Os santuários do Bom Jesus, em Braga e de Porto de Ave, em Póvoa de Lanhoso foram divulgados num artigo científico na revista internacional Journal of Tourism and Heritage Research. A autora, Joana Teixeira, esteve à conversa com o ComUM para dar mais a conhecer sobre este projeto.

ComUM – Como surgiu esta oportunidade e como é que se tornou possível a dar a conhecer locais nacionais, numa revista internacional?

Joana Teixeira – Bem, a revista está associada ao Congresso Internacional Científico-Profesional de Turismo Cultural, que é feito em Córdoba. Este ano, pela primeira vez, foi online. De facto, eu já tinha participado nesse congresso em 2017 com um artigo relacionado com a minha tese de mestrado, que também foi publicado nessa revista. Ou seja, quem participa no Congresso, pode vir a entrar na revista. E, como já tinha sido publicada achei por bem voltar a tentar mais tarde. No entanto, já o era para fazer mais cedo, mas não consegui. Agora, infelizmente devido à pandemia, foi quando me consegui dedicar ao projeto.

Em relação aos Santuários: eu sou natural de Fafe e o de Porto de Ave fica numa das nacionais que liga Fafe a Braga e já da minha infância e adolescência que o conhecia, o visitara e ido à romaria. E, o meu gosto pelo turismo também já é de criança que vi sempre aquele local como uma pérola, como um diamante em bruto por reconhecer. Em relação ao Bom Jesus, também o conheci na minha infância, os meus pais costumavam trazer-me para Braga. E, por saber o património que esta cidade por si só tem, foi o que me fez vir estudar para cá tendo em conta o meu desejo de ser guia turística.

Ainda em criança, sempre vi que o santuário Porto de Ave e o Bom Jesus são o contrário um do outro. Ou seja, quando se vê os santuários de fora, vê-se o Bom Jesus com um escadório e a igreja em cima, e quando se olha para o de Porto de Ave vê-se o escadório em cima e a igreja em baixo. Isto já era curioso para mim, apesar de não perceber. Ao crescer, e ao trabalhar como guia turística, percebi que o santuário de Porto d’Ave está ligado a Maria e o do Bom Jesus a Jesus e que os podia juntar num só dia, numa só rota e que me levou a escrever um artigo que tinha oportunidade de divulgação naquela revista.

ComUM – Disse que a região do Minho é uma zona já privilegiada. Mas então porque não divulgar outros locais nacionais menos conhecidos?

Joana Teixeira – Em primeiro lugar, tem a ver com o meu próprio background porque eu residi em Fafe e resido atualmente em Braga. No fundo, nunca saí daqui do Minho e o foco acabou por ser esta zona. Como resido cá em Braga, trabalho maioritariamente o norte e centro de Portugal. Não é que eu não queira dar a conhecer o resto do país, mas são as zonas que mais conheço por ser aqueles em que eu já trabalhei.

Agora, para justificar o porquê de eu dizer que é uma zona privilegiada. Eu vejo que no Minho temos pessoas hospitaleiras, que apesar de no geral Portugal o ter, aqui em cima temos um toque extra. O nossa forma de ser genuína… Por exemplo, o facto de usarmos o calão como se fossem palavras normais e habituais vem desse traço. Eu reparo que comparando com outras pessoas do nosso país, nós falamos mais depressa e somos mais efusivos. Com isto, não estou a desfazer nenhuma outra zona do país. Ou seja, não estou a dizer que somos melhores ou piores, mas de facto isso ajuda o turista a sentir-se bem-vindo cá.

Outras questões que não as pessoas- o Minho tem praia, serra, campo. Em termos geográficos e geológicos, tem outras características que outras zonas não têm. Quanto mais variedade tens, mais atrais o turista e é por isso que o Minho é uma região privilegiada.

ComUM – Porquê dar a conhecer através de uma rota turística religiosa com o mote de “Os Passos de Maria e Jesus” e não de outra forma?

Joana Teixeira – “Os Passos de Maria e Jesus” é um título que acaba por ser uma descrição muito genérica do que são os dois santuários. Isto porque o santuário de Porto d’Ave tem passos de Maria e o santuário de Bom Jesus. Portanto, a minha rota começa no Porto d’Ave e acaba no Bom Jesus porque chegando ao primeiro temos uma igreja e passos que vão do nascimento de Maria, anunciação, visitação, etc até chegar Jesus e os passos da sua infância. Aqui, faz-se uma pausa na rota e retoma no Bom Jesus, numa continuação da história do Porto d’Ave. Curiosamente, o Bom Jesus tem um fim diferente que é único no mundo. Única porque não acaba com morte de Cristo, mas sim com a Ressurreição. Assim, temos uma narrativa que leva o turista a envolver-se.

ComUM – Acredita que é possível recorrer ao online com recurso a vídeo e fotografias para promover o turismo e que até já tinha falado nisso antes da pandemia. Tem alguma ideia ou projeto para o futuro que a faça caminhar neste sentido?

Joana Teixeira – Neste momento, não. Estou a enveredar para outra área porque estou a ver que o setor cultural, quando há uma crise, é o primeiro a ir abaixo. Porquê? Um turista pode ir para um hotel ou restaurante mais baratos ou até pode nem ir a um restaurante. Mas, animação turística é a primeira que ele corta. “Não vou fazer tours, não vou pedir um guia, vou por mim próprio. Vou à net, vejo o que é que há e desenrasco-me”. Por isso, não tenho esperanças de trabalhar na área tão cedo. Embora seja a minha profissão de sonho e tenha o desejo de querer continuar, neste momento, da maneira como as coisas estão, não consigo.

Quanto ao online, começo por falar na minha tese de 2015 sobre o papel que os vídeos que promovem um destino têm na vontade que alguém tem de o conhecer. Este estudo demonstrou-me como é que um vídeo tem de ser feito para tornar aquele destino atraente. Curiosamente, até aconteceu no caso de Roma com um vídeo que mostrava a arte de graffitis, a chamada street art e as respostas foram negativas. As pessoas disseram: “eu sei que os bairros sociais existem, mas quando o destino me diz para ir lá, eu não vou porque não quero ser assaltada”. No final, cheguei à conclusão que os vídeos têm de ser positivos, sobretudo meter pessoas a sorrir, com toque humano, mostrar alguns pontos da cidade (que não precisam de ser todos) e a presença de personagens principais e uma narrativa.

Atualmente, vejo empresas a apostar nas imagens, e até de qualidade, mas é uma boa altura para fazer vídeos. Podem não pensar, mas não há muita gente na rua, e conseguimos controlar melhor os cenários. Costuma haver muito ruído por causa das multidões, mas agora não. E os vídeos não são assim tão caros. E, para quem já começou por usar este meio, continuem porque esse é o caminho.