Na data em que se comemora o Dia Internacional do Ciclista, o ComUM esteve à conversa com Tiago Machado, atleta minhoto de 35 anos, considerado um dos maiores nomes do ciclismo português.
Tiago Machado nasceu a 18 de outubro de 1985, em Vila Nova de Famalicão, concelho onde vive atualmente. O gosto por ciclismo sempre esteve presente na vida de Tiago, que “desde muito cedo queria ser ciclista”. Foi quando se mudou para a freguesia de Pousada de Saramagos que o atleta começou a “experimentar o ciclismo mais a sério”, na Escola de Ciclismo Carlos Carvalho.
Em 2005, Tiago Machado assinou contrato profissional com a Carvalhelhos – Boavista. De forma rápida, os bons resultados começaram a aparecer e, no ano de 2007, o ciclista ganhou a Camisola da Juventude da Volta a Portugal, prémio atribuído ao melhor ciclista jovem da prova. A conquista proporcionou uma “viragem muito boa” na carreira de Tiago.
Seguiram-se dois top-10 na Volta a Portugal e o primeiro lugar no Troféu Joaquim Agostinho. A somar a estas conquistas, Tiago Machado sagrou-se, em 2009, Campeão Nacional de Contra Relógio. Os motivos despertaram a atenção da RadioShack, equipa para a qual o atleta se transferiu, no ano de 2010. No conjunto norte-americano, constavam nomes como Chris Horner e Lance Armstrong que, “na altura, era um ídolo para todos”.
Todavia, os primeiros tempos fora de Portugal não foram fáceis para Tiago Machado e Sérgio Paulinho teve um papel “fundamental” na adaptação do ciclista minhoto à RadioShack. Tiago ficou sem telemóvel e sem computador quando chegou aos Estados Unidos e “a única forma que tinha de comunicar para casa era através do telemóvel e do computador do Sérgio, que nunca cobrou um cêntimo pelas chamadas”.
Ainda assim, o percurso de Tiago Machado na RadioShack foi recheado de bons resultados, com presenças assíduas no pódio e no top-10 de diversas provas do ciclismo mundial, como a Volta à Califórnia, o Tirreno Adriático e o Santos Tour Down Under. Em 2011, o minhoto estreou-se numa Grande Volta, no Giro D’Itália, onde atingiu o top-20 na Classificação Geral e o segundo lugar na primeira etapa da prova.
No ano de 2013, Tiago Machado acabou em segundo lugar no Campeonato Nacional de Estrada, numa prova “que podia ter caído para qualquer lado”, disputada até aos metros finais com Joni Brandão, que “acabou por ser mais forte”. No ano seguinte, o atleta minhoto transferiu-se para a Team Net-App, onde conquistou “um excelente resultado”, numa prova [Volta à Eslovênia] que tinha como participantes “vencedores de Grandes Voltas”.
“Nunca me senti infeliz no ciclismo”
Seguiu-se a mudança para a Katusha. José Azevedo era, na altura, diretor desportivo da equipa russa, fator que “teve um peso importante” na decisão de Tiago Machado em transferir-se para a equipa do World Tour. Apesar de nunca se ter sentido “infeliz no ciclismo”, o minhoto confessa que, durante o período em que representou a Katusha, “não era tão feliz como é agora”, muito devido aos problemas de saúde que o assolaram nos últimos anos de contrato aliados ao facto de estar longe do filho bebé.
Foi então, em 2019, no final do vínculo contratual com a Katusha, que Tiago Machado decidiu regressar a Portugal, para representar o Sporting CP/ Tavira. Apesar de não ter “corrido conforme o desejado”, o ciclista famalicense classifica a passagem pela equipa portuguesa como “muito boa”. No ano de 2020, Tiago Machado assinou pela Efapel, onde fez top-10 na Clássica da Primavera e pódio nos nacionais, mas, devido ao cancelamento de várias provas, “faltaram competições” para constatar se foi “um bom ano”.
No início de 2021, o ciclista minhoto voltou à casa onde deu os primeiros passos no ciclismo profissional e firmou contrato com a Rádio Popular Boavista. Quando a equipa já se encontrava “com uma boa base” para iniciar a temporada em março, a pandemia obrigou ao adiamento das diversas competições. No entanto, numa altura em que os ciclistas já começam a voltar à estrada e a Rádio Popular Boavista a regressar à competição, Tiago Machado procura, diante dos mais jovens, “transmitir a experiência que foi ganhando ao longo dos anos”.
Ao longo de toda a carreira, o atleta foi companheiro de equipa de várias lendas do ciclismo mundial, o que “foi bom” para o crescimento de Tiago enquanto ciclista. O atleta manteve-se “sempre atento aos pequenos detalhes que estes fazem” e levou essas aprendizagens consigo para “a restante carreira”.
Depois de uma longa experiência enquanto atleta e de ter passado por diversas equipas, tanto no estrangeiro como em território nacional, o ciclista minhoto considera que são poucos os ciclistas que “leva para a vida”. “Fora de Portugal não há aquele espírito de grupo tão grande como há nas equipas portuguesas”.
Para além de ter representado várias equipas durante todo o percurso enquanto ciclista, Tiago Machado vestiu a camisola da Seleção Nacional nos Campeonatos do Mundo. Um feito que “ninguém pode apagar” e “um motivo de orgulho” ter pertencido a um lote tão restrito de ciclistas.
“Nós somos um país pequenino, mas muito grande em talento”
Para o crescimento da modalidade em Portugal, Machado afirma que é preciso “mudar as mentalidades” e que o facto de no país “só se ver futebol” é prejudicial para o ciclismo, apesar de “todo o talento” que existe nas fileiras nacionais. Apesar de “todo o talento” que existe nas fileiras nacionais, a falta de investimento na modalidade é um fator que dificulta a possibilidade de, no futuro, Portugal sonhar com a presença de uma equipa no World Tour.
Tiago Machado já prepara o futuro e, neste momento, está a tirar o curso de treinador de ciclismo – grau 2. O atleta ambiciona, quando terminar a carreira, “continuar ligado à modalidade como preparador”. Para além dessa função, o ciclista minhoto não descarta a função de diretor, devido ao gosto por “planificar a temporada”.
Aos 35 anos, Tiago Machado considera que, de certa forma, pelas mensagens que recebe nas redes sociais, pode ser “uma referência para os jovens”. O ciclista minhoto diz que o facto de continuarem a gritar pelo seu nome enquanto corre fá-lo perceber que, ao longo da carreira, fez “algo de bom pelo ciclismo”.