Após o furor de “i wanna be your girlfriend”, Marie Ulven, conhecida por girl in red, lançou o álbum if i could make it go quiet a 30 de abril. A cantora tornou-se viral por dar voz a mulheres que amam outras mulheres e o fazer de uma maneira tão especial e bonita. Com este projeto, passa uma mensagem forte e ousada. Perde os filtros, deixa de lado o politicamente correto e faz da música o seu diário, sem medos.

Em “Serotonin”, faixa de arranque, abre-se sobre a luta que batalha diariamente. Confessa ter pensamentos autodestrutivos que a assustam, e estar dependente de medicação para operar normalmente. Com força, diz ser a única pessoa que a pode salvar de si mesma. Inclui alguns versos de rap, uma abordagem diferente daquela a que nos habituou, num tema onde letras obscuras e sérias dão a mão a um ritmo alegre e bubbly. E se esta canção vos fizer pensar na Billie Eilish, não estranhem: o irmão desta, FINNEAS, ajudou girl in red a criar a peça.

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Did You Come?” mantém o ritmo acelerado da canção anterior. Num estilo goth-pop, Ulven brinca com as palavras e confronta a amante em questão com a pergunta “did you come? how many times?”, após ter descoberto que esta se tinha envolvido com terceiros. De modo passivo-agressivo e acompanhada pelo som de uma bateria, prova estar chateada com a situação e ao mesmo tempo não querer saber, como se no fundo só quisesse provocar. Acusa a rapariga para quem canta de ser falsa e se deixar levar por qualquer uma, deixando claro que não tenciona aceitá-la de volta: “Did you do the things you know I like? Roll your tongue, make her cum twenty times? Don’t tell me to relax or try to get me back, I’m packing up your bags.”

Body and Mind” funciona como uma mistura das duas primeiras músicas. A artista norueguesa volta a trazer para cima da mesa os problemas mentais com que se confronta, admite estar na pior altura da sua vida e, num grito de desespero, alerta não aguentar viver assim durante muito mais tempo. A solução a que se agarra para se sentir melhor? Sexo. Porém, depois de uma introspeção, reconhece que aquilo que satisfaz o corpo não satisfaz a mente.

hornylovesickmess” traz uma melodia de certo modo triste e nostálgica. Marie reflete sobre o quanto e quão depressa a vida mudou e como é surreal ter alcançado a fama que alcançou. Não o faz como meio de ostentação, comenta-o apenas como se falasse com um amigo de longa data. Com desilusão na voz, constata ter-se tornado no tipo de pessoa que desprezava e que a rapariga com quem fala merece melhor. Admite que só a usa para prazer físico e que só pensa nela quando tem desejos sexuais, o que a entristece.

You Stupid Bitch” é o ponto alto de todo o projeto artístico. Lado a lado de uma guitarra elétrica berra com a rapariga que ama “you stupid bitch, can’t you see? the perfect one for you is me!”. Após se ter aberto sobre os seus sentimentos por uma amiga que não os correspondia, já há vários anos, lança agora uma versão da mesma mensagem, de modo mais agressivo e direto. A pergunta é: será que a pessoa em causa é a mesma?

Numa carta inspirada pela personagem principal da séria “Euphoria” surge “Rue”. Face a overdose que sofreu, a jovem de 24 anos agradece a quem a ajudou quando esteve mal e pede uma segunda oportunidade. Promete que vai melhorar e que é capaz de fazer com que tudo funcione. A faixa em questão é a definição de “girl in red” e pode facilmente ser reconhecida como sua por qualquer um que esteja habituado ao trabalho da artista. Difícil é ouvir “Rue” e não ter vontade de dançar à chuva.

As restantes partes do álbum apresentam uma vertente completamente oposta, musicalmente falando. O ritmo acalma, a vontade de dançar desaparece e as lágrimas começam a cair em sintonia com “Apartment 402” e “it would feel like this.” Se toda a peça artística cria no ouvinte uma sensação semelhante a andar de montanha-russa, esta é a parte baixa. Fica claro que Marie não está bem e que a dor que sente parece estar longe de ir embora. Aqueles que se identificam com a mágoa da cantora, facilmente ficam emocionados. E aqueles que têm a sorte de não a entender, certamente não ficarão indiferentes à voz de Ulven.