Apenas quatro meses após o lançamento de Evermore, a cantora norte americana Taylor Swift volta a surpreender com a regravação do segundo álbum de estúdio. Lançado a 9 de abril, Fearless (Taylor’s Version) já recebeu a aclamação de diversos críticos de música, que elogiaram a atmosfera nostálgica da nova versão e os vocais mais maduros da artista.
Em 2019, Taylor Swift anunciou ao mundo o plano de regravar todos os discos que compôs com a Big Machine Records. O objetivo era claro: assumir a propriedade dos primeiros seis álbuns da sua carreira que, na altura, pertenciam ao empresário Scooter Braun (tendo sido recentemente vendidos a Shamrock Holdings). Agora, em 2021, a artista apresenta-nos, “sem medo”, uma versão idêntica, mas muito mais polida, do sucesso country/pop que a colocou nas luzes da ribalta aos 18 anos de idade.
Começar por regravar Fearless (inicialmente lançado em 2008) trata-se de uma escolha bastante astuta por parte da cantora e compositora. Para além de conter letras muito mais fortes que o seu primeiro projeto, é também o disco com que Swift ganhou pela primeira vez o Grammy de Álbum do Ano, um dos prémios mais cobiçados na indústria musical. A nova versão contém todas as 19 faixas da edição platina do trabalho original, o single da trilha sonora do filme Valentine’s Day (2010), Today Was a Fairytale, e seis canções “from the vault” que não foram incluídas no lançamento de 2008.
Durante o processo de gravação e produção, a artista deixou bem clara a intenção de manter o conteúdo lírico, melodias vocais e arranjos instrumentais de Fearless. “Em termos de produção, eu realmente queria manter-me fiel às melodias que criei originalmente para estas canções. Tentamos fazer o mesmo, só que melhor”, contou Swift ao People. De facto, a diferença mais notória recai sobre a voz da cantora, claramente mais grave e profunda do que no passado, e sobre a produção sonora mais nítida. Também se evidenciam algumas alterações no tom com que canta alguns versos. Na faixa “Tell Me Why”, o verso “you ask me for my love/ then you push me arround” transparece muita mais frustração que a versão inicial. Já no tema “Change”, o melodioso hallelujah soa mais como um suspiro que transita entre o alívio e o remorso.
Apesar das fortes semelhanças, a verdade é que as canções não nos tocam da mesma forma que anteriormente. Escutar “Fifteen” é como assistir a um diálogo entre a Taylor Swift de 31 anos e o seu “eu” adolescente, no qual a primeira dá conselhos de ouro à segunda. Quando a artista produziu este single, tinha apenas mais três anos que a jovem ingénua e sonhadora que descreve na letra. Para além disso, também não sabia que no futuro se iria deparar com situações muito mais difíceis que o fim de um namoro dos tempos da escola. Isto leva a crer que o seu “eu” de agora, mais maduro e vivido, não canta com a mesma lamentação do passado, mas sim com felicidade, nostalgia e, até, alguma saudade dessa fase da vida.
Não há dúvida de que Fearless (Taylor’s Version) nos leva a refletir melhor sobre as várias situações que são descritas ao longo das composições. Aliás, muitos fãs de Swift eram apenas crianças quando o disco foi inicialmente lançado em 2008, o que torna a escuta da nova versão ainda mais interessante. De repente, somos transportados para o momento da nossa primeira paixão, do primeiro beijo, dos primeiros desgostos, através de temas como “White Horse”, “You’re Not Sorry” ou “Forever And Always”, e dos amores não correspondidos, com “You Belong With Me”. Tratam-se de episódios que, muito provavelmente, nem compreendíamos bem na altura em que ouvimos as canções pela primeira vez. Hoje, identificámo-nos muito mais com as letras do que outrora.
Direciono agora a minha atenção para algumas “faixas novidade” desta versão. Ainda no registo das deceções amorosas encontramos, por exemplo, as viciantes “Mr. Perfectly Fine” e “You All Over Me”. Liricamente, ambas retratam a difícil superação do fim de um relacionamento, sendo que a primeira, creem vários fãs, é inspirada no término entre Taylor Swift e o cantor Joe Jonas (com quem namorou na época). Outra particularidade interessante de “Mr. Perfectly Fine” tem que ver com o facto de a letra incluir uma expressão que já ouvimos antes. Refiro-me a “casually cruel”, presente numa das composições mais aclamadas da artista, a “All To Well” (lançada em 2012 com o álbum Red). Já a faixa “You All Over Me”, com backing vocals de Maren Morris, chega até nós como uma balada mais comovente e descontraída que a primeira, bastante idêntica a canções dos mais recentes trabalhos de Swift (os álbuns folklore e evermore).
Ouvir este álbum de uma ponta à outra é como ler o velho diário no qual relatamos as experiências mais marcantes da nossa adolescência. Cada faixa é única e especial, carregando consigo uma forte dose de nostalgia capaz de nos deslocar até ao passado. Tratam-se de canções que foram, literalmente, reproduzidas em todo o lado, tendo, portanto, um forte reconhecimento a nível mundial. Apesar de a maioria dos temas não ser de agora, não é difícil encontrar alguém que conheça as letras de cor e salteado. Para Taylor Swift, Fearless (Taylor’s Version) marca o início da concretização de um projeto há muito ambicionado. Para os fãs, é reviver uma era de uma forma tão ou mais especial que a primeira vez.
Álbum: Fearless (Taylor’s Version)
Artista: Taylor Swift
Editora: Republic Records
Data de lançamento: 9 de abril de 2021