Com estreia em abril, Ninguém é um filme de ação sólido com um toque especial de humor. Não oferece muito de novo ao género, mas é emocionante o suficiente para não nos fazer reparar nos aspetos menos bons.
Em Ninguém, Hutch Mansell (Bob Odenkirk) é um pai de família com uma vida monótona e rotineira. Após a sua casa ser assaltada, Hutch é criticado e, de certa forma, gozado por não ter defendido a sua família dos assaltantes. É quando a personagem decide fazer justiça pelas próprias mãos que percebemos que o seu passado tem muito por contar.
Ao testemunhar uma jovem a ser assediada por um grupo de homens, o protagonista vê a oportunidade perfeita para provar a si mesmo que o seu antigo “eu” estava apenas adormecido e não extinto. Este momento desencadeia a restante ação do filme, motivada não só pelo ego e masculinidade feridos de Hutch, mas também pela ânsia de reviver a adrenalina da vida que deixou para trás. Assim, o pai de família vê-se na lista negra de um magnata da máfia russa (Aleksey Serebryakov), o que finalmente lhe permite escapar da vida aborrecida que leva.
O ponto mais forte de todo a obra cinematográfica é, sem sombra de dúvida, o desempenho de Bob Odenkirk. Ainda que Hutch Mansell seja um registo completamente diferente daquilo a que o ator está habituado, Odenkirk consegue dar vida a ambas as faces da personagem de forma exímia.
Contudo, ao contrário do protagonista, as outras personagens não chegam a ser muito exploradas, sobretudo o irmão (RZA) e o pai (Christopher Lloyd) de Hutch, que se revelam cruciais na resolução da ação. Este aspeto acaba por ser uma consequência da alta velocidade a que a história se move, o que não deixa espaço para momentos aborrecidos, mas também não permite grandes desenvolvimentos para além da história central.
Apesar da fórmula de enredo bastante genérica, o toque cómico, contrastante com os atos violentos cometidos pelas personagens, confere à longa-metragem um traço distintivo da maior parte dos filmes de ação. Também as cenas de luta devem ser destacadas pela excelente coreografia, com violência “ligeiramente excessiva, mas gloriosa”. Por outro lado, a banda sonora nem sempre resulta e há alturas em que a música é demasiado distrativa, em vez de ajudar à imersão no filme.
De grosso modo, Ninguém é um simples clássico de ação repleto de entretenimento e não tenta ser mais do que isso. Não é um filme para se levar demasiado a sério, mas apenas para nos sentarmos e desfrutarmos de cenas de pancadaria à moda antiga durante 92 minutos.