Recordando a candidatura à AAUM, Alexandre garante que vai “bater o pé” pelos direitos dos estudantes onde quer que esteja.
O candidato da Lista B para o Conselho Geral, também líder do movimento “Dos Alunos Para os Alunos”, defende como fundamental o fim da existência de propinas e do Regime Fundacional. Neste sentido, não aceita que os estudantes sejam vistos como “clientes”
Com o aproximar das eleições, a realizar no dia 17 de março, o ComUM esteve à conversa com Alexandre Carvalho, procurando perceber as motivações e objetivos fundamentais da sua candidatura.
ComUM: Quais são as principais motivações que te levam a concorrer para o Conselho Geral?
Alexandre Carvalho: No fundo, as motivações são as mesmas de quando concorremos para a Associação Académica. A Lista B é um coletivo de pessoas que sente que a universidade não está a garantir as devidas condições. Há problemas que não são propriamente ditos no Conselho Geral e, claramente, refiro-me à existência da propina. Posicionamo-nos contra a propina em todos os ciclos de estudo e é aqui que também faz sentido realçar uma das nossas grandes motivações: o fim do Regime Fundacional. Até ver somos a única lista que defende o fim desse regime e é nesse sentido que queremos ser eleitos: para defender aquilo que são realmente os interesses dos estudantes.
ComUM: Quais os aspetos fundamentais que diferenciam a Lista B das restantes listas?
Alexandre Carvalho: É uma pergunta muito pertinente. Nós, à partida, se olharmos para os princípios orientadores das listas, parecem-nos estar todas muito alinhadas na mesma coisa. No entanto, o que nos diferencia claramente é sermos uma lista que luta contra o fim da propina e do Regime Fundacional. Este regime permite que empresas privadas alterem os planos de estudos e financiem diretamente a universidade, alterando a sua própria gestão. Queremos dar voz aos estudantes e fazer uma lista de alunos para alunos. Temos um manifesto completo, que coloca como grande bandeira a luta por um ensino público, gratuito, democrático, de qualidade. Acho que somos a única lista que realmente o defende.
ComUM: Porquê que afirmas que a Lista B é uma lista “antissistema”?
Alexandre Carvalho: A questão do antissistema é particularmente engraçada. Nós somos uma lista que não quer, de todo, destruir o sistema que existe. Aliás, nós baseamo-nos na própria Constituição da República que considera que o ensino tem de ser tendencialmente gratuito. Neste sentido, nós não nos consideramos propriamente antissistema. Somos uma lista nova, candidatamo-nos pela primeira vez com o movimento “Dos Alunos Para Os Alunos” à Associação Académica e agora a representantes no Conselho Geral. Não importa se somos sistema ou antissistema, o que importa é que colocamos coisas justas em cima da mesa e é esse o caminho que queremos fazer.
ComUM: A campanha eleitoral, neste momento, tem de ser feita através de plataformas online, devido à atual situação pandémica. No entanto, a página de Facebook da Lista B não tem publicado praticamente nada. Porquê?
Alexandre Carvalho: De momento estamos em condições muito difíceis de fazer campanha eleitoral. Para que se tenha noção, nas eleições para a AAUM conseguimos 850 votos, sendo que cada um foi ganho com muito custo, por vezes ficávamos horas a falar com estudantes para explicarmos as nossas posições. Agora estamos a tentar fazer a nossa campanha por meios digitais, mas acho interessante que seja colocada a questão do Facebook, adiantando, desde já, que irá sair uma calendarização a partir do dia 8 de março até dia 15– o último dia de campanha eleitoral- com uma série de debates sobre a importância da saúde mental, o racismo sentido pelos estudantes internacionais, o Regime Fundacional, a questão das propinas, a precariedade estudantil, entre outros, onde toda a gente poderá interagir e fazer as suas perguntas.
ComUM – És assumidamente contra o regime fundacional. Caso ganhes algum lugar ou todos os lugares no Conselho Geral, a nível de representação estudantil, o que farás para convencer os restantes membros do órgão a revogar a decisão e voltar ao antigo regime de universidade pública?
