Alice Cooper é um dos raros artistas que só abandonará o palco se for de maca e, mesmo assim, insistirá para acabar o concerto. Com 73 anos, Vincent Damon Furnier (nome original) lança o 21.º álbum a solo dia 26 de fevereiro. O trabalho é uma forma de homenagem à cidade natal e às histórias aí vividas: Detroit Stories.

O álbum veio provar que o rock não está morto e ainda há quem se mantenha agarrado às origens. Com o contributo de membros originais da banda em junção com os membros atuais e, ainda, com alguns covers mesclados com originais, o trabalho de Cooper (com a ajuda do produtor Bob Erzin) não pode ser descrita como menos de espetacular.

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A primeira faixa deste álbum é um cover da música “Rock n’ Roll”, dos The Velvet Underground e, como o próprio nome indica, é puro rock. Com um leve charme da era de 1970, com Steve Hunter na guitarra e Johnny “Bee” Bedanjek na bateria, é o mote perfeito para os 50 minutos de boa música.

Segue-se “Go Man Go” e é praticamente impossível não associar a sonoridade dos primeiros segundos com qualquer música dos Ramones. Com um momento de guitarra a solo perfeito, o maior defeito desta composição é ter apenas dois minutos e 41 segundos.

A faixa seguinte, “Our Love Will Change The World”, é uma das melhores e piores faixas do álbum inteiro. Por um lado, a “crítica” que é feita à mentalidade das crianças e jovens e ao facto de não existir espaço para crescer como antigamente é tão precisa e irónica que chega a ser assustador. Por outro lado, num álbum de rock nunca seria esperada uma faixa pop. Mas quem era Alice Cooper senão um artista completamente versátil e surpreendente?

A quarta composição de Detroit Stories, “Social Debris”, não é uma obra-prima, mas aproxima-se muito do estilo mais macabro característico da persona. De todo que não parece o mesmo Alice Cooper de “Poison”.

Quem gosta de rock, ou das suas ramificações, sabe que este estilo musical tem muita influência de outros estilos e que a maior parte das letras, por vezes, detêm um tom sarcástico e de brincadeira. Mas nem sempre essa “brincadeira” corre bem e “1000$ High Heel Shoes” é a prova vida disso.

Sabem aquela música que faz arrepiar a pele logo no primeiro acorde e sabemos imediatamente que vai ser bom? A “Hail Mary” é essa música. Em contraste com a faixa anterior, a sexta canção reina pelos acordes da guitarra e dá um enorme destaque à voz de Cooper, além de se sentir uma grande proximidade a outras músicas de bandas como Bon Jovi e Kiss.

Sendo este álbum um tributo à cidade de Detroit, a faixa seguinte engloba em si todo o objetivo desta obra. “Detroit City 2021” é para Alice Cooper como a montanha foi para Maomé, não havia outra maneira de ser senão assim. Os nomes referenciados, as características da cidade, a energia da mesma, tudo em apenas três minutos e 28 segundos. “Drunk and in Love” dispensa palavras. Uma tentativa muito bem conseguida de humor no rock. Apenas isso.

A nona música deste álbum, “Independence Dave” é o meio termo entre diversão e rock & roll. No momento em que já se conheceu tantas versões musicais de Alice Cooper num só álbum, esta faixa serve de digestivo que antecede a segunda parte da refeição.

Como descrever “I Hate You”? Talvez como um extenso dicionário de insultos, de certa forma carinhosos, entre os vários membros da banda. Após cinco álbuns, a banda Alice Cooper decidiu separar-se, mas ficaram amigos e quando entrevistado pela Variety, Alice Cooper explicou a origem desta canção: “Nós pensamos: não seria engraçado se fizéssemos apenas uma música em que nos insultássemos? Então foi isso que fizemos.” Nesta faixa é relembrado Glen Buxton, antigo guitarrista da banda original e falecido em 1997.

As faixas seguintes, “Wonderful World” e “Sister Anne” não se distinguem por nenhuma particularidade. Contudo, são um “adicionar já” à lista de reprodução na esperança do surgimento de alguma viagem longa com amigos onde o volume máximo é a chave de entrada.

A décima terceira composição, “Hanging on by a Thread (Don’t Give Up)”, é um discurso de motivação e compaixão pelo tempo que estamos todos a passar. Para ouvir com atenção a mensagem e para se deliciar a musicalidade e o talento do instrumental.

Os contrastes acentuados entre faixas são algo natural em Detroit Stories e, por isso, “Shut Up and Rock” é extremamente energética, é o exemplo de puro punk pop trash, mas que soa bem. O álbum termina com o cover da música “East Side Story” de Bob Seger’s que, na voz de Alice Cooper, faz com que seja o término perfeito para o que será um clássico daqui a uns tempos.

Alice Cooper arranjou forma de mostrar ao mundo o que era a essência de Detroit e ressuscitar o rock clássico que durante tantos anos esteve “apagado”. Para os fãs do artista, aqui fica mais um álbum monstruoso, para os que não seguem o trabalho deste ícone, aqui fica uma boa recomendação para o caminho de se tornar fã.