O sétimo álbum da cantora estadunidense Demi Lovato é, sem sobra de dúvida, o seu projeto musical mais autêntico até hoje. Lançado a 2 de abril, Dancing With The Devil… The Art of Starting Over engloba tudo que a cantora passou para chegar onde está. Ao longo do poderoso álbum, aborda sem filtros o alcoolismo, toxicodependência, perturbações alimentares e a sua sexualidade.

As três primeiras faixas servem como antecedentes para o ponto de viragem que se segue. O álbum abre com “Anyone”, a emocional balada que cantou nos Grammys em 2020. Uma melodia acompanhada por um instrumental de piano em que a forte voz de Demi suplica que alguém a ajude, que ouça as suas palavras, porque ninguém o está a fazer.

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Dancing With The Devil” elucida os motivos de precisar de ajuda, estava de volta no mundo dos vícios e a perder o controlo. Metaforicamente, conta a história de como o alcoolismo evoluiu para toxicodependência. Estas são representadas como o “diabo” e a relação com elas foi aprisionando a artista. Cinemática e crua, só Demi sabe o que realmente atravessou num dos períodos mais difíceis e os arrepiantes vocais demonstram isso.

Relembrando o incidente de overdose que sofreu em 2018, segue “ICU (Madison`s Lullaby)”. Uma canção dedicada à irmã mais nova, Madison. O título é uma abreviatura de “Intensive Care Unity”, onde estava depois de ser hospitalizada, e também um jogo de palavras de “I-see-you”. Demi acordou cega após a overdose, não conseguindo ver a irmã no quarto, chegando mesmo a não reconhecer a sua voz, o que foi devastador para Demi.

No entanto, a cantora encontrou forças para recuperar graças a ela. Promete protege-la, não a deixando seguir pelos mesmos caminhos escuros que a atormentaram “I promise, I’ll be there, don’t worry / ‘Cause I was blind, but now I see clearlyv/ I see you”.

Segue-se, então, o ponto de viragem para Demi – o recomeço. Explorando novos sons e ritmos, liberta-se do passado para conseguir usufruir da segunda oportunidade que teve. “The Art of Starting Over”, a quinta faixa do álbum, simboliza essa viragem na vida dela e também no projeto em si. Aborda justamente o fim do relacionamento com o ex-namorado, que tinha revelado a suas verdadeiras cores “I had the armor, I wore it much in the summer / But the arrow hit me right where the heart is”. Isto, apesar de doloroso, foi o que precisava na jornada de novos começos “I let the darkness out”.

Outro destaque é “Melon Cake”, a oitava faixa. Alusiva à sua luta com as suas perturbações alimentares devido à pressão de ser “Barbie sized…”. Demi era extremamente controlada pelo anterior manager. Um dos exemplos é o bolo de melancia que tinha nos seus aniversários para não comer açucares. A cantora, estando tão insegura dela mesma, acabava por ceder e achar que aquilo era o melhor para ela. Mas isso chegou ao fim e tomou as rédeas e, agoa, vai escolher o que é o mais saudável para a saúde mental no viciante refrão “and now I’m sayin’ no more melon cakеs on birthdays”.

The Kind of Lover I Am”, a 12.ª do álbum, dá a conhecer ao ouvinte, e a um futuro alguém, como irá ser numa relação. Demi confirma logo que não é fã da monogamia, no entanto, adiciona como é uma boa ouvinte e estará lá sempre para o consolar e seguro nas suas mãos. Nesta faixa, também dá a conhecer a pansexualidade “Doesn’t matter, you’re a woman or a man”, “or you could be anything in between”. Suave e engraçada, Demi só quer ser feliz e dar amor a alguém. Contudo, no final da música brinca como agora não é o momento para tal e como está bem sozinha.

Nos duetos do projeto temos a antecipada colaboração com Ariana Grande. Em “Met Him Last Night”, as cantoras harmonizam num leve sythn sedutor sobre o perigo de se deixar levar pelo cativante “devil”. Já no primeiro single do álbum “What Other People Say” Sam Fischer e Demi, num estilo mais indie, cantam sobre a influência do ambiente em que estão (Los Angeles) e como isso os fez mudar quem são para se integrarem, perdendo-se assim, na multidão.

Easy”, com Noah Cyrus, é uma balada sentimental. Liricamente, descrevem a necessidade de dar a parecer que estão bem após o fim de um relacionamento – “But the hardest part of leaving, is to make it look so easy”. Quebrando os fortes sentimentos, temos a up-beatMy Girlfriends Are My Boyfriends”, com rapper Saweetie, sobre o empoderamento feminino e a força da amizade que tem com as amigas.

California Sober” a décima sexta do álbum é a libertação do passado. Demi conseguiu o por detrás e progrediu na sua luta contra o uso de drogas. Deixando claro que o crescimento ainda não terminou, nesta faixa delicada notamos a progressão e a leveza que tem vindo a crescer desde o início.

Termina então com “Good Place”, um apanhado de tudo que passou acompanhada por uma simples guitarra. Demorou, custou, mas conseguiu chegar onde queria. Todo o álbum é a construção para o final, onde Demi está agora, num lugar mais saudável mentalmente, livre do passado e pronta para continuar em frente.

Dancing with the Devil… The Art of Starting Over é fundado no desespero e sofrimento que sentia até alcançar a sua recuperação, o seu “good place”. Um projeto emocional com diferentes camadas, sons e ritmos para ser ouvido de início ao fim e ouvir como Demi Lovato dançou com o diabo e viveu para contar a história.