De acordo com as respostas dos alunos, o agravamento da sua situação financeira decorreu sobretudo da perda de emprego de um dos elementos do agregado familiar.
Através de uma consulta promovida por 11 associações e federações académicas entre 24 de março e 10 de abril junto dos estudantes do ensino superior, foi possível perceber o impacto da pandemia em termos de habitação e rendimento. Os resultados divulgados esta terça-feira, traduzem as respostas de 4.013 universitários, a frequentar licenciatura e mestrado em instituições de todo o país.
Perto de 25% dos alunos do ensino superior admite ter dificuldades em suportar os custos para continuar a estudar, com o agravamento da sua situação financeira devido à pandemia. Relativamente aos seus rendimentos, as associações académicas notaram “um grande impacto causado pela covid-19”, com quase um terço dos estudantes a admitir que o valor de que dispõem mensalmente foi afetado.
20,1% dos estudantes relataram que, depois de pagar as despesas fixas que incluem a propina, transportes e habitação, sobram-lhes menos de 50 euros e outros 24,9% não ficam com mais de 100 euros. Adicionalmente, 27,5% referem que o negócio da família foi afetado pela pandemia e, entre os trabalhadores-estudantes, cerca de metade perdeu o emprego ou entrou em lay-off no último ano. Perante este cenário, quase um quarto dos universitários dizem ter dificuldades em suportar a frequência no ensino superior e 7% admite ponderar deixar de estudar por questões económicas – um número que as associações académicas consideram ser o mais preocupante.
Na lista das despesas que são difíceis de carregar, aquelas com maior peso são a propina e o alojamento. Ainda assim, a maioria dos estudantes deslocados (cerca de 85%) manteve a mesma casa, apesar de apenas 25% ter continuado a viver aí durante o período de confinamento. Para pouco mais de metade dos deslocados, essa decisão foi justificada pela “incerteza acerca ao retorno das aulas presenciais”, porém outros 15,7% fizeram-no para garantir a casa atual no próximo ano letivo.
Os efeitos da pandemia na economia das famílias também se refletem a este nível e para 21% dos estudantes deslocados, voltar a residir na zona onde estudam vai ser muito complicado. Quanto às condições de estudo em casa, alguns alunos relataram não ter um espaço adequado para estudar, fosse na sua residência familiar (9,5%), ou na habitação da zona onde estudam (6,5%). O estudo mostra, ainda, que 20% dos universitários afirmaram ter muitas falhas de rede durante as aulas online e que, na altura em que responderam ao inquérito, cerca de 130 dos 4.013 ainda não tinham computador pessoal para estudar.
O estudo foi promovido por associações e federações académicas de Lisboa, Porto, Minho, Trás-os-Montes e Alto Douro, Beira Interior, Évora, Algarve, Açores e Madeira, e pela Federação Nacional de Associações de Estudantes do Ensino Superior Politécnico. No mesmo inquérito, os estudantes foram também questionados sobre o impacto da pandemia na sua saúde mental, mas os resultados ainda não foram divulgados.