João Nuno, Tomás Alvarenga, Gonçalo Lopes e Francisco Carneiro formam a banda instrumental que já conta com dois discos lançados. Esta sexta-feira, dia 28 de maio, vão lançar o terceiro álbum intitulado Oceano-Mar. Os quatro membros falaram com o ComUM e revelaram o que se pode esperar deste novo trabalho, assim como a história da banda.
ComUM – Como começou OCENPSIEA? O nome por si só é bastante curioso…
Gonçalo Lopes – Nós conhecemo-nos no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, onde estudávamos e OCENPSIEA surgiu lá. Nós ensaiávamos nos fins das aulas e foi assim que surgiu o projeto.
João Nuno – Inicialmente eramos só três, eu, o Tomás e o Gonçalo. Íamos no final das aulas para a sala de percussão tocar às escondidas, porque não nos deixavam. Decidimos que até tínhamos algumas músicas e começamos a pensar em fazer concertos, álbuns, isto e aquilo. Entretanto lançamos o primeiro álbum e lembro-me que, nesse dia, falei com o Francisco e ele disse “ah e isso é muito fixe, mas vocês precisavam de alguém que soubesse produzir” e nós perguntamos se ele queria vir para a banda e ele aceitou. Depois, fizemos outro álbum, o Sabão Rosa, e agora vai sair o terceiro, Oceano-Mar.
ComUM – Vocês tocam um estilo de música diferente ou invulgar, com o qual nem todas as pessoas se identificam. Como é que decidiram envergar por este estilo mais alternativo? E como é que acham que o publico reage à vossa música?
Tomás Alvarenga – Eu acho que foi a junção natural do que nós gostamos de tocar e de ouvir. Foi uma mistura que deu naquilo que fazemos hoje e cada vez mais temos aperfeiçoado e tentamos sempre explorar coisas novas também. Em relação à receção do público, eu acho que, cada vez mais, o público reconhece que estamos a tentar fazer algo diferente e somos apreciados por isso.
Gonçalo Lopes – Acho que é importante acrescentar que a nossa música não se encaixa propriamente em nenhum estilo musical específico ou pré-definido. É uma coisa nova que nós queremos mostrar, e temos um pouco de cada estilo e por isso enquadramo-nos em vários estilos de música por isso abrangemos vários públicos-alvo, não só um.
ComUM – Onde se inspiram na criação das músicas?
Tomás Alvarenga – Naquilo que gostamos de ouvir. E, pelo menos para mim, também em nós mesmos e uns nos outros.
Gonçalo Lopes – Muitas vezes é no ouvir os outros, dá-nos inspiração para arriscarmos mais e fazermos novas coisas.
Francisco Carneiro – Uma das coisas que notamos ao longo dos tempos é que, de certa forma, havia muitos estilos que nos eram próximos aos quatro. Tanto em termos de grupos específicos e mesmo toda a nossa educação musical. Todos passamos pelo mesmo e acabamos por procurar as mesmas coisas fora do que é tradicional e foi algo importante que estava incluído na minha própria decisão de me juntar ao grupo. Também acontece o que disseram, que cada um se inspirava ao outro e isso é uma parte muito grande e importante do nosso processo criativo.
ComUM – Que grupos vos influenciam?
Francisco Carneiro – Essa pergunta até podia ser confidencial. Mas é mesmo muito variado, às vezes até quase que requer muitos dias para uma pessoa pensar quais são os grupos, mas existem vários, tanto portugueses como norte-americanos, um estilo mais jazz.
João Nuno – Não gostamos muito de dizer nomes específicos porque os artistas acabam por nos desiludir, às vezes.
Francisco Carneiro – Exatamente. Há situações que até por compositores teríamos de passar, músicos que tocam só instrumental e etc. É muito difícil, nunca há propriamente só um e se calhar íamos discriminar alguém.
