The Bitter Truth é o quinto álbum de estúdios dos Evanescence e foi lançado a 26 de março de 2021 pela gravadora BMG. Há uma década que a banda não lançava originais.

Desde 2011 que a banda americana não lançava novo material. A razão dada foi a vontade de a vocalista, Amy Lee, dar prioridade à maternidade, deixando o grupo de rock alternativo em pausa. No entanto, a espera compensou e o álbum The Bitter Truth é mais do que só um álbum de rock alternativo, é o álbum que faltava na longa carreira dos Evanescence.

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O single de introdução, “Artifact The Turn”, é praticamente todo instrumental, mas dá o mote para o que será um álbum mais obscuro e misterioso. Um aguçar da curiosidade do ouvinte.

Nas faixas “Broken Pieces Shine” e “The Game Is Over” é possível reconhecer influencias das melodias do álbum Fallen (2006). As guitarras são as protagonistas que, em simbiose com a voz de Amy e com as batidas fortes e limpas, criam um ambiente de introspeção gigante. Apesar do impacto da melodia, é importante relembrar que o álbum foi criado em 2020, no meio da pandemia, e que a inspiração surgiu exatamente dos problemas sociais que a crise pandémica provocou no mundo.

A terceira faixa, “Yeah Right”, é sarcasticamente divertida, mas parece deslocada do resto da sonoridade do álbum. Apesar do potencial da música, que de facto é bastante, funcionaria melhor como um single independente do que como parte do álbum. Independentemente desta incoerência, tal não afeta a coesão geral de The Bitter Truth.

Em “Feeding The Dark”, a voz de Amy Lee é, de longe, a protagonista. Não é novidade que a voz da vocalista é única e singular e esta faixa revela o porquê. O tom da música é familiar, lembrando a icónica “Bring Me To Life”, levando os fãs deste estilo de rock ao êxtase.

Há sempre uma faixa em cada álbum que fica com o primeiro lugar do pedestal e “Wasted on You” merece esse destaque. Nos primeiros segundos, somos apresentados com uma sonoridade de balada, apenas com o piano de fundo, mas quando chega ao refrão… o coração acelera com as batidas da bateria e da guitarra e com uma explosão ridiculamente bem conseguida.

Os singlesBetter Without You” e “Part Of Me” aproximam-se mais do estilo orquestral e algo catedral da essência dos Evanescence. São composições muito poderosas, mas ao mesmo tempo frágeis pelos assuntos que tocam, assim como “Take Cover”.

A “Use My Voice” foi inspirada na situação de assédio sexual a Chanel Miller por Brock Turner. Serviu como hino para uma campanha da HeadCount para votar nas eleições de 2020 dos Estados Unidos da América. Escusado será referir o poder que o lyrics desta canção tem.

A balada que funciona como digestivo deste álbum é “Far From Heaven”. Não é muito adorada pelos críticos, uma vez que estamos a falar de uma peça artística que, no geral, é rock e esta balada corta esse espírito. No entanto, é de tal forma comovente que é impossível ficar indiferente. Não é uma faixa que se deva avançar com leveza.

As faixas “Cruel Summer” e “The Chain” são, respetivamente, um cover e uma música oficial de um jogo (Gears 5). Apesar de não se destacarem por nenhuma particularidade, encontram-se na linha de criação da banda e aplicam-se de forma mesclada com o resto das faixas.

A última faixa, “Blind Belief”, é a personificação do ditado “os últimos são os primeiros”. É o culminar perfeito deste álbum que não tem uma única faixa desajustada ou com defeitos.

Em suma, o álbum que foi lançado a conta gotas pode ser comparado ao segundo álbum dos Evanescence, The Open Door, pelo tom mais obscuro e pesado. Contrasta, por outro lado, com o quarto álbum, Synthesis, lançado em 2017. Em The Bitter Truth, os Evanescence superam-se a si mesmos e mostram que a pausa de 10 anos só aumentou o talento que sempre esteve presente.