Generation estreou dia 11 de março na HBO. A série foi criada por Zelda Barnz em conjunto com o seu pai Daniel Barnz e é inspirada nas suas próprias experiências pessoais. Esta segue o dia a dia de adolescentes queer, numa comunidade conservadora na Califórnia, à medida que se vão descobrindo a si mesmos e ao mundo que os rodeia.

Ao contrário de muitas séries atuais, Generation tem como objetivo colocar personagens LGBT no centro da narrativa. Ao longo dos episódios, acompanhamos as suas peripécias típicas da adolescência.

No geral, a obra cinematográfica consegue contar as histórias de quase todas as personagens de forma bem-construída e devidamente desenvolvida. Em Generation não existem personagens “padrões”. Eu diria até que é muito difícil encontrar paralelos com outras personagens de outras obras de ficção.

Fiquei positivamente surpreendido com a escolha do elenco desta série. Os atores parecem de facto adolescentes e não adultos na casa dos 20, o que é raro nas produções audiovisuais da atualidade. Apesar de serem maioritariamente caras desconhecidas, os atores entregam performances memoráveis. Destaco particularmente as atuações de Justice Smith como Chester, Lukita Maxwell na pele de Delilah, Uly Schlesinger como Nathan e Chloe East como Naomi.

A minha parte favorita do argumento é o realismo. Trata-se apenas de adolescentes a viver as suas vidas normais sem nada de extraordinário ou incrível a acontecer, tal como em qualquer adolescência. Quando por momentos a série pega em clichês, como a relação aluno – professor (conselheiro de orientação, neste caso), depressa nos faz descer à Terra e perceber que não é normal situações dessas acontecerem na vida real.

Umas das melhores técnicas de narrativa usada é a de mostrar vários pontos de vista de diferentes personagens para um mesmo dia ou momento. Esta técnica é usada nos episódios um e sete, permitindo aprofundar os diferentes sentimentos de cada personagem, além de mostrar cenas diferentes para além da história principal.

No que toca à realização, existe um grande cuidado em mostrar exatamente o que vai na cabeça das personagens através do uso do ponto de vista. Por exemplo, a câmara foca no braço de Chester quando este está a consolar Nathan, que está a ter uma noite horrível. Podemos assim perceber que esta simples interação está a ser notada por Nathan e a adquirir um significado extra na sua mente.

A fotografia da série é incrível. Destaco o episódio cinco, em que o fumo de um incêndio nas proximidades torna o céu laranja e cria um ambiente único e pós-apocalíptico.

A banda sonora é composta por vários artistas queer reconhecidos internacionalmente como Troye Sivan, Frank Ocean, Conan Gray, Caroline Polachek, Lady Gaga e Cupcakke. É provável encontrarmos as músicas escolhidas numa playlist feita por um adolescente LGBT algures neste mundo.

Concluindo, com um tom leve e ligeiramente humorado, Generation aborda assuntos relevantes na vida de qualquer adolescente: relacionamentos, amizades e sexualidade. Apesar de serem temas bastante explorados em qualquer drama adolescente, o tom leve e ligeiramente humorado da série fornece uma visão diferente daquela a que estamos habituados. Por exemplo, Euphoria (2019-), outra série adolescente da HBO, caracteriza-se por ser bastante pesada e tratar assuntos de uma maneira complexa e emocionalmente desgastante. Além disso, o carácter explicitamente LGBT da série destaca-a de todas as outras e dá voz a uma nova geração de adolescentes que tem sido calada, abafada e ignorada por muito tempo.