ComUM – Tendo em conta que têm membros espalhados pelo mundo, como é que gerem os ensaios?
Gonçalo Lopes – Ultimamente, a nossa produção musical tem sido feita maioritariamente online e cada um manda ideias aos outros. É um trabalho feito em grupo, onde cada um vai acrescentando as suas ideias e depois quando nos juntamos, que não é assim tantas vezes ultimamente, aprimoramos todos juntos. Mas as ideias iniciais são muitas vezes feitas a partir de casa e é um trabalho constante, às vezes semanal, outras mensal.
João Nuno – O facto de nós termos formação musical mais complexa faz com que não precisemos de assim tantos ensaios. É mais a parte criativa que nos reúne. Nós mandamos áudios uns aos outros, completamos músicas e depois temos ensaios antes de concertos para definir as ordens, porque tocar já conseguimos mais ou menos, não é preciso ensaiar assim tanto.
Francisco Carneiro – Depois tem a parte final, o aprimorar final que fazemos sempre em conjunto para tratar de gravações mais complexas, como por exemplo da bateria. E aí aproveitamos porque há muita coisa que surge e como estamos todos em conjunto é muito mais fácil de atirar ideias do que propriamente à distância e, muitas vezes, aquela pimenta final que falta é feita também aí. É o ponto de exclamação final.
ComUM – O que sentem quando estão num concerto?
Gonçalo Lopes – O que eu sinto é uma coisa muito engraçada. Sinto que, quando estou em palco, é como a primeira vez que fico um pouco nervoso e é uma sensação que gosto de ter nos concertos, o não saber o que estou à espera.
Tomás Alvarenga – Acho que é uma alegria partilhada e uma sensação de confiança uns nos outros. É aquele “estamos na zona”, no momento. Algumas vezes corre melhor, outras pior, mas a parte que gosto mais é quando estamos todos sincronizados através da música e acho que isso transparece para o público. É muito bonito de ver isso e estar no lado de cá é muito recompensador.
João Nuno – Uma emoção que eu sinto muito desde o início dos nossos concertos é querer provar às pessoas que podemos fazer este tipo de música em Portugal, podemos ser um grupo instrumental e ter pessoas no público que gostam de nos ouvir. Normalmente nós chegamos a um sítio e os técnicos de som e quem está lá ficam “ah vêm para aqui estes miúdos, aposto que não sabem tocar nada” e depois começamos os testes de som e eles reconhecem que temos potencial. E também reparamos que as pessoas que vão aos concertos, vão sem saber bem o que esperar, e saem de lá fãs.
Francisco Carneiro- Da minha parte, há uma grande diferença em estar em palco. Eu estava habituado a tocar em situações mais tradicionais como numa orquestra… é um nervosismo diferente. Há uma sensação de muita maior liberdade, mas também de responsabilidade e é uma experiência muito diferente. Nas outras situações é tudo mais acústico e com OCENPSIEA é mais eletrónico, por isso é completamente diferente e mesmo o processo em palco é diferente e mais programático. O sentimento que o João Nuno falava é mesmo isso, acaba por ser sempre positivo, tirando a parte inicial que é sempre um pouco chata, mas é uma boa sensação no fim.
Uma das coisas que reparamos é que temos muitas pessoas que não sabem para o que vão e apanhamos muitas faixas etárias, miúdos e graúdos, sendo que os graúdos já vão preparados para música do século XX e nós não somos algo completamente inesperado, mas somos inesperados no facto de eles gostarem de algo com o qual nunca na vida se identificariam. E nós reparamos nisso, que eles até se identificam facilmente e há uma aproximação entre miúdos e graúdos. Nós próprios fomos muito influenciados pelo que os nossos pais ouviam e é um fenómeno muito engraçado.
ComUM – Vocês vão lançar um novo disco esta sexta-feira, o que se pode esperar?
Francisco Carneiro – É surpresa!
