Ser gago é saber exatamente o que se quer dizer, mas sem um discurso fluente.
O concerto multimédia “Quem Fala Assim” ecoou, esta quinta feira, dia 29 de abril, na majestosa sala do Theatro Circo. Aliando as potencialidades sonoras de instrumentos de corda e de percussão à eletrónica e ao vídeo, o espetáculo desvenda o potencial artístico da gaguez. De realçar ainda que este projeto multidisciplinar une dois compositores, José Tiago Baptista e Manuel Brásio.
Violino e viola d’arco posicionados no canto esquerdo, a percussão estava no lado direito e a tela ao centro do palco: estava o cenário pronto para começar a peça. O projetor ligou e via-se na tela um homem, que transparecia alguma inquietação. “O povo já está a olhar de lado”, afirmou, como se pressentisse que estava a ser atentamente observado.
De um momento ao outro, chegou o amigo, que é gago e a dificuldade em exprimir o seu raciocínio é notória. O público troçava e, a partir da tela, exigiu que mais ninguém se risse dele. Repetia sucessivamente: “Digamos, portanto”, e no seu rosto era visível o dó derivado do impasse em exprimir-se. “Não estou ansioso, sou só gago”, admitiu, explicando, de seguida, algumas das dificuldades pelas quais passa.
A história de “Quem Fala Assim” é simples: os dois mencionados jovens tentam montar um show. Entre a agitação e as discussões, iniciou-se um ciclo de cenas e imagens que pretendiam representar a vida de quem sofre de gaguez. No palco, o compasso era dado pelo som e ritmo das cordas e da percussão.
Foram também escutados testemunhos reais. “É uma caraterística minha, é como ter os olhos azuis”, considerou um deles. “A minha gaguez foi crescendo comigo e eu fui crescendo com ela”, confidenciou outro rapaz. “Não sou coitadinho”, rematou outro sujeito.
Com recurso a imagens de flores, no fim, o narrador explicou o que é ser gago, os constrangimentos de o ser, os preconceitos, inibições e mitos, sensibilizando, desta forma, a plateia.