Gene isolado num besouro consegue degradar um dos açúcares mais abundantes na natureza, presente na madeira.
Uma equipa da Universidade do Minho e do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, nos Estado Unidos, descobriu uma enzima que degrada um dos açúcares mais abundantes na natureza, presente na madeira. Deste modo, o microrganismo apresenta potencial para a produção de biocombustíveis e moléculas com interesse farmacológico.
A equipa liderada por Björn Johansson, do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da Escola de Ciências da UMinho, procurou microrganismos capazes de consumir xilose, um açúcar da madeira, para esta poder vir a ser usada como matéria-prima na produção de compostos de valor comercial. Para isso, utilizaram um besouro do leste dos Estados Unidos, que consome o composto graças aos microrganismos que habitam no seu intestino.
Depois de analisar o ADN desses microrganismos e de sintetizar vários genes de interesse e testá-los em levedura, os investigadores perceberam que um deles se revelava muito eficiente, permitindo-lhe consumir aquele açúcar da madeira. Segundo o comunicado, esta “enzima foi 72% mais eficiente a converter xilose quando comparada à enzima convencional usada até aqui”.
O mesmo ocorreu, explica, quando foi submetida a um contexto de temperaturas mais altas, que são comuns na fermentação industrial. Por fim, a equipa registou que atividade específica daquela enzima foi 2.6 vezes maior do que a convencional.
De acordo com Björn Johansson, estes “são resultados estimulantes”. A descoberta vem trazer uma modo diferente de olhar para a madeira como matéria-prima, “até agora sem aparente interesse comercial”, uma vez que a xilose, presente no material, é fonte de energia renovável e disponível na maioria do terreno fértil do planeta. “A nossa ferramenta permitirá produzir moléculas com elevado valor a baixo custo e com pegada ambiental reduzida”, avança o professor do Departamento de Biologia da UMinho.
A equipa que conduz a investigação conta com os portugueses Paulo César Silva e Flávio Azevedo e está a patentear a tecnologia de engenharia genética que desenvolveu, nos Estados Unidos e na Europa, onde há indústrias focadas em produzir biocombustíveis a partir de matéria vegetal. O trabalho, que teve ainda o apoio do Programa Fulbright na Suécia, foi publicado na revista Scientific Reports, do grupo Nature.