aquilo que pudemos fazer é tomar decisões e votar a favor ou contra determinados assuntos. O que é que o Conselho Geral consegue efetivamente fazer? Consegue por exemplo definir as propinas de acordo com os tetos legais, tetos esses que deveriam descer até à inexistência. O que podemos fazer? Votar contra quando a universidade decide meter a propina no máximo permitido pela lei. Votar contra quando a universidade coloca o 2.º e 3.º ciclos e os estudantes internacionais em valores elevadíssimos como forma de compensação.
Isto é política educativa. Temos de fazer valer a nossa voz, tentar convencer as pessoas que tomam decisões que nós temos razão em relação a vários aspetos. Nós não temos uma solução para acabar com as propinas, mas sabemos que não iremos votar favoravelmente em qualquer posição que permita aumentá-las ou mantê-las nos valores em que estão. Sabemos que é preciso um maior investimento em determinadas áreas. Não iremos aprovar orçamentos que não incorporem esse tipo de investimentos. O que tentaremos fazer através das nossas decisões, que serão públicas, discutidas e justificadas, é defender através do voto as nossas causas.
Nós não temos de dizer onde arranjar o dinheiro para construir o Centro de Multimédia do ICS. Nós temos de dizer que isso é uma prioridade para os estudantes. Eu tenho de simplesmente transmitir aquilo que são as posições dos estudantes e aquilo que são as necessidades efetivas da comunidade académica. Nós existimos para representar os estudantes e é precisamente para isso que nos estamos a candidatar. Queremos defender uma pedagogia mais ativa, uma avaliação mais justa, uma valorização efetiva da saúde mental.
É também essencial atacar a descriminação quando ela existe. Temos igualmente de defender, em todos os momentos, o ensino universal e gratuito. O que nós queremos é que qualquer pessoa que queira estudar no ensino superior, possa fazê-lo. E deve ganhar esse direito com o seu esforço e com a sua vontade. Não deve ser limitado por viver longe, por ter poucos recursos económicos ou por ter dificuldades. O ensino é a principal escada de subida social em qualquer sociedade, é aquilo que constrói o amanhã. Precisamos, acima de tudo, valorizar os estudantes e o seu envolvimento. Perceber que a pedagogia não é só o que fazemos em aula. Aquilo que faz o ensino superior verdadeiramente superior não é estarmos sentados a ouvir uma palestra: é intervirmos. São estas coisas com que queremos ativamente incomodar e criar mudanças.
Eu não me posso comprometer a mudar tudo, porque não posso nem é justo. Também não me posso comprometer a acabar com as propinas caso seja eleito: isso é populismo. Aquilo que eu e a minha lista nos comprometemos a fazer é sermos fiéis aos nossos ideais. A universidade é um sítio complexo com muitas forças opostas e os estudantes devem ser parte desta gloriosa luta democrática que acontece todos os dias. Não podemos ficar a observar.
ComUM – Uma das funções do Conselho Geral é o facto de escolher o reitor. Qual é a tua opinião em relação ao atual reitor e ao desempenho do mesmo, tanto no início do mandato como nesta situação pandêmica?
André Teixeira – Este reitor teve várias posições com que eu concordei, várias posições com que eu não concordei. Teve uma particularidade inegável: não é fácil ser líder em tempos de crise. A resposta à pandemia em determinados casos foi adequada, noutras esteve muito aquém daquilo que podia ter sido. Portanto, apesar de tudo, tenho uma avaliação na generalidade positiva. Passá-lo no exame não quer dizer que o passe com particularmente notas excelentes.
A questão do RESPONDUS, não gostamos dessa ferramenta, acho profundamente errado a universidade valorizar mais o medo de fraude dos docentes do que os direitos fundamentais de personalidade dos alunos. Depois, há algumas decisões que vieram tarde demais, como a atribuição de épocas especiais no ano passado, mudanças regulamentares que não fazem muito sentido e a falta de apoio a cursos específicos. Há muita coisa que precisa ser limada.
Nenhuma pessoa é capaz de tudo, claramente que o senhor reitor não é, mas eu acho que é capaz de melhor e, se quer ser reeleito, temos de exigir melhor e ter uma voz assertiva quanto a esse assunto. Portanto, não renegar aquilo que foram as boas decisões, mas não ficar silencioso quanto às más. Precisa tomar mais responsabilidade na posição dos estudantes internacionais e parar de os tratar como meras pilhas financeiras. É necessário que invista mais em áreas que não têm obrigatoriamente receita. A disparidade que é dada entre o curso de línguas e humanidades ou as engenharias é demasiado grande para ignorar. O dinheiro não cai do céu e não existe só porque sim, mas nós é que decidimos onde é que o investimos.
É fulcral que em todos os momentos em que dizemos que há demasiados custos, a universidade tem de apoiar. O nosso papel é pedir aquilo que achamos que é necessário. Temos de cooperar, naquilo que temos de cooperar, mas nunca ter medo e ter uma voz ativa e assertiva. Acima de tudo, deixar de fingir que os estudantes têm de pagar todas as fraquezas daquilo que é a universidade. Há uma enorme quantidade de rotinas a que a reitoria e a administração se habituaram e que temos de ser mais contra. Como este ano é de eleições, qualquer pessoa que queira ser eleita necessita de votos e nós temos de fazer valer os nossos votos. Temos de fazer valer com compromisso e tentar solucionar alguns destes problemas porque eu acredito que se tentasse um bocado mais, conseguia.
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Artigo escrito por Cristiana Melo e Joana Oliveira
Edição vídeo: Ana Rita Peixoto