A Mulher à Janela, baseado no romance de A.J. Finn com o mesmo nome, estreou dia 14 de maio na Netflix. O filme, realizado por Joe Wright, é um thriller psicológico que possuí um elenco muito impressionante, visuais fortes e uma história distorcida.

Dr. Anna Fox (Amy Adams) é agorafóbica e não sai de casa há alguns meses. Ela testemunha algo que não deveria, enquanto mantém o seu controlo sobre a família Russell, o clã que aparenta ser perfeito e que vive do outro lado da rua. Perante o que viu, tenta agir sobre aquilo que é um aparente crime. No entanto, ninguém acredita em Anna devido à sua condição.

É uma história interessante, com alguns problemas de ritmo. No entanto, apresenta um forte desempenho de Amy Adams, que eleva a longa-metragem. Adams tem um dom incrível para trazer uma qualidade de woman-next-door para a maioria dos seus papéis. Uma espécie de característica de senhora maleável que ela consegue controlar para se adequar ao clima sem perder o interesse do público. É de admirar o seu desempenho nos seus papéis, mesmo quando está empenhada em tentar furiosamente colorir as falas de um filme que não faz justiça ao seu talento.

A única coisa que realmente se destacou foi a cinematografia. O visual é impactante e os movimentos de câmara surpreendem algumas vezes. Houve uma certa fluidez, principalmente ao enquadrar a protagonista e a evolução da sua loucura. Os movimentos da câmara estão nitidamente de acordo com cada som que a personagem ouvia. Adicionalmente, existe uma paleta de cores distinta que mostra a solidão e isolamento de Anna Fox, contrastando com a verdadeira realidade dentro do apartamento. Esta verdade é muito subtil e não nos apercebemos dela até ao terceiro ato, mas é realmente percetível quando a história se desenrola.

O principal problema deste filme é o ritmo. Sim, deveria ser um slow burn e obviamente um mistério, mas simplesmente não fluiu da maneira que deveria. De cada vez que acontece uma cena intensa, para carregar a narrativa e melhorar a história, a cena simplesmente fracassa. Além disso, chega mesmo a haver momentos calmos e embaraçosos que não funcionam e atrasaram o momentum.

Quando a narrativa, de facto, melhora, torna o filme mais interessante. Isto porque o elenco consegue trazer o guião à vida em momentos pesados e emocionantes. O terceiro ato é executado muito bem e é possível compreender de onde surge o trauma e o distúrbio psicológico de Anna. A edição e cinematografia intensa, fazem com que o terceiro ato se revele emocionante de assistir.

Existem alguns momentos realmente acentuados nesta longa-metragem. Porém, como um todo, a obra cinematográfica acaba por ser muito vazia. A profundidade da protagonista poderia ter sido analisada mais a fim de apreciar esta performance em camadas de Adams. O terceiro ato, foi provavelmente a melhor parte, porque parecia separado do óbvio paralelo com Rear Window de Hitchcock.

Concluindo, A Mulher à Janela é um thriller psicológico interessante por causa do seu ótimo elenco, visuais distintos e final satisfatório. Adicionalmente, poderia ter sido uma modesta homenagem a Hitchcock que nunca chegaria ao nível do original. Porém, o clímax afunda muito o filme, porque conseguimos observar que nenhum do seu investimento emocional realmente importou. Em vez de questionar o valor do escapismo, o de ver uma mulher solitária a perder-se no seu voyeurism, a longa-metragem inquestionavelmente entrega-se a esse escapismo por nada mais que algumas emoções baratas e esquecíveis que solapam qualquer tipo de ressonância emocional que a narrativa possa ter criado nos 80 minutos anteriores. Para um filme que quer homenagear Rear Window, A Mulher à Janela nem sabe para onde olhar.