O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa celebra-se esta segunda-feira, dia 3 de maio. Este ano, o tema definido pela UNESCO é “Informação como bem público” e alerta para a necessidade de se garantir a segurança dos jornalistas.

De acordo com o recente relatório da Plataforma para a Proteção do Jornalismo e Segurança dos Jornalistas, as ameaças à liberdade de informação na Europa aumentaram 40%, em 2020. Marija Buric, secretária-geral do Conselho da Europa, pediu que os governos europeus mostrassem vontade política para proteger os profissionais e o jornalismo independente.

De forma a melhor entender as responsabilidades e desafios desta profissão, o ComUM esteve à conversa com Isabel Marques, jornalista do Gerador, Ricardo Castro, jornalista do MaisFutebol, sendo de destacar que a primeira mencionada já foi redatora e Ricardo Castro diretor do ComUM, e Luís António Santos, docente da Universidade do Minho.

Luís António Santos não tem dúvidas de que o “jornalismo está diretamente ligado à existência de sociedades democráticas, livres e transparentes”. Atendendo à história e à atualidade, sublinhou que, tendencialmente, regimes mais autoritários “não gostam da imprensa”. Deste modo, a primeira coisa que fazem, de maneira a sustentar a centralização do poder, é “aumentar as restrições em canais de televisão, jornais ou rádios que tenham opiniões diversas das suas”. Adicionou também que costumam promover meios de comunicação próprios facilitando o controlo da circulação de informação.

Apesar disso, o jornalismo atual parece ter desafios para além dos já referidos. Isabel Maques considera que os próprios meios de comunicação colocam limites à liberdade de imprensa. A corrida pelas visualizações, partilhas e vendas está a consumir e a descredibilizar o mercado da informação. Isabel trabalha num jornal independente e sente que o facto de as pessoas o caracterizarem como “jornalismo lento” demonstra que não valorizam o rigor e a imparcialidade. “Ao contrário da maioria dos meios de comunicação, somos mais ponderados no que produzimos, tentamos estar mais próximos da realidade e, claro, provocamos uma maior reflexão e discussão nos textos que produzimos”, refere.

O Jornalismo de mãos dadas com a Responsabilidade Social

Ricardo Castro acredita que o jornalismo tem o dever de servir a população. A falta de investigação em Portugal e a industrialização das empresas mediáticas são, na sua perspetiva, um entrave à informação eficiente dos leitores. Referiu, também, que o crescimento das redes sociais complica o trabalho de mediação dos jornalistas, uma vez que “há imensos canais de comunicação” e se torna difícil garantir a veracidade e qualidade dos conteúdos a que as pessoas têm acesso.

Segundo Luís António Santos, devido às implicações sociais que a profissão tem, esta deve ser exercida de forma rigorosa. “Se nós vamos pedir à comunidade que considere o nosso trabalho um bem público, a nossa responsabilidade aumenta”, rematou. Acrescenta ainda que, apesar de não impedir que erros aconteçam, o jornalista deve ter consciência das suas fragilidades, preconceitos e incompatibilidades com o exercício profissional. “Eu tenho um acesso privilegiado à voz no espaço público e devo respeitar o poder que isso me dá”, declarou.

A Liberdade de Imprensa e a Liberdade de Expressão são rivais?

Se outrora foi confundida a natureza destas liberdades, atualmente sabe-se que são complementares. Luís António Santos descreve a liberdade de imprensa como um “poder especial”. Por ser aplicada a um grupo restrito de profissionais, ter direitos e proteções singulares, o jornalista tem mais liberdade do que um cidadão comum. “A liberdade de imprensa é um exercício da liberdade de expressão no âmbito de uma profissão”, explica.

Em contrapartida, a liberdade de expressão é mais ampla, sendo um direito abrangente a todos. Neste sentido, Ricardo Castro defende que o jornalismo tem o dever de ser um mediador social. O jornalista mostra-se preocupado com os desafios dos palcos virtuais, uma vez que os internautas não têm limites no exercício da sua liberdade de expressão. “Se quiser insultar alguém nos comentários de uma notícia posso fazê-lo, tenho liberdade para isso, mas será que o estou a fazer da forma correta?”.

Isabel Marques esclarece que o respeito pelas liberdades de cada um se concretiza quando se aprende a colocar no lugar da outra pessoa. O jornalismo não pressupõe que se opine sobre determinado assunto, mas requer que se saiba “ouvir os outros”. Para si, “essa é uma da partes mais bonitas” da profissão.