Alexandre Carvalho: Quando nós olhamos para o número de estudantes, vemos claramente que é superior ao número de professores, de investigadores e até de não docentes, mas mesmo assim os estudantes continuam a estar menos representados no Conselho Geral. Isto também dificulta muito aquilo que é a nossa intervenção. O que é pertinente é, depois das eleições, colocar as coisas em cima da mesa e dizer que os estudantes têm vindo a ser condicionados. Basta ver nos cursos de engenharia: Quantos estudantes não fazem aplicações gratuitas para empresas? E quantos estudantes não veem o seu plano de estudos diretamente ligado a empresas alemãs que vêm procurar capital variável e recursos humanos baratos ao nosso país? Estamos a formar estudantes para que no fundo eles acabem numa empresa multimilionária onde trabalham seis meses e vão embora e estas situações pouco dizem ao Conselho Geral. É isto que vamos abordar no Conselho Geral. Nós não conseguimos mandar no voto dos outros, mas o nosso voto nós sabemos bem qual é: é o voto contra o Regime Fundacional.
ComUM – O reitor Rui Vieira de Castro termina o seu mandato daqui a pouco tempo. Como avalias o seu trabalho?
Alexandre Carvalho: Eu estou na Universidade do Minho há três anos, mas acompanho, claramente, o trabalho do reitor. É de lamentar quando temos um reitor a afirmar que a propina é legítima e que faz falta para o financiamento da universidade. Depois quando tem reuniões com o Governo nada se faz, não se colocam em cima da mesa as dificuldades dos estudantes. Quantos estudantes é que temos na Universidade do Minho que trabalham para pagar propinas? Quantos estudantes temos a trabalhar com os SASUM e que, mesmo assim, ainda têm de pagar propinas e não têm direito ao subsídio de alimentação? Observamos uma reitoria que não está ao lado dos estudantes e, por isso, para mim, é claro o nosso posicionamento. Somos contra a reitoria, sempre fomos, pois achamos que esta não nos representa nem nos defende. Não se preocupa com o estudante por ser estudante, mas sim por ser um cliente. É esta noção com que não concordamos, pois gera um afastamento entre a elite burocrática que governa a universidade e os estudantes que a frequentam.
ComUM: Nas últimas eleições para o Conselho Geral, a abstenção foi cerca de 98%. Tendo em conta que as eleições este ano serão online, tens esperança que abstenção diminua? E como é que a Lista B tenciona incentivar os alunos a ir votar, contribuindo para diminuir a tendência de abstenção?
Alexandre Carvalho: Na altura em que eu falei com o ComUM sobre a abstenção nas eleições para a Associação Académica, dizia que a abstenção não é propriamente porque os estudantes não se importam, nem é por causa de plataformas de voto. É, sim, por os estudantes não saberem que há uma lista ou que há listas que os representam. A plataforma de voto online pode ser claramente uma via para a descida da abstenção, mas o caminho é mostrar aos estudantes que há eleições e o papel da comunicação social aqui é muito importante.
Temos feito as nossas divulgações via online, há também os contactos naturais que vão surgindo. Obviamente que é muito difícil pelas plataformas online chegar a toda a gente, é impossível, são vinte mil estudantes, nem todos nos seguem. Há plataformas e páginas na internet que conseguem ajudar, o ComUM tem um papel preponderante, por exemplo. Nós vamos tentar fazer o máximo possível para mostrar que há eleições, mas queremos mostrar também que somos a lista em que devem votar.
ComUM: O que achas que leva a comunidade académica a votar na lista que representas?
Alexandre Carvalho: Nós tivemos 850 votos para a Associação Académica, na altura eramos a Lista X, e já não se vê uma lista que se candidata a ter tantos votos. O que leva um estudante a votar na lista B é certamente a proximidade que nós temos com eles, o facto de batermos o pé e lutarmos sempre, seja no Conselho Geral ou na Associação Académica, para escutar todos os que acham que a propina e o Regime Fundacional são um problema e significam uma clara elitização do ensino superior. Além disso, também a esperança numa universidade melhor, sabendo que a nossa luta pode não ser uma luta para amanhã, mas sim uma luta a pensar nas próximas gerações.
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Artigo por: Bruno Ferreira e Francisco Paiva
Edição vídeo: Soraia Santo