João Nuno – Sem revelar os featurings em si, é um álbum que conta com a presença de amigos nossos, como a Mafalda BS, que nos ajudou a fazer uma música, o Luís Araújo e o Diogo Abreu, que tocam guitarra numa, também temos o Simão Duque no trompete e o Henrique Ramos no vibrafone. Todos estes foram uma grande ajuda para conseguirmos concretizar a nossa visão, já para não falar do PZ, do David Bruno, do José Pedro Coelho e do Gileno Santana, que tiveram um papel crucial.
Tomás Alvarenga – Nós sempre tivemos vontade de ter estes featurings, de acrescentar algo mais à nossa música. Não limitar aos instrumentos, mas tentar acrescentar novos sons e novas ideias e a ideia de ter pessoas de fora esteve sempre presente. Neste álbum conseguimos concretizar isso, com participações muito interessantes, que acho que acrescentaram muito ao álbum. Em relação ao mais geral, é um álbum com muitas coisas diferentes, mas ao mesmo tempo ainda tem a nossa imagem de marca que as pessoas vão reconhecer e que para as pessoas que ainda não nos conhecem pode ser um bom primeiro encontro com a nossa música, uma vez que tem um bocado de tudo.
Gonçalo Lopes – Acho que é álbum que do início ao fim surpreende, até a mim que já ouvi as músicas imensas vezes há sempre pormenores novos.
Francisco Carneiro – O que nós esperamos é ressuscitar um sentimento que desapareceu um pouco, que é mergulhar num álbum, numa personalidade, querer passar por essa viagem num mundo em que as playlists mandam. Não somos contra isso, mas queríamos criar um álbum onde as pessoas sentissem essa vontade de passar por toda a experiência de início ao fim e de repetir. Tentamos fazer algo assertivo, compacto, que realmente tivesse muito conteúdo, mas sem exageros em nenhum sentido. E que as pessoas embarquem connosco neste Oceano-Mar e que fiquem connosco sabe-se lá por quanto tempo.
João Nuno – Uma coisa diferente que fizemos neste álbum é que ao longo do tempo as pessoas vinham até nós a dizer que precisávamos de um vocalista, e neste álbum a maior parte das músicas tem voz. Nós estamos a dar às pessoas o que elas querem. Há inclusive uma música em que cantamos os quatro, e isso é inédito.
Tomás Alvarenga – Vamos dar às pessoas o que elas querem, mas ao mesmo tempo fazer o que nós queremos e gostamos.
João Nuno – Juntamos as peças todas e chegamos ao álbum. Demorou cerca de três anos a ser concretizado, por isso está muito completo e ao mesmo tempo compacto, os 31 minutos. É fácil e bom de ouvir e esperamos que as pessoas ouçam. No fim, acaba de uma forma, pelo menos para mim, que dá vontade de repetir o álbum. Desafiamo-nos a nós próprios, mas mantemos a sonoridade OCENPSIEA.
ComUM – Como viveram e coordenaram a vossa vida artística nestes tempos de pandemia e como veem o futuro?
Gonçalo Lopes – Com a pandemia tivemos que trabalhar um pouco mais online, mas houve um período que não havia aulas e não havia nada, então ajudou-nos a trabalhar neste álbum. O pior para nós foi mesmo a falta de concertos, que podiam ter havido mais, principalmente no último verão, foi realmente uma pena. Em relação ao futuro, estamos mesmo à espera que o álbum saia para mandarmos a algumas pessoas e recebermos convites para concertos. Acho que voltar aos palcos vai ser diferente, são músicas novas, mas não vai ser nada desconfortável, vai ser reconfortante voltar aos palcos e fazer o que nós gostamos.
João Nuno – Nós estamos a planear fazer já o próximo álbum, já tivemos um grande espaço entre o último e este e não queremos que volte a acontecer. Também estamos a planear um dos videoclipes. Mas para já estamos a viver este álbum, depois logo se vê.