Entre aqueles que defendem a inteligência artificial e os que a repudiam, parece que a tecnologia dificilmente será a resposta para os problemas atuais.

A democracia em perigo é o mote para a peça “Democracy Has Been Detected” apresentada, esta sexta-feira, no Theatro Circo, pela companhia Momento – Artistas Independentes. A obra de Diogo Freitas e Filipe Gouveia pretende fazer uma leitura da sociedade atual e projetar uma ideal no futuro, demonstrando as forças e fraquezas de um estado democrático e questionando se o avanço da tecnologia é positivo ou não para uma sociedade moderna.

A peça aborda o perigo de uma “democracia absoluta”, liderada apenas por um líder autoritário e sem qualquer oposição política, fazendo referência à fragilidade do democratismo e à forma como a população pode ser facilmente manipulada. O espetáculo alude ao não esquecimento do passado histórico de absolutismo e lembra que a democracia não deve ser tomada como garantida, pois facilmente a população repete as ações do passado e se deixa enganar com promessas ilusórias de grandes mudanças.

A corrupção é outro ponto analisado pelos criadores, que tecem fortes críticas aos políticos corruptos por explorarem e manipularem a população, focando-se apenas no seu bem-estar. Nesta cidade ficcionada, Vila Cheia, surge um novo partido político, o Partido da Inteligência Artificial, que se apresenta como a alternativa aos problemas da corrupção, prometendo combater a mesma.

Desta forma, os criadores exploram este possível novo caminho para o futuro e fazem imaginar como seria se o mundo fosse liderado por robots, criados apenas com o intuito de governar e viver para servir a população. No entanto, percebe-se que, por detrás desses mesmos robots e da inteligência artificial, que prometem a perfeição e total devoção, existe sempre o Homem que os controla e que, inevitavelmente, comete erros, fruto da sua imperfeição enquanto humano.

Além dos seis atores em palco, a peça recorre também a acessórios metafóricos, como máscaras de ar e algemas com correntes, de forma a criar um ambiente de “sufoco” social. O espetáculo conta com a interpretação de Ana Lídia Pereira, Daniel Silva, Diogo Freitas, Gabriela Leão e Joana Martins e com o acompanhamento musical de Paulo Pires.