Para esta conversa, centrada no jornalismo, contou-se com a presença de Andreia Monteiro, Diretora Editorial do Gerador, e Nuno Viegas, jornalista do Fumaça.

Como forma de início de conversa do evento das XXIII Jornadas da Comunicação, foi abordada a questão da sobrevivência financeira de projetos de menor escala, num espaço mediático com tantos desafios e fragilidades, tendo em conta a situação atual dos media. Relativamente a este tema, Andreia Monteiro começou por caraterizar o Gerador como um jornal que “elogia a cultura portuguesa e seus autores”.

Desde a sua entrada, o projeto sofreu algumas alterações, passando a integrar uma vertente jornalística. No entanto, admite não ser a parte editorial a “geradora de dinheiro”, mas sim os eventos e diversas parcerias e financiamentos que recebem enquanto agência de comunicação

Nuno Viegas mostrou partilhar da mesma opinião, retratando o jornalismo como algo “financeiramente não sustentável”, no entanto, referiu como objetivo futuro ser “100% sustentado por donativos individuais”. Acredita que o acesso a informação é “um direito de todos”. Além destas doações, a sustentação do Fumaça advém também de prémios de jornalismo e investigações.

 

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Posteriormente, foi discutida toda a questão da pandemia e as implicações nas redações. Andreia Monteiro admitiu esta questão como algo “complicado” de gerir, pois, apesar do “excelente trabalho de todos os membros”, até o Gerador se conseguir “reerguer” alguns colaboradores tiveram de ser enviados para casa. Referiu também uma dificuldade em “ser criativa, numa época em que não apetece ser criativa”.

Ambos os convidados foram questionados sobre a sua perceção acerca do aparecimento de outros pequenos projetos, a semelhança dos que os mesmos representam, nos próximos cinco ou dez anos, perspetivando, desta forma, a evolução dos media nacionais. Andreia Monteiro mostrou-se convicta da existência de “muitos jovens jornalistas de grande qualidade a sair das universidades”, com vontade de trabalhar e trazer coisas novas.

Crê igualmente não existir muito lugar a novos elementos nos meios mainstream, excetuando regimes de estágio não remunerado. Contudo, acredita haver espaço para todos os formatos na agenda mediática, construindo-se uma complementaridade.

Nuno Viegas corrobora a opinião de Andreia. Com a existência destes “microprojectos mais focados, não se deixa de ter grandes redações de âmbito nacional”, enfatizou. A forma como o online criou uma oportunidade para o surgimento de novos projetos de qualidade e como forma de contrabalançar o desequilíbrio entre cobertura litoral e interior do país esteve em destaque.

Para a jornalista do Gerador, foi uma “mais valia”. Todavia, mencionou conhecer microprojectos que, devido a falta de estruturas e apoios, “não se conseguem manter e continuar”. Acrescentou também que um passo que deve ser dado é o de haver uma alteração no “retrato das redações”, caraterizando-as como sendo grandemente compostas por profissionais de Lisboa, de classe média e de cor branca, na sua maioria homens, realidade que “deve ser combatida”, promovendo a diversificação.

No seu ponto de vista, é necessário dar importância a zonas do interior, para que “as pessoas se sintam representadas”, afirmando que “Portugal não é Lisboa”. Por sua vez, Nuno Viegas salientou que “entrar no jornalismo é privilégio de classe”, considerando, por isso, a descentralização, oportunidade trazida agora pelo online.