O Tigre Branco estreou na Netflix no dia 13 de janeiro e revela-se surpreendente. O filme é uma adaptação do bestseller com o mesmo título de Aravind Adiga, lançado em 2008. Através de um grande ritmo e dinamismo, constituí uma forte crítica à sociedade indiana e, sobretudo, ao capitalismo.

A obra cinematográfica tem início com um empresário rico, de grande sucesso. Dá-se, depois, uma analepse. Balram (Adarsh Gourav) é um rapaz nascido numa família pobre e afastada dos grandes centros urbanos. Na infância, vê-se obrigado a sair da escola para ajudar a família no trabalho com carvão e numa loja de chás. Passa toda a juventude assim, até ao momento em que vê uma oportunidade para iniciar a ascensão social.

Balram, ambicioso, inicia uma escalada sem nenhum recurso. Torna-se motorista de uma família líder de toda a região, que cobra taxas aos aldeões. Inicialmente, mostrava idolatrar o patrão, Ashok (Rajkummar Rao). No entanto, face a uma injustiça, o motorista decide que quer passar para o outro lado. Sendo um anti-herói, o personagem principal luta com todas as forças para sair da pobreza e atingir um estatuto social o mais elevado possível.

O personagem representa de forma exímia a desigualdade social abrupta na sociedade indiana. Assim, evidencia-se a relação abusiva entre os trabalhadores e os seus senhores. Há uma denuncia evidente, visto que a classe baixa vive somente para servir e agradar a classe alta, obedecendo-lhe. A longa-metragem salienta ainda a necessidade de cometer crimes e de agir estrategicamente para escapar à “inferioridade”. Balram vai, ao longo do filme, desconstruindo as características de servo e ganhando frieza psicológica para subir à classe alta. Revela-se, por isso, “o tigre branco”.

A agilidade e adaptabilidade de Adarsh Gourav conferem a intensidade necessária à história. Numa performance de realçar, o ator consegue personificar perfeitamente a subserviência presente na sociedade pobre. Adarsh encarna com bravura todas as ações de maior tensão, violência e explosão de sentimentos. Por outro lado, brilha também pelos momentos mais emotivos e onde é necessária subtileza.

Aquilo que mais se destaca é, sem dúvida, o espaço e a imagem. Embora os atores consigam desempenhar incrivelmente bem os papéis, são os espaços que passam para o espectador a realidade. A pobreza surge aliada à imagem, tanto nas aldeias, como nas habitações dos trabalhadores. Um forte exemplo é a garagem na qual Balram dormia, no chão, coberto de baratas e sem qualquer luminosidade. Por contraste, a casa da família da elite é extremamente luxuosa, luminosa e bem decorada.

A obra cinematográfica O Tigre Branco distingue-se verdadeiramente, porque retrata a realidade dura e sombria sem qualquer tipo de “adoçantes”. Há uma exploração profunda e inteligente de Balram. Cria-se uma ligação entre o espectador e a personagem, apesar de todas as ações pouco éticas. Desta forma, o filme prende o público do início ao fim pelo ritmo vibrante, acompanhado de suspense e de espaços de reflexão.