O ComUM conversou com Luís Fernandes, diretor artístico do espaço cultural que dinamiza a região minhota.

De um antigo edifício da Guarda Nacional Republicana, o gnration (como é geralmente estilizado) transformou-se num espaço “próprio e identitário”. Estas são palavras de Luís Fernandes, diretor artístico do polo cultural, que salienta a sua orientação “para o agora e para o amanhã”. Segundo o responsável, o espaço está idealizado de modo a preencher o “omisso” presente no contexto cultural da cidade de Braga e da região Norte do país. A sua matriz estética e artística revela a vontade de expandir horizontes na produção e fruição artística, que pretende ser “acessível e integradora”.

O gnration surge em 2013 como “edifício-legado” de Braga – Capital Europeia da Juventude 2012.  Assumiu-se, desde cedo, como uma estrutura com ligação às media arts, tendo sido uma das entidades determinantes na construção da candidatura a Cidade Criativa da UNESCO e, posteriormente, na atribuição do título.

Na sua ainda curta história, a configuração e a missão foi evoluindo. Numa fase inicial, o gnration aliou um programa cultural a programas de capacitação para a juventude. Progressivamente, foi alterando o padrão da sua atividade, sendo atualmente uma estrutura inteiramente dedicada a um programa cultural assente na criação contemporânea nos domínios da música e da relação entre arte e tecnologia. Esta dinâmica traduz-se num programa expositivo inteiramente dedicado à dialética arte-tecnologia, bem como no acolhimento do Circuito, o serviço educativo Braga Media Arts e herdeiro do anterior serviço educativo do gnration. As obras e exemplos expostos desempenham um papel fundamental no equilíbrio de relevância artística e apuro tecnológico.

Distingue-se ainda a intencionalidade da dimensão visual dos distintos espaços, na medida em que é traçada uma conexão do conteúdo programático às características e condicionantes do edifício. Tal como Luís Fernandes refere, o espaço procura ser “uma estrutura-interface para o novo”. A sua competente formativa estende-se além dos programas de mediação acolhidos, “refletindo-se no programa em geral pela forma como relaciona os seus públicos com formas frescas de pensar e criar”, explica.

gnration como espaço de inovação

Apesar de certos programas tentarem apelar a faixas etárias específicas, Luís Fernandes revela que, no gnration, pretende-se que “a oferta seja diversificada e chegue a grupos distintos”, o que se reflete na variedade das ações de serviço educativo. Assim, o recinto disponibiliza atividades para que pessoas, com ou sem experiência na área, possam descobrir e explorar o mundo das media arts.

gnration

Além da inclusão, o diretor artístico denota que um dos grandes motes do espaço é a experimentação nos formatos e conteúdo. “É uma dimensão fundamental da nossa missão”, explica, sublinhando que isso se traduz “num número elevado de processos de apoio à criação” recorrentes e que envolvem participantes portugueses e internacionais. Assim, a procura de “propostas relevantes à luz dos nossos dias” é uma constante, acrescenta.

Um dos projetos que tem chamado à atenção é a Galeria INL – Instituto Ibérico Internacional de Nanotecnologia, que procura mostrar a conexão entre arte e nanotecnologia. Apesar de estas poderem parecer temáticas incompatíveis, Luís Fernandes esclarece que “arte, tecnologia e ciência têm uma longa e rica relação” e que parte da missão do gnration é “tornar essa situação mais discernível”.

O responsável acredita também que este espaço marca “uma posição muito particular no ecossistema cultural minhoto”. Diz ainda que o trabalho desenvolvido é complementado por “diversas estruturas relevantes” e que o seu foco é “aumentar o perfil de oferta cultural da região”. Embora considere que o contexto geográfico, cultural e social em que se insere “foi determinante para a estruturação do gnration”, Luís Fernandes enfatiza que a sua influência ultrapassa os limites territoriais. Ressalta ainda que isto se espelha na “tipologia de públicos”, que “têm proveniências diversas”.

Digital, um novo marco histórico

“A dimensão online veio para ficar”, afirmou Luís Fernandes, destacando as novas oportunidades que sucederam os dois grandes confinamentos pandémicos. Apesar do “elevado grau de adaptação” ao nível programático, o gnration foi capaz de criar novas estratégias adaptativas, classificadas em duas fases distintas. A primeira fase esteve associada ao confinamento de 2020, durante o qual “aumentaram exponencialmente o número de encomendas para novas obras”, através de convites diretos e do reforço do programa de Laboratórios de Verão. A segunda fase esteve associada ao confinamento de 2021, quando “iniciaram o desenvolvimento de conteúdos especificamente para o formato online”, ainda apresentados regularmente nas suas plataformas digitais.

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Entre março e agosto de 2020, o espaço cultural apoiou um total de 16 criações. Como “não há razão para ficarmos longe quando estamos juntos nisto”, juntou-se ainda a esta iniciativa o projeto Cultura em Casa, que recuperou conteúdos programáticos anteriores, conversas e playlists por artistas que passaram pelo gnration.

Artigo por: Francisca Alves e Raquel Rodrigues