A má qualidade e os maus hábitos do sono podem traduzir-se num maior cansaço, maior irritabilidade e menor produtividade.
A qualidade do sono da população sofreu um impacto negativo durante a primeira vaga da pandemia de Covid-19, de acordo com o psiquiatra e professor da Escola de Medicina da Universidade do Minho, Pedro Morgado. O docente esteve à conversa com o ComUM no âmbito do Dia Mundial do Sono, que se celebra esta sexta-feira, dia 19 de março, e falou sobre a forma como o sono foi afetado pelo surgimento da pandemia.
A qualidade do sono é determinada por um conjunto de diverso de fatores. A prática de exercício físico, a organização quotidiana, a disposição do quarto e até mesmo o ritmo diário conseguem alterar os hábitos de sono. Pedro Morgado acrescenta a estes fatores a “saúde, o consumo de substâncias estimulantes, a alimentação, o barulho e a iluminação do quarto, a qualidade da cama, os ritmos e horários seguidos, as atividades que são feitas no período antes de dormir e a existência ou não de doenças”.
O que é certo é que a pandemia veio exibir-se como uma inimiga dos hábitos de sono, introduzindo-se como mais um agente de interferência nas rotinas de repouso. Este facto foi concluído pelo estudo realizado na Universidade do Minho pela Escola de Medicina. Neste projeto, Pedro Morgado explica que se verificou “uma diminuição da qualidade do sono ao longo da primeira vaga da pandemia Covid-19”.
Estes maus hábitos de sono ou a menor qualidade de repouso podem interferir no quotidiano de cada um. O sono, segundo o professor da Escola de Medicina, “é determinante para o funcionamento de cada”. Se as pessoas dormirem pouco e/ou mal, “a sua performance é significativamente afetada”, acrescenta. Os indivíduos ficam menos produtivos, mais cansados fisicamente e mais irritáveis. Além disso, as pessoas tornam-se menos capazes de “usufruir daquilo que lhes faz sentir bem”, explica Pedro Morgado.
As ferramentas utilizadas para combater este problema mantêm-se e continuam a ser aquelas que eram usadas antes da pandemia. “As ferramentas são as mesmas que já existiam”, declara o professor da Escola de Medicina. “Em primeiro lugar, [combate-se os problemas de sono] com mais informação acerca dos determinantes do sono”, menciona. Além disso, saber o que fazer momentos antes da hora de deitar e saber o que fazer quando não se consegue dormir também pode ajudar. “Com a elevação dos níveis de stress determinadas pela pandemia, estas ferramentas tornaram-se ainda mais necessárias e pertinentes”, conclui Pedro Morgado.
Os hábitos de sono podem ser melhorados se os indivíduos tiverem momentos mais calmos antes da hora de deitar, realizando atividades como escrever num diário, preparar a roupa ou refeições para o dia seguinte, fazer alongamentos, organizar documentos ou tratar de animais de estimação. Se as pessoas não conseguirem dormir, estas podem realizar atividades que as relaxem como fazer um jogo, organizar ou arrumar roupas ou gavetas, criar listas de compras ou de menus ou ler um material de fácil leitura.
Se as rotinas negativas de sono se mantiverem, a longo prazo, podem desenvolver-se doenças. “Os maus hábitos de sono estão associados ao desenvolvimento de doenças psiquiátricas, neurológicas, endocrinológicas e cardiovasculares”, mencionou o profissional. As pessoas são aconselhadas a procurar ajuda se percecionarem que o sono não é reparador, ou seja, se estas perceberem que o sono “não chega para recuperar a energia”, declara Pedro Morgado.
Se a pessoa percecionar que “demora mais de 30 minutos a iniciar o sono, que acorda frequentemente durante a noite, que acorda demasiado cedo, ou que tem um sono agitado, deve procurar uma ajuda profissional”, acrescenta. A ajuda profissional deve iniciar-se com uma ida ao Médico de Família para que este identifique “possíveis fatores que possam ser corrigidosu”, conclui.