Se com Pétalas ou Ossos é o novo livro de João Reis, publicado no segundo mês de 2021. A obra, uma autoficção com Seul como pano de fundo, movimenta-se em torno de um escritor que não escreve.

O romance tem como personagem principal Rodrigo, um jovem escritor que se instala numa residência, na capital da Coreia do Sul, com o objetivo de escrever o próximo livro. O propósito que o leva à Ásia revela-se complicado quando não lhe ocorre sequer ideia do que escrever. Assim troca a escrita por passeios e deambulações pela cidade, acompanhado pela namorada possivelmente grávida. O protagonista é um anti-herói, imperfeito, vulgar e desprovido de coragem.

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A escrita de João Reis é fluída e fácil de acompanhar. Além disso, é bastante visual e, por isso, torna possível a criação imagens e fotografias. Apesar desta faceta positiva, ao longo da obra existe uma certa repetição que, embora seja propositada e bem conseguida, torna-se ligeiramente maçadora.

Ao folhear as páginas o autor cria no leitor a sensação de que algo maior está por vir, desejo que não se concretiza, acabando por criar alguma insatisfação para quem lê. Vão-se avançando os parágrafos e a história não se adensa, permanece sempre em linha, sem atingir picos, altos ou baixos, sem a capacidade de dar balanço para prosseguir. Este aspeto pode conferir ao livro o título de enfadonho e chato. Os adjetivos anteriormente usados podem ainda ser reciclados para caracterizar Rodrigo, que mantém uma postura linear, sem alteração de caráter ou evolução ao longo da trama.

O livro não surpreende, é real, talvez demasiado. Retrata a parte monótona e fatigante da vida, o acabrunhamento em que somos tantas vezes embalados, sem música nem letra. Aspeto esse que envolve o romance num ambiente denso e tendencionalmente depressivo.

Independentemente da esfera angustiante, a obra consegue ser proveitosa. A história é agradavelmente relatada, sendo possível visualizar um filme mental enquanto a lemos. Adicionalmente, as sequências são bem montadas e encaixam na perfeição.

Se com Pétalas ou Ossos é a narração mais fiel da humanidade, envolta num torpor e apatia tão reais que vemos de longe o real a caminhar por entre as frases. O mundo desaba-nos à frente, como se um peso nos caísse sobre o colo. Lê-lo pode tornar-se angustiante e prazeroso ao mesmo tempo. Assim, é a contradição que descreve este livro.