O projeto de Hugo Calhim e Joana Von Mayer Trindade já correu vários palcos em Portugal e não dá sinais de abrandar.
A peça “Fecundação e Alívio Neste Chão Irredutível Onde Com Gozo Me Insurjo” é o novo espetáculo com direção, coreografia e dramaturgia de Hugo Calhim e Joana Von Mayer Trindade. Com interpretação de Sara Garcia e Bruno Senune, ganhou palco na sala principal do Theatro Circo, esta sexta-feira.
Passavam três minutos das 19 horas quando dois corpos se deixaram a descoberto pela luz que timidamente se alumiava. À frente da plateia, Sara e Bruno preparavam-se para iniciar uma viagem de “gozo e volúpia na revolta e no transgressivo” assente na mestria técnica e na plenitude da entrega, como descreveram os coreógrafos em comunicado.
De seguida, houve o primeiro contacto com Sara de joelhos e corpo entregue à batida tribal que ecoava. Vibrava freneticamente numa azáfama corpórea e, ciente do seu poder, explorava e dava asas a cada recanto de si. Todo o palco – todo o mundo e o que dentro dele habitava – lhe pertencia, e por ele pairava livremente, instigando-o.
Em movimentos repetitivos, intercalados por saltos e pausas abruptas, Sara desafiava o espectador e parecia conjurar uma luta impossível de recusar. Bruno resguardava uma certa distância deste furor, tentando conter o espasmo de uma emancipação que latejava. Dentro dele, nascia uma força que lentamente ia abrindo a cancela de uma jaula que até então o mantinha cativo.
Cessou a música e o público ficou entregue aos suspiros e murmúrios de um organismo em êxtase. Agora coberto por uma veste negra, Bruno regozijava-se morosamente. Dois espíritos que se consumiam sem se tocar, conheceram, enfim, o encontro que se demorava. Sara fez dele o seu altar e assim ressurgiu, compondo o infinito pintado a dois corpos.
A performance, agressiva e incansável, conduziu-nos por uma estrada esfíngica entre o hipnotismo e a psicadélica corpórea. ”. A sonoplastia estava a cargo de Paulo Costa e NuIsIs ZoBoP, que terminaram o espetáculo ao som de temas como “A Little Game” e “Not To Touch The Earth” de The Doors.