Após a divulgação da mais recente iniciativa por parte dos alunos de Criminologia da Universidade do Minho no passado domingo, o projeto Senso Criminológico dá-se a conhecer ao público numa sessão de lançamento, dia 3 de abril, onde serão discutidos os “Desafios e Soluções da Formação em Criminologia”.
O Senso Criminológico é uma “comunidade colaborativa” que pretende ser não só “um local onde os criminólogos podem publicar os seus trabalhos sem todas as burocracias”, mas também “facilitar a passagem do que é o conhecimento da criminologia para fora da universidade, para que as outras pessoas saibam proteger-se contra o crime”. Quem o diz é Taynã Noschese, criador deste projeto, em conversa ao ComUM.
A principal motivação por detrás da criação desta iniciativa surge da necessidade de “dar a oportunidade aos alunos que quisessem publicar os seus artigos e ter experiência antes de ingressarem no mundo profissional, poderem-no fazer de uma forma informal sem os critérios que são exigidos pelas revistas e comissões científicas”, aponta Leonardo Conde, um dos membros envolvidos.
O projeto envolve na sua génese elementos de outras universidades como alunos da Universidade Fernando Pessoa. Taynã Noschese conta como foram estabelecidas parcerias com outros alunos de outras universidades: “Num Encontro Nacional de Criminologia, conheci dois alunos da Universidade Fernando Pessoa que faziam parte do núcleo da mesma e eram muito proativos. Eles tinham a mesma ideia que nós, então, na idealização do projeto pensamos ampliar o campo. Apesar das universidades terem unidades curriculares parecidas, as realidades são muito diferentes e é através de realidades diferentes que a ciência se reproduz”.
Relembra ainda que não existem muitas universidades em Portugal com o curso de criminologia e, então, “foi fácil criar esta rede de contactos e pessoas”. “Pretendemos ter uma rede conexa de estudantes de criminologia entre diversas associações, entre todos os investigadores”, enfatiza.
A iniciativa é divulgada nesta altura, já que, “por razões lógicas, a equipa estava totalmente disponível” e tinham “uma base teórica e uma base prática de contactos”. “Depois de todos os protocolos, as parcerias, a imagem e as burocracias estarem prontas, queríamos que o projeto fosse lançado o mais cedo possível para que as pessoas que vão sair da faculdade este ano pudessem ter alguma prática, antes disso se suceder”, remata Taynã Noschese.
Esta comunidade colaborativa tem como público-alvo “pessoas ligadas à criminologia, sejam elas estudantes, recém-licenciados, pessoas que trabalham já na área”, segundo Margarida Moreira, licenciada em Criminologia pela UM e mestranda em Ciências Criminais. Contudo, este projeto não se resume somente aos estudiosos da criminologia. A equipa atual pretende “ter pessoas de várias áreas a falar sobre tópicos específicos na criminologia”.
A equipa envolvida refere que consideram que a criminologia “não é uma ciência muito valorizada”. Tal explica-se pelo “conjunto de estigmas e preconceitos” que circundam a profissão e que “estão muito relacionados com a falta de conhecimento face à área”. Tudo isto reflete-se “no plano laboral, académico e no plano nacional”. Todavia, a equipa mantém-se positiva e crê que “a ciência criminológica não pode mais ficar de fora. É inevitável que ela seja valorizada e é obrigatório que seja respeitada como todas as outras as ciências são”.
O grupo à frente do projeto não encontrou nenhuma “grande dificuldade” no desenvolvimento do projeto. Todavia, consideram que é quase certo que venham a deparar-se com uma barreira intelectual: conseguir “convencer os estudantes de criminologia, que os trabalhos deles são produções importantes com perspetivas e conteúdo importante. Queremos dizer a essas pessoas que «o nosso trabalho importa e o vosso trabalho também importa». Nós não estamos aqui para ensinar, apesar de podermos acabar por o fazer. Estamos aqui para ajudar”.
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Para além da desmitificação do conceito de fazer investigação e a ideia de que são necessários certos graus académicos para a fazer, “este projeto é, sem grandes critérios e sem extremo rigor, dizer às pessoas «Vocês podem e devem partilhar o que fazem, independentemente, do rigor que tenham. Nós estamos aqui para partilhar a vossa ciência. Por menos trabalhada que ela seja, não é por isso que deixa de ser ciência»”.
Sendo definida como “a explicação do comportamento criminal”, estes estudantes acreditam que a criminologia é “uma ciência multidisciplinar que abrange as áreas do direito, da psicologia, da sociologia e outras áreas, mas não é nenhuma dessas áreas”. As mentes por detrás do Senso Criminológico acreditam que esta ciência “pode ser a chave para resolver os conflitos que a sociedade tem tido e que se vão agudizar, se não houver mudança. A criminologia não pensa só o crime, mas também todas as implicações conflituosas na sociedade. Vai muito mais além do que a grande maioria das ciências sociais”.
Novembro 11, 2021
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